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~ sábado, junho 29, 2002
 
Mesmo essa cidade que eu acho estranha mas adoro resolveu me receber com carinho e o frio não está tão frio nem o céu tão cinza. Eu gostaria de saber por que mesmo com as pessoas, os lugares, as músicas e tudo de bom que eu tenho visto, ouvido e sentido por aqui não me impede de pensar em você nem de sentir um aperto no peito pela distância. Estou com saudades. Sempre estou.

Eu te dou tantos motivos para voltar, mas o motivo verdadeiro é que eu quero ter você por perto. Vem?
 
Perdão, Jorge. Já que deixei o Ben é samba bom e o África Brasil que comprei semana passada em casa, ando ouvindo Ottinho (como diz a Ciça) no repeat.
Mas o meu coração continua sendo seu.
~ quinta-feira, junho 27, 2002
 
Quase um passante

Os copos e as garrafas vazias sobre a mesa. As pessoas que conversam, riem, olham quem passa. O pensamento distante. Não sei se é o álcool, o cansaço ou as duas coisas juntas, mas eu me peguei tendo um pensamento bobo, que agora não me sai da cabeça. Nos falamos por apenas um instante e eu não consigo esquecer. Os olhos verdes quase cansados que me olhavam de cima. O sorriso simpático. A voz bonita. A roupa. Tudo perfeito.
Eu quis fazer aquele instante durar a noite inteira. Quis ser a mais bonita, a mais interessante, me tornar inesquecível. Disse meu nome com cuidado quando você perguntou, e te fiz repetir pra não esquecer – não sei se funcionou. Talvez o efeito tenha sido contrário, porque quem não esqueceu mais fui eu. Não sei quando vamos nos ver novamente, nem se você vai lembrar de mim. Mas se eu conseguir ganhar outro sorriso seu, vai ter valido a pena.
~ terça-feira, junho 25, 2002
 
Nesse momento não importam todas as palavras do mundo. Eu gostaria de poder descrever o que estou sentindo. Eu gostaria de me tornar palavra para te dizer o quanto é curioso o que eu sinto diante da situação em que estamos nos vendo mais uma vez.
Não sinto nem vou sentir aperto no peito. Eu acredito que vamos nos encontrar de novo. Por enquanto, ficamos à mercê dos caprichos do acaso, ou da vida, ou do que quer que seja. Mas podemos mudar, se quisermos.
Eu quero.
 
Traição

Nenhuma lágrima. Nem uma sequer pra contar história. Bem que eu gostaria, até. Chorar alivia. Mas acho que desaprendi a chorar com o tempo. Com a vida. Já chorei tanto que banalizou. Perdeu o sentido. E foi por isso que simplesmente não disse nem fiz nada.
Mas não faz diferença. A angústia no estômago. O embargo na garganta. O pensamento fixo. Nada disso mudou, foi como sempre, e, mais uma vez, foi uma dor única. Não importam todas as teorias que eu possa fazer sobre o assunto. Não adianta racionalizar. O que eu senti era inevitável.
Eu simplesmente não podia conceber. Me deitava à noite, ou já quase de manhã, e quando acordava por alguns instantes ainda tinha a esperança de que tudo o que aconteceu não passava de um pesadelo, mais um entre tantos sonhos tão reais que eu chego a confundir com o que realmente aconteceu. Mas logo me vinham todas as lembranças de alguns dias atrás, e mais uma vez dor, angústia no estômago, embargo na garganta, pensamento fixo. Por algum tempo isso ocupou grande parte dos meus dias e minhas noites.
Durante esse tempo, eu quis encontrar os porquês, quis entender onde errei, quis saber o que poderia fazer pra consertar as coisas. Mas não existem porquês, assim como não há o que consertar. E, se houve alguma culpa, ela certamente não foi minha.
Porque eu sempre estive de braços e coração abertos e todas as boas intenções do mundo esperando por você. Se esperei em vez de tentar algum movimento, foi por medo. Se errei, foi sem querer. E estaria disposta a pedir desculpas, sempre. Estaria disposta a não errar de novo. Estaria disposta a lutar por nós dois. Ao contrário de você.
~ segunda-feira, junho 24, 2002
 
Glamourama

Você pode até não ter ouvido falar deles, mas é tudo uma questão de tempo. O Glamourama chegou no underground causando sensação, com os fãs cantando as músicas em coro já no segundo show da banda e virando notícia em sites e jornais.

