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~ domingo, março 31, 2002
 
Mais simples

Álcool e máscaras, você procura sua mãe entre pernas e colos que aceita para só depois hesitar. Cruel, coleciona histórias e descarta pessoas enquanto, doce, chora por Mônicas e Carolinas. Cuidado comigo, eu não presto, me diz, eu também um pouco essa mãe que você tanto busca. Você não presta mas é sempre bom encontrar suas palavras quando eu sou dúvidas e medos.
Como podemos ser ao mesmo tempo tão parecidos e tão diferentes? Somos, os dois, conflitos. Você diz que eu sou pureza e niilismo, mas e você? O que se esconde entre hormônios, razão, drogas, livros, risos, música, empáfia, talento, desprezo? O que te tira o sono?
As pessoas só vêem o personagem, e é por isso que eu te defendo. Seria fácil se você fosse só ele, tão previsível, mas você é também insegurança e culpa. O colo que você procura acha um pouco nas minhas palavras amigas que te redimem. Nós, confusão, buscando coragem e consolo nas palavras um do outro.
E é o tempo todo palavras e ações, em seqüência, nem aqui nem aí existe espaço para o silêncio em nossas vidas e cabeças medrosas que tudo querem racionalizar. Muito melhores que eles todos (tão medíocres), nós sabemos exatamente o que está acontecendo e o que gostaríamos que fosse. Seria perfeito se não fossem os outros.
No meio de tantos pensamentos, estamos eu, você, personagens de um folhetim ridículo. Tão bons quanto perdidos. Eu trocaria tudo isso por um pouco de paz, e você?
~ sexta-feira, março 29, 2002
 
Flashes

A gente teria dado muito certo. Eu achava isso, e é o que eu vejo nos olhares que você me dirige enquanto conversa com ela. É a sua forma de me compensar pelo tempo em que eu falava e você só tinha olhos e pensamentos pra uma outra. Eu não sei ouvir não, lembra? Por isso tudo se perdeu.
Eu fico pensando nisso no táxi, na rádio uma música não tão conhecida da Sade. Já é dia, bebi a noite inteira. Dor-de-cabeça. Um amigo meu está apaixonado, ele estava me contando mais uma vez, mas nem precisava. Ele fica tão bonito quando tá assim, e parece que agora o olhar dela tá igual ao dele.
Não me olha assim, eu não posso resolver os seus problemas. Eu nunca pude. Só podia te dar colo, mas agora nem isso. O tempo não volta atrás. Nem eu.
 
(eu queria agradecer ao Gabriel que disse que o nome do meu blog é o melhor)
~ quarta-feira, março 27, 2002
 
Outono

As últimas semanas não têm sido fáceis. Aquele emprego não rolou. As contas se acumulam, e eu ainda não recebi pelos últimos trabalhos que fiz. E ainda tem a crise, pois é, eu estou em crise existencial e a bagunça se acumula à minha volta assim como dentro de mim. Eu não sei nem por onde começar.
O calor andava insuportável, mas finalmente foi embora. E vieram esses dias, lindos — os melhores, pra mim. Eu, que não sou de acordar cedo à toa (e nesses tempos de desemprego não tenho motivo pra isso mesmo), às vezes espero ficar dia: só de olhar já me dá uma alegria.
São tantos os pensamentos bestas e importantes que se misturam na minha cabeça enquanto eu ando pela rua botando o casaco (eu já tinha me esquecido de que sou meio friorenta), e penso em músicas felizes, de vez em quando cantarolo um trechinho.
O sol brilhando, o céu azul sem nenhuma nuvem, o ar frio batendo no rosto. E morar longe, ter bebido demais, as contas, a casa desarrumada, o emprego que não vem, tudo o que eu queria comprar e não posso, a minha insegurança, as dúvidas existenciais, nada disso importa agora. Porque o dia está lindo, e eu me deito, e você vem me abraçar.
~ terça-feira, março 26, 2002
 
"Gostaria de muito de agradecer a todos os meus amigos, menos dois."
(W.C. Fields, comediante americano)
~ domingo, março 24, 2002
 
