Apenas um engano. Algumas palavras não ditas, e depois o medo, e a culpa, e de novo o medo. Todo mundo pôde perceber o que não foi dito mas está aí. Menos você. Porque você é como se fosse mulher, e como se fosse uma de nós, precisa mais das palavras do que de qualquer gesto. Um cego com os ouvidos atentos, à espera das palavras tantas vezes ouvidas na sua imaginação.
Se fosse fácil, eu te diria o que tinha que ser dito. Se fosse homem, você saberia ouvir, mas, tal qual mulher, você não quer mais. Você já tem todas as respostas para as perguntas que nunca fez, e também para as que fez mas não esperou para escutar. É muito cedo ainda e pra você já é tarde demais, e eu precisaria de me armar toda a paciência do mundo pra te fazer entender o óbvio.
Mas eu não vou mais tentar me fazer entender. Não vou mais me esforçar. Não vou mais me lamentar nem sentir culpa. Não vou chorar. Não vou esperar. Não vou beber com medo do que posso encontrar. Não vou te olhar com ternura. Foda-se.