O som é o velho e bom rock'n roll, com canastrice e charme glam na medida certa. Calcinhas e sutiãs voam no palco em homenagem à profusão de plumas e purpurina que os rapazes, que se dizem "os últimos heterosexuais sensíveis da cidade" (sei), carregam em seu arsenal glam.



A banda é Johnny Queer (guitarra e vocal), Myself Deluxe (baixo) e Jazzmo Starlust (guitarra e vocal), os três na foto acima (da esquerda para a direita), mais Marvel Angelous (vocal) e Sid Licious (bateria). Se você não reconheceu os nomes, é porque eles são na verdade os pseudônimos de JP (Netunos), Marcelo Caldas (ex-Farpa), Carlos Jazzmo (ex-Los Hermanos), Márvio dos Anjos (ex-Farpa) e Cid Boechat (Netunos).

O próximo show é dia 9 de julho no Far Up, na Cobal do Humaitá, abrindo para o maravilhoso Casino, da maravilhosa Cecília.
 
Campanha

Todo mundo escrevendo pro JP e pedindo pra ele publicar textos novos no Folhetim Bizarro. Ah, diz pra ele que não precisa ser a coisa mais genial do mundo. Só precisa ser bom como os outros.
 
Eu fiz esse texto aqui pro Bandit, não sei quando (ou se) vai sair. O tema era "essência e transformação".

O que era e o que ainda é

De olhar já se percebe que você está diferente. Muita coisa mudou desde a última vez em que eu ouvi o mar daquela varanda e eu sei que tudo o que eu sei é muito pouco do que aconteceu na sua vida. Eu também mudei. Algumas coisas você certamente notou, mas eu queria que você pudesse perceber mais profundamente.
O que mudou foram algumas coisas que eu busquei pra me tornar alguém mais feliz. Pra começar, passei a confiar mais em mim. Eu tenho defeitos, erro muitas vezes, mas quem não erra? O mais importante é aprender pra não repetir os mesmo erros, não é?
Tenho evitado, cada vez mais, julgar os outros. É muito fácil condenar o comportamento de alguém quando não se está no lugar da pessoa. E a gente nunca está. Eu não gosto de dizer nunca, você sabe, mas é claro que tenho alguns princípios e tenho sido fiel a eles.
Também passei a desejar coisas mais prováveis; eu até poderia dizer possíveis. Não acredito mais que um dia vou encontrar a felicidade plena. Acredito em momentos felizes e outros não, sempre se alternando. Passei a dar mais valor aos pequenos momentos: é neles que está a maior parte da felicidade que eu tenho na vida, e é principalmente deles que eu me lembro quando penso em nós dois.
Quanto ao amor, não acredito mais em amor eterno. Isso é uma invenção do romantismo, e quando a gente vê já está tão entranhada desses valores que nem se dá conta de como é absurdo o que está desejando. E é por isso que agora eu sei que você foi, sim, o amor da minha vida, e que outros amores da minha vida surgirão, com princípio, meio e fim. Não é porque acabou que deu errado: assim são as coisas, não existe o eterno.
Como você pode ver, eu estou muito diferente. Mas continuo sendo esse conflito entre razão e sentimento. E sei que, quando o amor vier de novo, eu vou esquecer tudo em que acredito e mais uma vez vou querer que dessa vez seja diferente, e mais uma vez vou querer que seja pra sempre.
 
O leão e a ovelha poderão dormir juntos, mas a ovelha não conseguirá pegar no sono.

Woody Allen, no livro Sem plumas.
~ quinta-feira, junho 20, 2002
 
As unhas que você cortou do lado da cama. O sangue no lençol não saiu quando eu lavei: você sujou quando machucou a mão e não limpou na hora. A mancha da toalha molhada que você pendurou na porta do armário. O jeito de falar enquanto eu lia, que não deixava eu me concentrar. O bom humor e a a fala incessante pela manhã, que me irritavam profundamente. As piadas no meio de uma discussão séria. O silêncio quando eu te pedia pra falar comigo.

