Deixei borrar um pouco a carta que você me deu. É que eu me emocionei e acabei ficando com os olhos cheios d'água. Há muito tempo eu não chorava. Não que não tivesse tido vontade, simplesmente não chorava. Talvez por defesa, até porque quando choro muito fico com dor-de-cabeça.
Não tenho mais problemas com chorar. Antes eu me sentia mal quando lembrava de ter chorado por alguém que não me merecia. Já não ligo mais. Tudo bem se eu cair (o que tem acontecido cada vez menos), o importante é me levantar rápido. Seguir em frente.
Você não me fez cair. Não chegou arrebatando. Não roubou toda a minha atenção. Você veio e me encontrou com todos os escudos possíveis. Mas não se intimidou. Ao contrário de muitos homens, você não parou no primeiro obstáculo. Continuou tentando. Com seu jeito manso, engraçado, doce. Você fez piada da minha indecisão.
E, sem me dar conta, eu fui me acostumando com a sua sutil insistência em mim, e me apaixonando pela sua capacidade de ser, sem planejar, muito do que eu sempre quis em alguém. Um homem. E isso não é pouca coisa.