Pós-Pop
Facebook
Orkut
Twitter

Nome:

Comentário:

Site

E-mail:





Abba
Branca Por Cruza
Cartas da Sala 666
Contracampo
Cucaracha
E agora, Mary Fe?
El Cabong
Érika Martins
Febre
Fixing a Hole
Garoto Xujo
Homem É Tudo Palhaco
Jana Magalhães
Kung Fu Lounge
Macaco Velho
Magalha
Moidsch
Poça D'Água
Portinhola
Seta Para Cima
Ricotta
Trabalho Sujo
Urbe
Vida Fuleira
Wonderella
Working Class Anti-Hero
Trash it Up


12/01/2001 - 01/01/2002
01/01/2002 - 02/01/2002
02/01/2002 - 03/01/2002
03/01/2002 - 04/01/2002
04/01/2002 - 05/01/2002
05/01/2002 - 06/01/2002
06/01/2002 - 07/01/2002
07/01/2002 - 08/01/2002
08/01/2002 - 09/01/2002
09/01/2002 - 10/01/2002
10/01/2002 - 11/01/2002
11/01/2002 - 12/01/2002
12/01/2002 - 01/01/2003
01/01/2003 - 02/01/2003
02/01/2003 - 03/01/2003
03/01/2003 - 04/01/2003
04/01/2003 - 05/01/2003
05/01/2003 - 06/01/2003
06/01/2003 - 07/01/2003
07/01/2003 - 08/01/2003
08/01/2003 - 09/01/2003
09/01/2003 - 10/01/2003
10/01/2003 - 11/01/2003
11/01/2003 - 12/01/2003
12/01/2003 - 01/01/2004
01/01/2004 - 02/01/2004
02/01/2004 - 03/01/2004
03/01/2004 - 04/01/2004
04/01/2004 - 05/01/2004
05/01/2004 - 06/01/2004
06/01/2004 - 07/01/2004
07/01/2004 - 08/01/2004
08/01/2004 - 09/01/2004
09/01/2004 - 10/01/2004
10/01/2004 - 11/01/2004
11/01/2004 - 12/01/2004
12/01/2004 - 01/01/2005
01/01/2005 - 02/01/2005
02/01/2005 - 03/01/2005
03/01/2005 - 04/01/2005
04/01/2005 - 05/01/2005
05/01/2005 - 06/01/2005
06/01/2005 - 07/01/2005
07/01/2005 - 08/01/2005
10/01/2005 - 11/01/2005
11/01/2005 - 12/01/2005
12/01/2005 - 01/01/2006
01/01/2006 - 02/01/2006
02/01/2006 - 03/01/2006
03/01/2006 - 04/01/2006
04/01/2006 - 05/01/2006
05/01/2006 - 06/01/2006
06/01/2006 - 07/01/2006
07/01/2006 - 08/01/2006
09/01/2006 - 10/01/2006
10/01/2006 - 11/01/2006
11/01/2006 - 12/01/2006
12/01/2006 - 01/01/2007
01/01/2007 - 02/01/2007
02/01/2007 - 03/01/2007
03/01/2007 - 04/01/2007
04/01/2007 - 05/01/2007
06/01/2007 - 07/01/2007
07/01/2007 - 08/01/2007
10/01/2007 - 11/01/2007
12/01/2007 - 01/01/2008
01/01/2008 - 02/01/2008
02/01/2008 - 03/01/2008
03/01/2008 - 04/01/2008
04/01/2008 - 05/01/2008
05/01/2008 - 06/01/2008
07/01/2008 - 08/01/2008
11/01/2008 - 12/01/2008
01/01/2009 - 02/01/2009
03/01/2009 - 04/01/2009
08/01/2009 - 09/01/2009
09/01/2009 - 10/01/2009
10/01/2009 - 11/01/2009
11/01/2009 - 12/01/2009
12/01/2009 - 01/01/2010
01/01/2010 - 02/01/2010
03/01/2010 - 04/01/2010
04/01/2010 - 05/01/2010
05/01/2010 - 06/01/2010
06/01/2010 - 07/01/2010
11/01/2010 - 12/01/2010
12/01/2010 - 01/01/2011
03/01/2011 - 04/01/2011
05/01/2011 - 06/01/2011
09/01/2011 - 10/01/2011
12/01/2011 - 01/01/2012
01/01/2012 - 02/01/2012
12/01/2012 - 01/01/2013
02/01/2013 - 03/01/2013
06/01/2013 - 07/01/2013