Sinto saudade dos seus defeitos.
 
Apenas um engano. Algumas palavras não ditas, e depois o medo, e a culpa, e de novo o medo. Todo mundo pôde perceber o que não foi dito mas está aí. Menos você. Porque você é como se fosse mulher, e como se fosse uma de nós, precisa mais das palavras do que de qualquer gesto. Um cego com os ouvidos atentos, à espera das palavras tantas vezes ouvidas na sua imaginação.
Se fosse fácil, eu te diria o que tinha que ser dito. Se fosse homem, você saberia ouvir, mas, tal qual mulher, você não quer mais. Você já tem todas as respostas para as perguntas que nunca fez, e também para as que fez mas não esperou para escutar. É muito cedo ainda e pra você já é tarde demais, e eu precisaria de me armar toda a paciência do mundo pra te fazer entender o óbvio.
Mas eu não vou mais tentar me fazer entender. Não vou mais me esforçar. Não vou mais me lamentar nem sentir culpa. Não vou chorar. Não vou esperar. Não vou beber com medo do que posso encontrar. Não vou te olhar com ternura. Foda-se.
~ quarta-feira, junho 19, 2002
 
Acordei com a sua voz sussurrando no meu ouvido, eu pude sentir o seu hálito em mim. Abri os olhos, não tinha ninguém. Fui olhar no corredor: nada. Mas eu tenho certeza. Eu ouvi. Ou será que eu estava sonhando? Não, eu não estava, eu não sei mais, mas até poucos minutos atrás eu tinha certeza de que não estava.
Estou chorando. Se você não estava aqui, então quem foi? Se não era você, o que era? Um espírito? Estou com medo, não quero dormir de novo.
Neste momento eu queria te ligar, mas eu não posso, nós combinamos, ficar separados, respeitar o espaço um do outro, é melhor pra nós dois, claro, a relação estava desgastada, é por amor que temos que fazer isso, um dia eu ainda vou ver.
Acho que me desacostumei a ficar sozinha.
~ terça-feira, junho 18, 2002
 
Eu queria que o meu abraço pudesse te livrar de todas as dores do mundo.
 
Uma tarde um pouco fria

Eu poderia passar horas e horas te contemplando e é isso que eu faço, embora fale compulsivamente. Por dentro, estou guardando para sempre pequenas coisas de você: a pequena cicatriz na sobrancelha, o jeito de tirar os óculos, as coisas feitas com a mão esquerda – eu te digo sempre que adoro canhotos –, a voz num tom mais agudo enquanto fala comigo, o riso com a boca e os olhos, os brincos que eu adoro, o anel na mão esquerda, o olhar de atenção enquanto eu falo. Se eu falo muito é porque tenho ânsia de dividir com você tudo o que me interessa, tudo o que eu sou.
Quando estou em silêncio, eu falo com os olhos, a boca, o corpo inteiro e o que mais existir. Falo completamente. É como se eu dissesse que você pode confiar em mim, e eu estou dizendo. Também estou dizendo coisas que não consigo expressar com palavras, porque talvez ainda não tenham inventado palavras para expressar esses sentimentos. Que depois do que estamos vivendo, eu não vou ser mais como era antes. Nem você. E isso é muito bom.
 
In sh'Allah

"Ser jogada no vento é melhor do que ser jogada na parede", diz um amigo. É, se eu for olhar tudo por essa perspectiva...
~ segunda-feira, junho 17, 2002
 
Eu conheci o Bicycle Thief pela Clarah, que me emprestou o ótimo cd You come and go like a pop song (e eu não gravei, snif). A minha música preferida do disco é essa aqui, linda:

off street parking


well look at you
you're walking down the street
and you are finally free
but you're crying

and look at me
i got what i wanted
i am free now
not drowing

but something feels wrong
something feels terribly wrong
i feel horrible
i got what i wanted though

i can go golfing now
whenever i want
i can talk to girls
and probably won't

and you can stay with your friends
tell them what an asshole i am
they already believe that
and now i deserve it

cause something feels wrong...

