Fiz esse texto pro site da
Loud!:
Little Quail: ah, os bons tempos...
Quando soube que a reunião de Gabriel Thomaz (vocal e guitarra), Zé Ovo (baixo) e Bacalhau (bateria) para um show do Little Quail na Loud! estava confirmada, mandei emails para alguns conhecidos. A melhor resposta foi a de uma amiga que, junto comigo, não perdia um show da banda: “1994 está de volta! Nossa, vamos combinar. A gente vai de ônibus e só volta de manhã e eu durmo na sua casa.”
Brincadeiras à parte, o show lembrava uma época muito especial. O Little Quail tinha acabado de lançar o disco de estréia, Lírou quêial ên dê méd bards. Era a época das chamadas bandas da Banguela (o finado e saudoso selo de Carlos Eduardo Miranda) e a gente ia ao Humaitá Pra Peixe, ao Circo Voador, ao Super Demo e ao Garage não só o show deles, esperando o dia em que Little Quail, Maskavo Roots, Graforréia Xilarmônica e Mundo Livre, entre outras, fossem estourar, como tinha acontecido com o Raimundos.
Foi só entrar no cinema, no último dia 16, e escutar os primeiros acordes de “Mau mau”, que abriu a noite, pra entrar no clima. Era só olhar para os lados e vê que estava todo mundo lá, na platéia, até mesmo aqueles que já não são presença constante em showzinhos compareceram. “O meu cabelo até cresceu”, comentou Melvin, do Carbona, também emocionado com o show, lembrando de seu visual nos anos 90.
E no palco a coisa não era diferente. Tudo bem que agora os três têm 30 anos e o Zé Ovo é magro, não usa aquele topetinho nem fica piscando por causa do sabão que escorre do topete e faz o olho arder. Mas a empolgação parecia a mesma dos tempos em que a banda ainda existia, com ele e Gabriel fazendo brincadeiras, e o público rindo e cantando junto.
Também, pudera: das 23 músicas, quase todas foram hits entre quem acompanhava o Little Quail. Teve “Família que briga unida permanece unida”, “Essa menina”, “Galera do fundão”, “Azar na W3”, “Dezesseis”, “Me espera um pouco”, “Aquela”, além das costumeiras versões de “Umbabarauma” (Jorge Ben) e “Samba do Arnesto” (Demônios da Garoa), e “Great Balls of Fire” (Jerry Lee Lewis), que eles tocavam em show mas nunca gravaram — e eu, particularmente, não me lembro de ter visto em nenhum show aqui no Rio.
Apesar da galera estar animadíssima, dançar e cantar em todas as músicas, foi em “1, 2, 3, 4” que eu me surpreendi. Quando vi que era a hora do hit-mor do Little Quail, cheguei para o lado, me escondendo atrás de uma poltrona, temendo ficar no meio de uma roda. Mas a música começou e... não teve roda. Estávamos todos ali — todos fãs da banda, que acreditavam no underground, que sonhavam em ver as bandas do coração estourando — cantando junto a letra inesquecível, mas nenhum movimento diferente. Concluí, melancólica, que estamos envelhecendo.
Apesar disso, o show, com certeza, foi inesquecível para todos que estavam ali. Foi bom poder matar a saudade das músicas (o Gabriel definitivamente sabe compor hits) e pensar que, mesmo com o fim de uma banda tão querida, não há motivo para lamentar, pois acabamos ganhando o Autoramas (do Gabriel), o Rumbora (que o Bacalhau formou e de onde saiu depois) e uma nova fase do Defalla, que agora conta com o ex-baterista do Little Quail.