 

~ quarta-feira, outubro 30, 2002
 
Ganhei de um amigo esse vinil:


Muito bom! A capa é o máximo, e o nome do disco, Bem-vinda amizade, não poderia ser mais adequado :)
~ terça-feira, outubro 29, 2002
 
Nada

É muito bom bom quando a gente não faz nada. E deixa o tempo passar, sem pressa. Esses dias em que a gente não tem hora, compromisso. Você deita a cabeça no meu colo e a gente ouve música. Ou simplesmente fica parado, nada além do som das nossas respirações.
Claro que eu também gosto de sentir o seu corpo, o seu gosto, o seu cheiro, descobrir que o mesmo pode ser diferente a cada dia e que eu te amo também nas pequenas imperfeições: a cicatriz na sobrancelha que é um charme, essa barriga saliente, o dentinho da frente torto que é a coisa mais linda.
Se eu pudesse ou precisasse parar o tempo, seria num desses momentos em que não fazemos nada. Em que você não precisa dizer as palavras certas, ou mesmo falar, não precisar me abraçar nem olhar pra mim. Quando eu percebo que ter você sempre ao meu lado é tudo o que eu preciso.
~ segunda-feira, outubro 28, 2002
 
Eu entrevistei e assisti ao show. E a editora ainda manteve o título Joselito que eu dei pra resenha do show. Legal!
~ domingo, outubro 27, 2002
 
Amanhecer

A cidade é mais bonita a essa hora, quando o sol está quase nascendo, ainda mais quando o tempo está meio nublado e o céu fica esbranquiçado, é lindo o contraste com as luzes dos postes acesas. Essa é a minha paisagem preferida e eu deixei escapar uma lágrima enquanto olhava pela janela porque queria que você estivesse dividindo esse momento comigo. Isso me faz lembrar um filme que vi faz pouco tempo, e felizmente o cara do meu lado está dormindo e as pessoas estão todas ocupadas demais pra reparar no meu choro discreto.
O ônibus segue e eu fico imaginando em qual desses apartamentos você talvez esteja, talvez feliz, talvez não lembrando que eu existo, talvez procurando um pouco de mim na mulher que você agora ama. Não sei se procura, mas acho que isso me consolaria de certa forma, eu que imaginei você e ela nos vários cantos da casa onde estava ainda há pouco, assim como imagino em algum apartamento perto dessa praia por onde acabei de passar.
Se eu pudesse, eu te pegaria pela mão e andaria pela areia esperando o sol nascer. Estou cheirando a álcool, e isso me faz lembrar como era bom quando a gente chegava em casa às vezes, no meio da madrugada, o cheiro de álcool em você e mim a certeza de que era feliz, antes da gente deitar e dormir, você sempre antes de mim, e eu ainda te olhar um pouquinho até finalmente desmaiar de sono.
Ontem eu quis te ligar mas era tarde. Houve um tempo em que nunca era tarde. Houve um tempo em que você estava do lado pra me abraçar se eu tinha um pesadelo. Houve um tempo em que eu sabia onde você estava todos os dias. Eu tinha a certeza de que você estava pensando em mim. Eu tinha você pra vida inteira. E um amanhecer nem de longe era a coisa mais bonita da minha vida.
~ sexta-feira, outubro 25, 2002
 
Às vezes eu me pego sentindo saudade daquilo que não vivemos. É como se eu parasse no tempo, é como se tudo o que passamos fosse um filme a que assisti há muito tempo.
Às vezes faz frio, está escuro e eu estou sozinha. Mesmo estando sol. Mesmo com todas essas pessoas aqui em volta.

