Outono
As últimas semanas não têm sido fáceis. Aquele emprego não rolou. As contas se acumulam, e eu ainda não recebi pelos últimos trabalhos que fiz. E ainda tem a crise, pois é, eu estou em crise existencial e a bagunça se acumula à minha volta assim como dentro de mim. Eu não sei nem por onde começar.
O calor andava insuportável, mas finalmente foi embora. E vieram esses dias, lindos — os melhores, pra mim. Eu, que não sou de acordar cedo à toa (e nesses tempos de desemprego não tenho motivo pra isso mesmo), às vezes espero ficar dia: só de olhar já me dá uma alegria.
São tantos os pensamentos bestas e importantes que se misturam na minha cabeça enquanto eu ando pela rua botando o casaco (eu já tinha me esquecido de que sou meio friorenta), e penso em músicas felizes, de vez em quando cantarolo um trechinho.
O sol brilhando, o céu azul sem nenhuma nuvem, o ar frio batendo no rosto. E morar longe, ter bebido demais, as contas, a casa desarrumada, o emprego que não vem, tudo o que eu queria comprar e não posso, a minha insegurança, as dúvidas existenciais, nada disso importa agora. Porque o dia está lindo, e eu me deito, e você vem me abraçar.