Saudades



É muito legal estar apaixonada por alguém ou amar... Mas uma coisa muito importante na minha vida, sempre, são os amigos. Como se diz, eles são a família que a gente escolhe. E é por isso que eu sou muito fresca e embora em geral procure ser educada e simpática com as pessoas, sou meio fechada em relação à minha vida particular (é só ver o meu blog: é ficção, não é um diário, embora eu não tenha nada contra os diários). Não é qualquer um que sabe do que é importante pra mim, não é qualquer um que considero meu amigo.
As relações de amizade são as mais duradouras porque costumam ser muito mais saudáveis. As cobranças são menores (e outras), a comprensão é maior, não existe tanta insegurança nem tantos tabus. Não precisamos fazer jogo com amigos (nem deveríamos fazer com quem amamos...). E não exigimos nem damos exclusividade.
Existem vários tipos de amigos, todos igualmente importantes. Aqueles de quem não nos desgrudamos, com quem falamos freqüentemente. Aqueles que ficamos sem ver por muito tempo e que quando encontramos parece que nada mudou, pois as afinidades continuam ali, intactas. Os amigos com quem dividimos certos assuntos, porque sabemos que só aquela pessoa pode entender o significado de alguma coisa pra gente.
Espero que eu tenha conseguido mostrar a essas pessoas como elas são importantes para mim e como eles fazem a minha vida feliz. Porque felicidade na vida, pra mim, são os pequenos momentos. O resto, embora também seja importante, é conseqüência. Não vou ficar esperando o dia em que vou ser feliz, porque eu já sou.
Eu amo todos vocês.


AGRADECIMENTOS

(Wislawa Szymborska)

Estou em dívida com aqueles
por quem não estou apaixonada.

Devo a eles o alívio de saber
que de outros eles estão mais próximos.

A alegria de não ser
o lobo de seus cordeiros.

A paz vem junto deles, e a liberdade
também, coisas que o amor não sabe dar
ou sustentar por muito tempo.

Eu não os aguardo
correndo da porta para a janela.
Sou paciente como um quadrante solar,
pronta a compreender
aquilo que o amor não compreende,
pronta a perdoar
aquilo que o amor não perdoaria jamais.

De uma carta a um encontro
não se instala uma eternidade,
mas apenas alguns dias comuns, semanas comuns.

Com eles as viagens são bem sucedidas,
os concertos bem escutados,
as catedrais bem visitadas,
as paisagens bem observadas.

E quando terras e oceanos nos separam,
trata-se de oceanos e de terras
bem conhecidos pela geografia.

A estas pessoas devo o fato de viver
num mundo sólido,
num espaço não-lírico e não retórico
dotado de um horizonte real, móvel, como tem que ser.

Ah! eles ignoram com certeza
quantas coisas me trazem em suas mãos vazias.

("Eu não devo nada a essas pessoas"
diria o amor
a esse respeito.)
 
"Noite de amor, menos um livro."
(Balzac)


O que fazer, então? O Rimbaud parou com uma pra se dedicar à outra...
 
Às vezes não tem nada como a sabedoria popular...

"Que tempo bom pra se fazer corno!" – velho bebendo cerveja na porta do boteco embaixo do prédio do JP, observando as senhoritas comprometidas que passam de shortinho em direção à praia.

Roubei do blog da Ciça, que eu leio diariamente. Também leio a coluna dela no site Play.
~ quinta-feira, março 21, 2002
 
Fiz esse texto pro site da Loud!:

Little Quail: ah, os bons tempos...