Eu tenho medo de ser assim pra sempre.
~ terça-feira, outubro 22, 2002
 
Lamento

Eu sei que é difícil pra você falar sobre o que sente e eu deveria respeitar, mas pra mim é tão difícil viver sem saber o que se passa aí dentro... A cada minuto, eu tenho medo de te perder, eu sinto como se você me escapasse em cada palavra não dita – e me escapa. O seu olhar a cada dia mais distante, e eu, na ânsia de te trazer de volta, acabo te empurrando pra cada vez mais longe de mim.
O que deveria importar eram os atos, e não as palavras. Eu entendo isso, mas acabo sentindo falta de ouvir aquilo que já sei, ou deveria saber. Eu sempre me impressionei muito com palavras bonitas e isso é uma grande bobagem: muitas vezes o que alguém diz entra em contradição com o que faz. Você sempre fez o que eu precisava, o que era mais bonito, e eu não me dei conta de que isso era o bastante.
Se eu pudesse, eu voltaria atrás e não diria as palavras erradas, não veria problema onde, agora sim, vejo que não existe, não deixaria de ser a pessoa por quem você se apaixonou. Eu fui mudando lentamente e quando vi eu mesma não me reconhecia mais.
E esse meu jeito de matar aos poucos o que de mais bonito existe entre nós dois me faz sofrer justamente pela minha impotência. Não sei como agir. Quer dizer, eu até acho que sei, mas não consigo ser diferente disso em que me transformei.
Estou jogando fora uma vida inteira ao seu lado e não sei o que fazer. Só sei que dói. E muito.
~ segunda-feira, outubro 21, 2002
 
Comum

Foi se tornando uma coisa comum na cidade. De tanto ver, acabamos nos acostumando com os vendedores nos ônibus. E eles todos meio parecidos, embora cada um com um tipo de discurso – uns apelando para a pena, outros ameaçando de forma semi-velada, outros sendo criativos e ainda os que apenas repetem o padrão. Pode até haver um certo incômodo, mas em geral não nos abalamos muito com eles. Às vezes viramos o rosto para o lado. Às vezes compramos alguns de seus produtos, por necessidade mesmo ou pena.
Sempre procuro não me deixar anestesiar, não achar comum a situação difícil que o nosso país vive. Ainda me comovo com pessoas morando na rua, gente tendo que revirar latas de lixo, crianças maltratadas que não têm por que não virar bandidos. Eu me esforço pra não achar normal e não esquecer que é gente que está ali, porque o mundo parece que se esquece – e você percebe isso quando descobre que apenas conversar um pouco com uma pessoa que vive na rua significa muito pra ela, e ela fica muito agradecida, como se você estivesse fazendo grande coisa. Sim, porque essas pessoas acabam se tornando quase que invisíveis para o mundo involuntariamente.
Mas um dia estava eu num ônibus. E entrou aquele moço, que devia ter pouco mais a minha idade. Ele não era como os outros, sem dentes, com o rosto maltratado pelo tempo ou uma tentativa de falar bonito que muitas vezes soa falsa, quase ridícula, até. Não lembro bem o que ele disse, mas lembro que não tentou ser engraçado nem causar pena. Talvez estivesse meio envergonhado por estar ali, vendendo balas no ônibus. Só sei que eu fiquei muito abalada. E percebi que, sim, eu tinha me deixado anestesiar, eu tinha me acostumado com o número cada vez maior de pessoas vendendo coisas nos ônibus.
Não que seja um tipo de trabalho degradante – e mesmo assim não estou aqui pra julgar. Se é trabalho, pronto, ninguém tem nada com isso. Mas é reflexo do desemprego crescente no país. Aquelas pessoas que ficam o dia inteiro de ônibus em ônibus tendo que contar com a simpatia dos motoristas e algum sentimento dos passageiros que os faça comprar não estão ali por opção, mas porque atualmente é uma alternativa viável para que elas possam se sustentar. E eu só me dei conta de que tinha acostumado quando vi aquele cara. Um garoto branco, vestido discretamente, bem-educado, a fala correta. Um garoto como eu.
~ sexta-feira, outubro 18, 2002
 
mas é que toda vez que eu rio
toda vez que eu digo agora tudo bem
hoje em dia é de mentira
é de mentira, meu bem


