Traição
Nenhuma lágrima. Nem uma sequer pra contar história. Bem que eu gostaria, até. Chorar alivia. Mas acho que desaprendi a chorar com o tempo. Com a vida. Já chorei tanto que banalizou. Perdeu o sentido. E foi por isso que simplesmente não disse nem fiz nada.
Mas não faz diferença. A angústia no estômago. O embargo na garganta. O pensamento fixo. Nada disso mudou, foi como sempre, e, mais uma vez, foi uma dor única. Não importam todas as teorias que eu possa fazer sobre o assunto. Não adianta racionalizar. O que eu senti era inevitável.
Eu simplesmente não podia conceber. Me deitava à noite, ou já quase de manhã, e quando acordava por alguns instantes ainda tinha a esperança de que tudo o que aconteceu não passava de um pesadelo, mais um entre tantos sonhos tão reais que eu chego a confundir com o que realmente aconteceu. Mas logo me vinham todas as lembranças de alguns dias atrás, e mais uma vez dor, angústia no estômago, embargo na garganta, pensamento fixo. Por algum tempo isso ocupou grande parte dos meus dias e minhas noites.
Durante esse tempo, eu quis encontrar os porquês, quis entender onde errei, quis saber o que poderia fazer pra consertar as coisas. Mas não existem porquês, assim como não há o que consertar. E, se houve alguma culpa, ela certamente não foi minha.
Porque eu sempre estive de braços e coração abertos e todas as boas intenções do mundo esperando por você. Se esperei em vez de tentar algum movimento, foi por medo. Se errei, foi sem querer. E estaria disposta a pedir desculpas, sempre. Estaria disposta a não errar de novo. Estaria disposta a lutar por nós dois. Ao contrário de você.