A ESPERA
As mãos entrelaçadas sem firmeza, os olhares fixos no sol que nascia no mar nem de longe lembravam a noite anterior, de respirações ofegantes, suores, risos e conversas infinitas. Sem dizer nada, os dois, sentados lado a lado na areia, apenas contemplavam o quadro que se modificava a cada instante diante de seus olhos.
Às vezes se olhavam, e sorriam, mas o ar preocupado permanecia em seus rostos. Algumas horas mais tarde iriam se separar, e um novo encontro sabe-se lá quando aconteceria — pois se o que sentiam fazia grande a distância entre as duas cidades, havia algo que a tornava ainda maior. Em breve voltariam para casa, cada um para a sua, e aquele momento se perderia, como tantos outros parecidos que haviam vivido juntos.
Ela suspirou. Ele perguntou o que era, embora já soubesse. Perguntou porque gostava de ouvir o que já sabia, e ela gostava disso nele. E por isso disse o que tinha que dizer, e ele concordou, como era de se esperar.
Casado há alguns anos — ela jamais perguntara quantos —, ele começava a pensar em ter um filho. Havia passado por tanta coisa e se orgulhava de estar sempre firme ao lado da mulher. Ela, poucos anos mais nova, casara-se recentemente com o namorado de algum tempo e tinha muitos planos. Eram felizes em seus casamentos.
Mas também se amavam. Juntos, compartilhavam momentos e pequenos segredos que só eles podiam entender. E a cada encontro a saudade parecia doer mais.