Quando soube que a reunião de Gabriel Thomaz (vocal e guitarra), Zé Ovo (baixo) e Bacalhau (bateria) para um show do Little Quail na Loud! estava confirmada, mandei emails para alguns conhecidos. A melhor resposta foi a de uma amiga que, junto comigo, não perdia um show da banda: “1994 está de volta! Nossa, vamos combinar. A gente vai de ônibus e só volta de manhã e eu durmo na sua casa.”
Brincadeiras à parte, o show lembrava uma época muito especial. O Little Quail tinha acabado de lançar o disco de estréia, Lírou quêial ên dê méd bards. Era a época das chamadas bandas da Banguela (o finado e saudoso selo de Carlos Eduardo Miranda) e a gente ia ao Humaitá Pra Peixe, ao Circo Voador, ao Super Demo e ao Garage não só o show deles, esperando o dia em que Little Quail, Maskavo Roots, Graforréia Xilarmônica e Mundo Livre, entre outras, fossem estourar, como tinha acontecido com o Raimundos.
Foi só entrar no cinema, no último dia 16, e escutar os primeiros acordes de “Mau mau”, que abriu a noite, pra entrar no clima. Era só olhar para os lados e vê que estava todo mundo lá, na platéia, até mesmo aqueles que já não são presença constante em showzinhos compareceram. “O meu cabelo até cresceu”, comentou Melvin, do Carbona, também emocionado com o show, lembrando de seu visual nos anos 90.
E no palco a coisa não era diferente. Tudo bem que agora os três têm 30 anos e o Zé Ovo é magro, não usa aquele topetinho nem fica piscando por causa do sabão que escorre do topete e faz o olho arder. Mas a empolgação parecia a mesma dos tempos em que a banda ainda existia, com ele e Gabriel fazendo brincadeiras, e o público rindo e cantando junto.
Também, pudera: das 23 músicas, quase todas foram hits entre quem acompanhava o Little Quail. Teve “Família que briga unida permanece unida”, “Essa menina”, “Galera do fundão”, “Azar na W3”, “Dezesseis”, “Me espera um pouco”, “Aquela”, além das costumeiras versões de “Umbabarauma” (Jorge Ben) e “Samba do Arnesto” (Demônios da Garoa), e “Great Balls of Fire” (Jerry Lee Lewis), que eles tocavam em show mas nunca gravaram — e eu, particularmente, não me lembro de ter visto em nenhum show aqui no Rio.
Apesar da galera estar animadíssima, dançar e cantar em todas as músicas, foi em “1, 2, 3, 4” que eu me surpreendi. Quando vi que era a hora do hit-mor do Little Quail, cheguei para o lado, me escondendo atrás de uma poltrona, temendo ficar no meio de uma roda. Mas a música começou e... não teve roda. Estávamos todos ali — todos fãs da banda, que acreditavam no underground, que sonhavam em ver as bandas do coração estourando — cantando junto a letra inesquecível, mas nenhum movimento diferente. Concluí, melancólica, que estamos envelhecendo.
Apesar disso, o show, com certeza, foi inesquecível para todos que estavam ali. Foi bom poder matar a saudade das músicas (o Gabriel definitivamente sabe compor hits) e pensar que, mesmo com o fim de uma banda tão querida, não há motivo para lamentar, pois acabamos ganhando o Autoramas (do Gabriel), o Rumbora (que o Bacalhau formou e de onde saiu depois) e uma nova fase do Defalla, que agora conta com o ex-baterista do Little Quail.
~ terça-feira, março 19, 2002
 
Somebody else's dream

You know the reason why some nights
you don't have a dream?
When there is just blackness?
And total silence?

Well, this is the reason:
It's because on that night
you are in somebody else's dream.
And this is the reason you can't be in your own dream
because
you're already busy
in somebody else's dream.
(Laurie Anderson)


Uma sensação de déjà-vu que quase se consuma na mesa, depois no chão. Eu sei que é uma peça, eu que escrevi, mas eles agem como se não fosse. Meu tio diz que não confiava mas achou muito bom. Eu escrevi? Não lembro, isso é a maior cópia daquela escritora. Paciência.
Parece que acabou. Todo mundo sumiu, o palco está escuro. Chego no ponto de ônibus e eles estão lá. Quem me abraçava e venerava minutos antes não gosta de me ver e age como se eu fosse indesejável ali. Eles começam a tocar alto (é uma fanfarra) e gritar, e eu rio porque sei que é uma peça, a minha peça, e não entendo porque eles fingem que não é.
Vêm as duas mulheres esquisitas, eu sinto um perigo nelas e uma delas me puxa pelo braço e sussura no ouvido (eu sinto o hálito dela como se fosse agora) fica tranqüila, depois você nem vai lembrar do que aconteceu. Fico me concentrando para lembrar e de repente ela pega a arma que parece de brinquedo e dispara um raio roxo na minha têmpora, e eu sinto um leve choque na cabeça. Enquanto isso ela diz ih, uma cadeira, e eu estou sozinha numa espécie de divã, e está tudo escuro. Me viro para acender a luz e estou no meu quarto, tentando lembrar de tudo o que acabou de acontecer.
Ligo pra ele, o do sonho, e a voz do outro lado me diz nem sei se ele vem hoje.
~ segunda-feira, março 18, 2002
 