and a house is not a home
even with a view and hardwood floor
and all that talking
and that not talking

well a house is not a home
when two aren't two
they're one and one
one and one is nothing

you called to say
you wanna come and get your stuff
you just wanna make sure
that i am not here

well i can't believe
i can't believe you're being so strong
'cause it feels like if i
start crying i'll die

something's just wrong...

years from now
maybe outside a movie
you'll be with somebody new
i'll be with somebody too
and we'll just say hello

(essa última estrofe me dá uma tristeza muito grande... no meu livro – ou o que eu pretendo que um dia seja um livro – eu falo sobre o assunto)
 
A distância mais longa é aquela entre a cabeça e o coração.

(T. Merton)
~ domingo, junho 16, 2002
 
Se eu pudesse falar agora, te diria que os dias têm sido meio cinzas. Não fui ver aquele filme de novo, e aquele outro até hoje não vi. Acordar aos sábados não tem mais a mesma graça. Continuo falando muito ao telefone. Não terminei de ler nenhum livro. Tenho trocado os grandes agitos pela companhia tranqüila dos amigos. Os machucados antigos estão quase bons, mas arrumei um novo. Tenho uns três ou quatro projetos que estão se encaminhando. Alguns outros tantos que continuam não passando de idéias. Ouvi algumas coisas injustas sobre mim e doeu. Também doeram as que eu nem cheguei a ouvir mas senti. Precisei de massagem nos pés. Ganhei um sorriso que salvou uma noite perdida. Senti frio. Tive que desistir de alguns planos. Não lembro se sonhei com você. Ando ouvindo muita música, como sempre. Algumas noites eu me sinto sozinha. Às vezes eu tenho medo. A minha vida está um pouco triste. Desde que você desistiu de mim.
 
Quando lembram que eu existo:

História natural

Cobras cegas são notívagas.
O orangotango é profundamente solitário.
Macacos também preferem o isolamento.
Certas árvores só frutificam de 25 em 25 anos.
Andorinhas copulam no vôo.
O mundo não é o que pensamos.

(Carlos Drummond de Andrade)
~ sábado, junho 15, 2002
 
Você não está aqui. Nenhuma das pessoas que estão aqui comigo agora é sua amiga. E, esteja onde estiver, eu acho que você não imagina que eu esteja pensando em você. Mas eu estou. Como sempre estive e, como em todas as outras vezes, não sei, não quero e não vou te dizer. Se você quisesse, perceberia. Mas você não quer mais.
E assim, mesmo com pena, eu vejo se perderem no ar todos os seus sonhos, os meus e os momentos que passamos juntos misturados. Eu gostaria de poder fazer alguma coisa. Mais do que isso: eu gostaria de saber. De agir em vez de só esperar, de interferir na minha vida em vez ficar olhando tudo descer pelo ralo.
E você? O que você faria pra consertar as coisas? Nesse momento, é tudo o que eu gostaria de saber.
~ sexta-feira, junho 14, 2002
 
