Parce que moi je rêve
Difícil escolher o melhor filme de todos, né? Bem, há quem diga que é
Cidadão Kane. Não sei. O filme é maravilhoso mesmo, mas pra mim não dá pra escolher simplesmente o melhor. São muitos os filmes maravilhosos. Incontáveis. Me lembra até aquela história do menino que, ao ver o mar pela primeira vez, pediu: "Me ajuda a olhar!"
Então eu acredito que não existe o melhor filme, mas talvez o filme com o qual a gente mais se identifica. Eu, particularmente, me identifico com vários, mas tem um filme que me marcou profundamente e que, até hoje, tantos filmes depois, eu não consigo esquecer:
Léolo: porque eu sonho.
Esse filme, do canadense Jean-Claude Lauzon, foi lançado em 1992. Conta a história de um garoto de 12 anos que escreve, sua relação com a (no mínimo) confusa família, a musa distante e um conhecido que percebe o talento do garoto. Léolo escreve e joga tudo fora depois, mas o tal conhecido recupera os textos no lixo.
E por que eu acho esse filme tão bom assim? Pra começar, ele é contado em primeira pessoa. A história não é contada
objetivamente, não é a verdade absoluta, mas a visão de um dos personagens, que participa dela. O filme tem humor, sensibilidade e drama, mexe com as emoções de quem assiste sem apelar. É um filme de medos, inseguranças, e, principalmente, sonhos. Um garoto que, pra não enlouquecer com a realidade louca que está à volta, cria em sua imaginação um mundo paralelo.
Mas a imaginação não salva simplesmente: ele pode criar monstros, e o medo pode ser tão grande a ponto de nos impedir de ver o óbvio, de suplantar a realidade (para quem for ver, é a cena do irmão de Léo já mais velho encontrando o ladrão de sua bicicleta na adolescência; é das que mais me chocaram no filme).
O mundo imaginário é sempre um risco de nunca mais se voltar à realidade. A linha que separa o sonho do escapismo puro é muito frágil. E determiná-la é certamente muito difícil.