Porque eu tenho amigos chiques...

"Os versos têm de ser escritos de modo que, quando o poema for atirado contra uma janela, o vidro se espatife."

(Danil Kharms, escritor russo, morto em 1942, de fome e louco num campo de presos)
 
Dream a little dream of me

O Caetano Veloso gravou uma música do Peninha há alguns anos e ficou lindo. Ela me lembra dois amigos meus (que nem se conhecem), o Carlito e a Ju Morená.
Outro dia eu tava vendo TV com a minha avó e vi que essa música tá na trilha da novela das sete da Globo. Não sei quem desenterrou, mas mandou muito bem.
Tentei achar link pra música em algum site e não consegui. Deve ter pra baixar no Audio Galaxy, Morpheus e afins.

Sonhos
(Peninha)

Tudo era apenas uma brincadeira
E foi crescendo, crescendo
Me absorvendo
E de repente
Eu me vi assim completamente seu
Vi a minha força amarrada no seu passo
Vi que sem você não tem caminho
Eu não me acho
Vi um grande amor gritar dentro de mim
Como eu sonhei um dia

Quando o meu mundo era mais mundo
E todo mundo admitia
Uma mudança muito estranha
Mais pureza, mais carinho, mais calma, mais alegria
No meu jeito de me dar
Quando a canção se fez mais clara e mais sentida
Quando a poesia realmente fez folia em minha vida
Você veio me falar dessa paixão
Inesperada por outra pessoa

Mas não tem revolta não
Só quero que você encontre
Ter saudade até que é bom
É melhor que caminhar vazio
A esperança é um dom
Que eu tenho em mim
Eu tenho sim
Não tem desespero não
Você me ensinou milhões de coisas
Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz

Quando o meu mundo era mais mundo...
~ sexta-feira, março 15, 2002
 
"Um editor de jornal é alguém que separa o trigo do joio — e imprime o joio."

(Adlain Stevenson)
~ quinta-feira, março 14, 2002
 
A ESPERA

As mãos entrelaçadas sem firmeza, os olhares fixos no sol que nascia no mar nem de longe lembravam a noite anterior, de respirações ofegantes, suores, risos e conversas infinitas. Sem dizer nada, os dois, sentados lado a lado na areia, apenas contemplavam o quadro que se modificava a cada instante diante de seus olhos.
Às vezes se olhavam, e sorriam, mas o ar preocupado permanecia em seus rostos. Algumas horas mais tarde iriam se separar, e um novo encontro sabe-se lá quando aconteceria — pois se o que sentiam fazia grande a distância entre as duas cidades, havia algo que a tornava ainda maior. Em breve voltariam para casa, cada um para a sua, e aquele momento se perderia, como tantos outros parecidos que haviam vivido juntos.
Ela suspirou. Ele perguntou o que era, embora já soubesse. Perguntou porque gostava de ouvir o que já sabia, e ela gostava disso nele. E por isso disse o que tinha que dizer, e ele concordou, como era de se esperar.
Casado há alguns anos — ela jamais perguntara quantos —, ele começava a pensar em ter um filho. Havia passado por tanta coisa e se orgulhava de estar sempre firme ao lado da mulher. Ela, poucos anos mais nova, casara-se recentemente com o namorado de algum tempo e tinha muitos planos. Eram felizes em seus casamentos.
Mas também se amavam. Juntos, compartilhavam momentos e pequenos segredos que só eles podiam entender. E a cada encontro a saudade parecia doer mais.
~ terça-feira, março 12, 2002
 
