Superpoderes
Será que todas as crianças eram assim? Bem, eu vivia numa espécie de realidade paralela (o que explica muito da minha vida hoje, aliás). Vivia sonhando acordada, o que me rendeu a fama de desligada, da qual nunca mais me desvencilhei. Mas eu não era desligada: ao mesmo tempo em que estava atenta ao que se passava à minha volta (ainda lembro, com detalhes, de coisas que aconteciam), ficava imaginando situações, o tempo todo.
Eu queria ser tantas coisas. Sonhava, por exemplo, que eu era um gênio. É, daqueles que espantam um mundo com grandes feitos. Um dia iam descobrir a magnitude da minha inteligência privilegiada e eu ia aparecer no Fantástico, minha mãe dizendo Ela leva uma vida normal como a de todas as outras crianças da idade, comentários de especialistas, aquilo tudo. Mas esse dia não chegou.
Também sonhava em voar. Aliás, literalmente sonhava: quantas eram as vezes em que eu me via voando, nadando no espaço até chegar ao teto, ainda lembro do cansaço que era para me manter lá em cima, e a decepção toda vez que eu acordava.
Outro desejo era ser invisível. Nos sonhos e fora deles. Já pensou? Entrar e sair de qualquer lugar sem ser notada, conseguir tudo o que quisesse, dinheiro, roupas, jóias, ninguém nunca ia saber (será que Deus estava me vendo pensar nessas coisas?). Dos super heróis, o meu preferido era a Mulher Maravilha, claro. Ela ficava invisível, lembra?
Os anos se passaram e eu fico rindo desses meus sonhos. Mas o mais engraçado é que eu consegui realizar um deles: ficar invisível. É, eu consigo entrar e sair dos lugares sem ser notada. Pena que não seja eu quem escolhe quando e por quem.