Uma tarde um pouco fria
Eu poderia passar horas e horas te contemplando e é isso que eu faço, embora fale compulsivamente. Por dentro, estou guardando para sempre pequenas coisas de você: a pequena cicatriz na sobrancelha, o jeito de tirar os óculos, as coisas feitas com a mão esquerda – eu te digo sempre que adoro canhotos –, a voz num tom mais agudo enquanto fala comigo, o riso com a boca e os olhos, os brincos que eu adoro, o anel na mão esquerda, o olhar de atenção enquanto eu falo. Se eu falo muito é porque tenho ânsia de dividir com você tudo o que me interessa, tudo o que eu sou.
Quando estou em silêncio, eu falo com os olhos, a boca, o corpo inteiro e o que mais existir. Falo completamente. É como se eu dissesse que você pode confiar em mim, e eu estou dizendo. Também estou dizendo coisas que não consigo expressar com palavras, porque talvez ainda não tenham inventado palavras para expressar esses sentimentos. Que depois do que estamos vivendo, eu não vou ser mais como era antes. Nem você. E isso é muito bom.