Querido diário

Já que quase todo mundo que foi pra Paracambi tem blog e escreveu sobre a viagem (não vale rir, Juliana! pra mim foi viagem, sim), eu resolvi contar aqui a minha versão.
Acordei no sábado com os fogos. Não vi o jogo, tava arrasada da noite anterior (eu tinha tocado na pista 3 da Bunker), mas soube do resultado pela quantidade de vezes em que ouvi os fogos. Voltei a dormir, claro. Mas o celular tocou. E depois o telefone de casa. Ui, como sou requisitada. No de casa era o Fred, insistindo pra eu ir pra Paracambi. Sem condições. Não ia dar tempo. Alguns telefonemas depois, eles resolveram marcar pra mais tarde, então acabei indo.
Cheguei no McDonald's da Central do Brasil quase 16h, e estavam lá Fred, JP, Pítti, Fernando e Rafael, que eu não conhecia. O Fred vem apresentar: "Esse é o Rafael, da Frente." E eu: "Ui." Depois fiquei pensando: será que fui muito agrede? Mas também quem é que apresenta um amigo dizendo onde ele trabalha?
Ah, detalhe: no McDonald's da Central estava tocando Smiths. Não uma música, por acaso, na programação da rádio Cidade ou coisa do tipo, mas um cd inteiro. "Esse bando de indie reunido aqui e tocando Smiths. Isso deve ser algum tipo de sinal", pensei.
Chegou a Juliana e nós fomos pegar o ônibus, que era melhor do que eu esperava. Sentamos no fundão. O Rafael, coitado, quase não falava. Também, acompanhado de um bando de tagarelas... Talvez você esteja se perguntado onde é Paracambi. Pois é, eu também não fazia idéia. Mas é um município do Rio (o Rafael botou um mapa no blog dele) e tem que pegar a Dutra pra chegar lá. Aliás, passamos perto do lugar onde o Sávio contou que rolou o strip-tease da puta sem braço...
Duas horas depois (uma e meia, no fuso do Fred...), chegamos. Legal, a cidade. Tranqüila. A casa do Fred é ótima, bem grande, e a mãe e avó dele, super simpáticas, vieram logo trazer bolinhos de aipim e pavê de chocolate pra galera. Hmmm. Grande recepção. A mãe do Fred ainda ficou contando histórias dele, e ele dizendo que ela tava contando os podres. Haha. Quem sabe dos podres dele é a gente, e não ela...
Momento loser número um: todo mundo teve alergia na casa, que fica muito tempo fechada e é meio úmida. Ai, que deprê. Fomos nos arrumar e demos um tempo no lounge da casa, onde encontramos discos toscos (como um do Bozo, o do Playcenter) e ficamos discutindo (acaloradamente, diga-se de passagem; ou seja: JP berrando histericamente) o sentido do termo indie. Sinônimo de independente ou todo um conceito de uma tribo? Emails para a redação, plis.
Dali fomos para a praça. A cidade toda parecia estar lá, e devia. Era tipo uma quermesse, festa junina, ou coisa do tipo: tinha barraquinhas de bebidas (valeu, pinga com mel! valeu, batida!) e até de maçã do amor, que eu tive que comer, claro. Quando a gente chegou, tava tocando Placebo (outro sinal? alguém querendo lembrar o tempo todo "ai, como vocês são indies, não tem como fugir"?). No palco, uma banda local, Silvertape, filhote de Rage Against The Machine. Ficamos bolados com o palco: o Los Hermanos ia tocar ali, espremido??? Claro que não, tansos. Tinha um outro palco, bem maior, foi o que logo descobrimos.
Enquanto o show dos Hermanos não começava, ficamos dando uma volta, até andamos de trem fantasma (e eu nem vou contar que o JP foi o único que teve medo que é pra não queimar o filme dele). Encontramos o Sávio, colega de e-zine das antigas, com a namorada. Fazia um pouco de frio, o Fred enganou a gente, ainda bem que os meninos (muito gentis) nos emprestaram casacos.
O show foi muito legal, o público até que tava vibrando com as músicas do Bloco do eu sozinho, embora não tenha comparação com os momentos em que eles tocaram "Anna Júlia" e "Primavera" (não tocar as duas é um luxo que só a Loud permite...). O show estava ótimo, eu, Fred e Fernando pulando super animados, até que alugém jogou uma espécie de bombinha no palco, na direção do Bruno Medina. O Amarante, que tava do outro lado, achou que fosse um papel pegando fogo, largou a guitarra e foi lá pisar em cima, tentando apagar. Resultado: o negócio estourou no pé dele. Felizmente, parece que não aconteceu nada grave. Mas depois disso, é claro, a banda esfriou um pouco. Que babaca o cara que jogou a tal bomba.
Ah, sim. Segunda enquete do dia: o que você faz quando um amigo seu te envergonha tanto, mas tanto, apontando pra você pelas costas enquanto a banda toca sua música preferida, que o vocalista te chama pra subir no palco? Some? Deixa de falar com ele? Sugestões para o meu email. Minha amizade com o Fred depende dessa questão... Depois do show, camarim (ui, como somos groupies). Conversamos com a banda, comemos um pouquinho e fomos pra casa.
Eu não consegui dormir direito à noite. Acho que sou a mais nerd da galera, porque a umidade e o carpete do quarto me deram muita alergia e eu tive crise de bronquite. Pra piorar, o telefone começou a tocar histericamente (não sei que horas, mas era cedo). A Ju queria tirar do gancho, mas eu dei a brilhante idéia: desliga da tomada. Enquanto isso, em outro quarto, o JP tinha a mesma idéia, e foi por isso que algum tempo depois eu comecei a ouvir os gritos: "Frederico! Frederico!" Ah, não vou avisar, ele vai ouvir. Não ouviu, mas dessa vez o JP levantou e avisou. Era a tia do Fred, chamando pra irmos ao sítio dele.
Aí já dá pra imaginar o meu bom humor quando o Fred resolveu acordar a galera. Primeiro, botou Angela Maria (é...) bem alto. Começa o inferno: Juliana berrando e reclamando da vida. "... que não conhece a dor de amar...", diz a Angela Maria, ao que a Juliana responde: "Eu conheço!!!", e eu ainda me dou ao trabalho de comentar: "Só você, palhaça?" Depois, pra continuar o meu inferno, o JP vem bater na porta e ameaça derrubar se a gente não abrir. Rá, rá. Que meda, que pânica. E a Juliana ainda abre, assustada...
Mas o sítio do Fred. Muito legal. A casa grande, tudo lindo. E as aves, de vários tipos: ganso, marreco, pato, tucano, pavão (que gostou do JP, faz sentido), faisões e galinhas de vários tipos (bizarro, parecia o desfile do Hotel Glória - rá rá, sou hilária).
Depois do churrasco (valeu, Pítti), os meninos foram jogar pingue-pongue e futebol (que eu não vi, mas deve ter sido comédia...). Trilha sonora: Ritchie e uma coletânea anos 80. Mas logo rolou um cd com gravações ao vivo da MTV pra gente se lembrar que é indie. E já tava na hora de ir.
Perdemos o ônibus mais barato, mas pelo menos o outro deixava na rodoviária, que não é tão sinistra quanto a Central aos domingos. Valeu, Fred! Tô esperando a próxima.
 
