O Maracanã
Nunca mais fui ao Maracanã. É madrugada, tem a Copa do Mundo, eu estou esperando pelo jogo do Brasil e me lembro que nunca mais fui lá. Você ia sempre, às vezes sem mim, mas era muito melhor quando eu ia com você do que ficar em casa e receber você suado depois do jogo. Muito melhor também do que ficar em casa assistindo pela TV, os comentários irritantes, a certeza da câmera. Do alto da arquibancada, o meu coração batia forte enquanto eu cantava as músicas da torcida com você e quase não tirava o olho do gramado.
Futebol é uma coisa mágica que une quase todos os homens e que eu, mulher, só posso invejar. Por mais que eu goste de futebol, por mais que eu passe a ter um comportamento obsessivo como o de vocês e passe a ver todos os jogos e ler todos os dias o caderno de esportes do jornal, ainda assim não terei como recuperar as lembranças de infância que eu não tive, de peladas com os amigos e partidas no Maracanã com o pai ou um tio ou irmão mais velho.
O que em mim sempre quis ser menino entende a beleza de ver o time querido em campo, e poucas lembranças me são tão caras como as nossas idas ao Maracanã, comemorar um gol do Flamengo com um beijo e um abraço, os óculos que você quase não usava esbarrando em mim, a alegria dividida com os desconhecidos da mesma torcida...
Eu sinto saudades desses momentos que nós dividíamos. Entre tantas diferenças, tantas brigas, nós estávamos unidos para sempre pelo amor ao Flamengo. E é por isso que quando eu passo pelo Maracanã ou me lembro dele me dá uma certa melancolia. Eu sei que depois você já foi lá sem mim; com certeza ainda vai muitas vezes. Pra você, o Maracanã é um mar de lembranças: infância, sua mãe, seu irmão mais velho, o pai inconformado pela escolha do time. Pra mim, o Maracanã é nós dois. E isso já não pode ser. Nessas horas, mais do que nunca, eu tenho inveja da obsessão dos homens pelo futebol.