Parce que moi je rêve



Difícil escolher o melhor filme de todos, né? Bem, há quem diga que é Cidadão Kane. Não sei. O filme é maravilhoso mesmo, mas pra mim não dá pra escolher simplesmente o melhor. São muitos os filmes maravilhosos. Incontáveis. Me lembra até aquela história do menino que, ao ver o mar pela primeira vez, pediu: "Me ajuda a olhar!"
Então eu acredito que não existe o melhor filme, mas talvez o filme com o qual a gente mais se identifica. Eu, particularmente, me identifico com vários, mas tem um filme que me marcou profundamente e que, até hoje, tantos filmes depois, eu não consigo esquecer: Léolo: porque eu sonho.
Esse filme, do canadense Jean-Claude Lauzon, foi lançado em 1992. Conta a história de um garoto de 12 anos que escreve, sua relação com a (no mínimo) confusa família, a musa distante e um conhecido que percebe o talento do garoto. Léolo escreve e joga tudo fora depois, mas o tal conhecido recupera os textos no lixo.
E por que eu acho esse filme tão bom assim? Pra começar, ele é contado em primeira pessoa. A história não é contada objetivamente, não é a verdade absoluta, mas a visão de um dos personagens, que participa dela. O filme tem humor, sensibilidade e drama, mexe com as emoções de quem assiste sem apelar. É um filme de medos, inseguranças, e, principalmente, sonhos. Um garoto que, pra não enlouquecer com a realidade louca que está à volta, cria em sua imaginação um mundo paralelo.
Mas a imaginação não salva simplesmente: ele pode criar monstros, e o medo pode ser tão grande a ponto de nos impedir de ver o óbvio, de suplantar a realidade (para quem for ver, é a cena do irmão de Léo já mais velho encontrando o ladrão de sua bicicleta na adolescência; é das que mais me chocaram no filme).
O mundo imaginário é sempre um risco de nunca mais se voltar à realidade. A linha que separa o sonho do escapismo puro é muito frágil. E determiná-la é certamente muito difícil.
~ domingo, março 10, 2002
 
Come on

Ah, eu também adoro Afghan Whigs. Eu era grunge. E essa música é linda.


66
(Dulli)

You walked in
Just like smoke
With a little come on, come on, come on
In your walk
Well, come on
I've been waitin'
Are you waitin?
For my move, well I'm makin' it

So tell me baby, can you shake it?
If I can move it with ya
Will you let me take it?
I'll be down on my knees
Screamin' take me, take me, take me, take me
I'm yours
I've never felt so out of control
You don't even know what you're doin' to me
Come on and do it to me
Don'tcha stop

Come on, come on
Come on little rabbit
Show me where you got it
'Cuz I know you got a habit
 
Para onde vão as palavras nunca ditas, os pensamentos nunca concretizados, as ações nunca realizadas? Existe um lugar, uma espécie de limbo para tudo isso?

Talvez seja aqui, agora...

Desculpe, eu não sei o que fazer.
 
My aim is true



Na sexta-feira, a Dominique falou que andava baixando muitas músicas do Elvis Costello. Eu achei coincidência não só porque adoro e vivo baixando músicas dele, mas também porque ela falou nessa música aí embaixo, que eu acho linda (também teve outra coincidência sexta, mas eu não vou falar, porque isso aqui não é diário e porque nenhum homem pra quem a gente contou entendeu).
Baixem músicas do Elvis Costello. Sempre.