Apenas mais um dia



Eu olho pro seu rosto enquanto você dorme e não me lembro qual foi a última vez que senti tanta ternura. Espero que o seu sonho esteja sendo bom; mas se não for, eu vou estar aqui quando você acordar, e também depois, quando você for dormir de novo.
Nesse momento, já não importa a minha insegurança, ou a raiva que me dá por ter ciúme dela, ou de qualquer outra mulher. É do meu lado que você está agora, e é aqui que você vai estar pelos próximos dias e quem sabe meses e talvez até anos. Você está aqui porque quer, não por covardia ou comodismo, e isso me conforta.
Quando você acordar, eu vou estar do seu lado, dormindo ou talvez num estado semi-letárgico, depois de uma dessas noites em que os pensamentos me atropelam o sono e eu não consigo dormir. Você vai me olhar com um sorriso, como sempre, e então vai me abraçar, e eu vou me lembrar que não é à toa que eu me sinto em casa quando estou nesses braços que me envolvem com urgência e alegria.
Eu também te amo.
 
Só há duas espécies de mulheres: deusas e capachos.

Pablo Picasso
~ quarta-feira, junho 12, 2002
 
Deixei borrar um pouco a carta que você me deu. É que eu me emocionei e acabei ficando com os olhos cheios d'água. Há muito tempo eu não chorava. Não que não tivesse tido vontade, simplesmente não chorava. Talvez por defesa, até porque quando choro muito fico com dor-de-cabeça.
Não tenho mais problemas com chorar. Antes eu me sentia mal quando lembrava de ter chorado por alguém que não me merecia. Já não ligo mais. Tudo bem se eu cair (o que tem acontecido cada vez menos), o importante é me levantar rápido. Seguir em frente.
Você não me fez cair. Não chegou arrebatando. Não roubou toda a minha atenção. Você veio e me encontrou com todos os escudos possíveis. Mas não se intimidou. Ao contrário de muitos homens, você não parou no primeiro obstáculo. Continuou tentando. Com seu jeito manso, engraçado, doce. Você fez piada da minha indecisão.
E, sem me dar conta, eu fui me acostumando com a sua sutil insistência em mim, e me apaixonando pela sua capacidade de ser, sem planejar, muito do que eu sempre quis em alguém. Um homem. E isso não é pouca coisa.
~ terça-feira, junho 11, 2002
 
Eu já cansei de explicar pro Fred e pro Fernando porque o Woody Allen é gênio, mas eles não querem entender. Tudo bem. Quando os meninos crescerem vão perceber o que a tia aqui tá falando.

Olha aqui a frase que desvenda grande parte das diferenças entre homens e mulheres:

Só há pouco descobri que o meu problema é um desejo intenso de retornar ao útero. Qualquer útero.

Do Woody, claro.
 
Palavras

Eu jurei não me impressionar mais pelas palavras e sou de novo adolescente quando elas são escolhidas com cuidado e me encantam. Como se meia dúzia de frases bonitas fossem suficientes. Como se o mais importante não fossem os gestos.
Você brinca com a fala e o silêncio de um jeito que eu nunca sei se disse o que era certo. Fico com medo de ter deixado a sorte me escapulir pelos dedos em algum instante.
Eu penso em detalhes seus e rio sozinha. Fico te vendo no mais improvável, como um bicho diferente que vejo na rua ou alguma história que um amigo conta. A cada vez que nos encontramos parece que o encanto se renova em mim e eu fico num estado alterado, quase que inebriada.
Mas, ao mesmo tempo, me sinto confusa. Com medo de não saber usar a razão e acabar acreditando em outra coisa que não o que está bem claro, diante dos meus olhos. De achar que é possível te conquistar por inteiro. De não pensar em mais nada quando você fala no meu ouvido...
Acho que é tarde demais.
~ sexta-feira, junho 07, 2002
 
Alguns pensamentos no fim da semana

É uma daquelas noites agradáveis, nem frias nem quentes. No céu, poucas estrelas: será que amanhã chove, me pergunto no caminho para casa. Eles vão a uma festa, mas eu vou ficar: tenho meio litro de uísque e todos os livros que ainda não li.
A marca do seus dentes em mim ficou roxa. É o seu jeito de me amar com desespero. A blusa que você deixou na cadeira no canto do quarto está do mesmo jeito que você deixou. Você falou em casar comigo e eu não toquei mais no assunto.
É estranho, porque eu sou mulher, e embora muitas coisas tenham mudado, algumas coisas não mudaram tanto assim e nós mulheres geralmente queremos segurança.
Eu tenho medo de quando você acordar aqui deixar de ser ocasional. A tatuagem que eu tenho na nuca foi um ex-namorado que desenhou e eu nunca te disse. Tanta coisa que você não sabe sobre mim. Provavelmente tanto quanto eu não sei de você.
Eu tenho medo de deixar você entrar na minha vida de maneira irreversível.
~ segunda-feira, junho 03, 2002
 
O Maracanã

Nunca mais fui ao Maracanã. É madrugada, tem a Copa do Mundo, eu estou esperando pelo jogo do Brasil e me lembro que nunca mais fui lá. Você ia sempre, às vezes sem mim, mas era muito melhor quando eu ia com você do que ficar em casa e receber você suado depois do jogo. Muito melhor também do que ficar em casa assistindo pela TV, os comentários irritantes, a certeza da câmera. Do alto da arquibancada, o meu coração batia forte enquanto eu cantava as músicas da torcida com você e quase não tirava o olho do gramado.
Futebol é uma coisa mágica que une quase todos os homens e que eu, mulher, só posso invejar. Por mais que eu goste de futebol, por mais que eu passe a ter um comportamento obsessivo como o de vocês e passe a ver todos os jogos e ler todos os dias o caderno de esportes do jornal, ainda assim não terei como recuperar as lembranças de infância que eu não tive, de peladas com os amigos e partidas no Maracanã com o pai ou um tio ou irmão mais velho.
O que em mim sempre quis ser menino entende a beleza de ver o time querido em campo, e poucas lembranças me são tão caras como as nossas idas ao Maracanã, comemorar um gol do Flamengo com um beijo e um abraço, os óculos que você quase não usava esbarrando em mim, a alegria dividida com os desconhecidos da mesma torcida...
Eu sinto saudades desses momentos que nós dividíamos. Entre tantas diferenças, tantas brigas, nós estávamos unidos para sempre pelo amor ao Flamengo. E é por isso que quando eu passo pelo Maracanã ou me lembro dele me dá uma certa melancolia. Eu sei que depois você já foi lá sem mim; com certeza ainda vai muitas vezes. Pra você, o Maracanã é um mar de lembranças: infância, sua mãe, seu irmão mais velho, o pai inconformado pela escolha do time. Pra mim, o Maracanã é nós dois. E isso já não pode ser. Nessas horas, mais do que nunca, eu tenho inveja da obsessão dos homens pelo futebol.
~ sábado, junho 01, 2002
 