I'll Never Fall In Love Again
(Burt Bacharach/Hal David)

What do you get when you fall in love?
A guy with a pin to burst your bubble
That's what you get for all your trouble
I'll never fall in love again
I'll never fall in love again

What do you get when you kiss a girl
You get enough germs to catch pneumonia
After you do, she'll never phone you
I'll never fall in love again
I'll never fall in love again

Don't tell me what it's all about
'Cause I've been there and I'm glad I'm out
Out of those chains those chains that bind you
That is why I'm here to remind you

What do you get when you give your heart
You get it all broken up and battered
That's what you get, a heart that's shattered
I'll never fall in love again
I'll never fall in love again

Out of those chains those chains that bind you
That is why I'm here to remind you

What do you get when you fall in love?
You only get lies and pain and sorrow
So for at least until tomorrow
I'll never fall in love again
I'll never fall in love again

I'll never fall in love again
I'll never fall in love again
~ terça-feira, março 05, 2002
 
Receita

Eu queria te dizer que o que eu ando lendo é muito bom, queria falar do impacto que causa em mim. Mas eu não vou.
Já é tarde. Ponho o azeite, misturo a cebola, o sal, o alho e a salsa. Fico imaginando diálogos que nunca vão acontecer, me vejo te dizendo coisas que eu nunca vou dizer.
Agora o tomate, e em seguida o frango. Posso aumentar o fogo, mas só por pouco tempo. Tenho que ter cuidado para não queimar. Mexendo sempre. Penso um pouco na minha amiga, e no quanto eu quero que as coisas sejam boas pra ela a partir de amanhã.
Você nem imagina que isso é sobre você, né? Será que alguém, alguma vez, já leu alguma coisa minha e pensou "é sobre mim"? Eu tenho medo de que isso aconteça, e por isso sempre misturo ficção com realidade, coloco características de várias pessoas num personagem só. Quando escrevo, eu digo aos meus personagens imaginários coisas que não tenho coragem de te dizer.
Mas, no fundo, eu gostaria que alguém se reconhecesse e que isso causasse alguma reação. Agora, eu gostaria que você se reconhecesse e isso fosse bom.
Abaixo o fogo de novo, coloco as alcaparras (poucas, só pra dar o gosto) e o queijo. Pena que não tem cogumelo em casa. O creme de leite no final. Com o fogo baixo a comida demora um pouco mais a ficar pronta, mas antes esperar mais do que estragar tudo o que eu fiz. Eu queria precisar só ter paciência quando estou cozinhando, mas as coisas muitas vezes não saem como eu imagino.
O prato que eu esperei pra ficar pronto, devoro quase sem respirar. São tantas as coisas que eu queria ter coragem de fazer sem pensar, sem respirar. Mas eu não vou tentar. Eu tenho medo.
Será que você vai ler isso?
 
Superpoderes

Será que todas as crianças eram assim? Bem, eu vivia numa espécie de realidade paralela (o que explica muito da minha vida hoje, aliás). Vivia sonhando acordada, o que me rendeu a fama de desligada, da qual nunca mais me desvencilhei. Mas eu não era desligada: ao mesmo tempo em que estava atenta ao que se passava à minha volta (ainda lembro, com detalhes, de coisas que aconteciam), ficava imaginando situações, o tempo todo.
Eu queria ser tantas coisas. Sonhava, por exemplo, que eu era um gênio. É, daqueles que espantam um mundo com grandes feitos. Um dia iam descobrir a magnitude da minha inteligência privilegiada e eu ia aparecer no Fantástico, minha mãe dizendo Ela leva uma vida normal como a de todas as outras crianças da idade, comentários de especialistas, aquilo tudo. Mas esse dia não chegou.
Também sonhava em voar. Aliás, literalmente sonhava: quantas eram as vezes em que eu me via voando, nadando no espaço até chegar ao teto, ainda lembro do cansaço que era para me manter lá em cima, e a decepção toda vez que eu acordava.
Outro desejo era ser invisível. Nos sonhos e fora deles. Já pensou? Entrar e sair de qualquer lugar sem ser notada, conseguir tudo o que quisesse, dinheiro, roupas, jóias, ninguém nunca ia saber (será que Deus estava me vendo pensar nessas coisas?). Dos super heróis, o meu preferido era a Mulher Maravilha, claro. Ela ficava invisível, lembra?
Os anos se passaram e eu fico rindo desses meus sonhos. Mas o mais engraçado é que eu consegui realizar um deles: ficar invisível. É, eu consigo entrar e sair dos lugares sem ser notada. Pena que não seja eu quem escolhe quando e por quem.

 

Lay-out por Davi Ferreira