Esse é do Woody Allen e a Ciça (a Godiva escondida em Copa) botou num blog dela faz tempo:

To love is to suffer. To avoid suffering one must not love, but then one suffers from not loving. Therefore, to love is to suffer, not to love is to suffer, to suffer is to suffer. To be happy is to love, to be happy then is to suffer but suffering makes one unhappy, therefore to be unhappy one must love or love to suffer or suffer from too much happiness. I hope you're getting this down...

(Love and Death - Woody Allen)
 
Novamente você

Eu queria chorar mas não tenho motivo. Não perdi nenhum amor, nenhum amigo me traiu, nada. Nada: o pior que podia acontecer, como dizia o meu pai. Nada está acontecendo e isso me angustia porque eu sou uma pessoa que não gosta de ficar parada nunca. Quer dizer, eu tenho muita preguiça, detesto trabalhar por obrigação e às vezes gosto de ficar parada, mas o meu pensamento não pára nunca.
Talvez esse seja o problema. Acho que eu penso demais. E também sinto. E não sei dizer exatamente onde começa e termina o meu pensamento e o meu sentimento. Eu queria poder gostar de você, e eu gosto mesmo sem poder, mas não sei dizer se gosto, se admiro ou se são os dois, nem o que é que você tem que me parece tão diferente dos outros. Todos os outros. Você, que parece com tantos outros que eu já conheci, mas que ao mesmo tempo não parece nenhum deles. O que será isso? Será que eu estou te inventando?
Você tem ocupado tanto tempo do meu pensamento e não pode ocupar quase nenhum tempo da minha companhia. Eu sei que na verdade eu te conheço pouco e estive poucas vezes com você, mas eu sei também que o pouco pode ser muito se for intenso e isso eu acho que nós dois somos.
Eu não queria te comparar com ninguém, mas todos eles são tão medíocres, tão comuns — nem bons, nem maus, apenas comuns, o que pode ser pior que isso? — que perto deles você parece ainda melhor. Não que você não seja bom, mas perto deles você é maior.
Eu não tinha pensado em escrever sobre você. Era sobre o vazio. Era sobre o nada. Mas, como faz às vezes com o meu pensamento, você roubou o meu texto. E, mesmo não te tendo nem sabendo se eu vou ter, eu não quero te perder.
 
Esse texto do Neil Gaiman eu peguei do blog da Clarah:

Amor... Você já amou? Horrível, não? Você fica tão vulnerável. O peito se abre e o coração também. Desse jeito qualquer um pode entrar e bagunçar tudo. Você ergue todas essas defesas. Constrói essa armadura inteira, durante anos, pra que nada possa te causar mal. Aí, uma pessoa idiota, igualzinha a qualquer outra, entra em sua vida idiota. Você dá a essa pessoa um pedaço seu. E ela nem pediu. Um dia, ela faz alguma coisa idiota como beijar você ou sorrir e, de repente, sua vida não lhe pertence mais. O amor faz reféns. Ele entra em você. Devora tudo que é seu e te deixa chorando no escuro. Por isso, uma simples frase como "talvez a gente devesse ser apenas amigos" ou "muito perspicaz" vira estilhaços de vidro rasgando seu coração. Dói. Não só na imaginação ou na mente. É uma dor na alma, no corpo, uma verdadeira dor que entra-em-você-e-destroça-por-dentro. Nada devia ser assim. Principalmente amor. Odeio amor.

 

Lay-out por Davi Ferreira