de mentira, casino
 
Esse funk é tarja preta, remédio forte

Essa foto do post anterior é do Wado no show da Loud, no último dia 12. O Fred que tirou. Quem lê esse blog deve ter imaginado que a minha expectativa pro show era grande. Até porque os dois que eu tinha visto, apesar de muito bons, não tinham sido os ideais: só Wado e Alvinho no violão, num bar de um shopping. Quer dizer, a Loud também não tem condições perfeitas (o som tem problemas), mas é um dos melhores lugares pros artistas independentes se apresentarem no Rio.
O show começou bem vazio. Mas conforme a banda foi tocando, foi juntando mais gente. O próprio Wado comentou que eles estavam se preparando pra tocar pra si mesmos, mas que estavam felizes pelo público ter chegado. A primeira fila do cinema dançou o show inteiro. Alguns, como eu (hehehe), Ciça, Fred e Matias (que me apresentou o primeiro disco do Wado), cantaram, também.
O que me deixou chateada foi que a Loud tava vazia. Tudo bem que 18 reais é meio caro, mas comprando antecipado o ingresso custa 12 e, pôxa, vale a pena ver show e ainda circular pelas pistas (ou escolher uma e ficar só nela, enfim). Eu acho engraçado é que as pessoas volta e meia reclamam que não tem nada novo na música, ou que o que toca nas rádios é sempre o mesmo, coisas do tipo. Mas na hora em que aparece algo novo, quem vai no show?
Eu acho muito legal a iniciativa do pessoal da Loud de trazer vários shows pro Rio no risco, alguns até já sabendo que não vai ter muito público – e eu não sou amiga deles nem ganho nada pra dizer isso. Quer dizer: ganho, sim. A oportunidade de ver vários shows que outros produtores não trouxeram nem trariam pra cá. Mas seria bem legal se o pessoal da Loud não precisasse estar se arriscando a levar prejuízo, que as pessoas se interessassem pelos artistas menos conhecidos que tocam lá.
E o show do Wado foi um dos melhores de todos os que eu vi na Loud – e olha que eu sou figurinha fácil de lá. O Wado tem uma ótima presença de palco e o show fica absurdamente dançante com baixo e bateria e os dois violões amplificados.
Mais uma vez acompanhado de Alvinho, e contando com os paulistas André Corradi (baixo) e Thiago Nistal, a banda que o acompanha nos shows no Sudeste, Wado fez uma apresentação com repertório não muito diferente dos shows que eu já tinha visto, baseada nos discos Manifesto da arte periférica, de 2000, e Cinema auditivo, recém-saído do forno (o show na Loud era o lançamento do cd no Rio). Faltou "A coisa mais linda do mundo", do primeiro disco, pedida por parte do público. É que eles não tinham ensaiado – o que se entende, quando a gente lembra que metade da banda está em São Paulo e a outra metade em Maceió. E, no fim, nem fez muita falta, de tão lindo que o show foi.

Aproveitem, paulistas, que dia 23 (quarta que vem) ele toca no Blen Blen.
~ quarta-feira, outubro 16, 2002
 
~ segunda-feira, outubro 14, 2002
 
Platônico

Quando eu chego você não contém a cara de espanto e dessa vez o amigo que você pensou ser algo mais mas não era não está do meu lado. Eu passo por você e pego alguma coisa pra beber.
Na pista as luzes apagam e acendem enquanto você faz o caminho mais longo e passa quase esbarrando em mim, mas passa. O outro ambiente é ainda mais escuro e dessa vez sou eu que invento uma desculpa qualquer pra passar por você, que conversa, ri e fuma com os amigos fingindo que é por acaso que o seu olhar vem para na minha direção.
É claro que eu acredito em coincidências e é por uma delas que eu e você resolvemos sair dali ao mesmo tempo, e por isso vamos na mesma direção. Mas parece que sempre tem que acontecer alguma coisa e eu acabo me desviando do caminho pra um outro ambiente e mais uma vez nós nos perdemos de vista. O lugar não é tão grande e inevitavelmente nós ainda vamos nos encontrar de novo essa noite.
Não demora muito e eu pego outro drinque, algumas noites são impossíveis sem beber, e quando eu sento logo você se senta também um pouco perto, e eu penso que finalmente você vai se aproximar e dizer alguma coisa, mas difícil saber o que se passa na cabeça de alguns homens, e você fica parado, estático, até algum amigo sentar do seu lado e eu decidir que cansei de esperar.
A noite toda essa troca de olhares vai continuar e eu vou me sentir uma donzela vitoriana mais uma vez quando você sentar ao meu lado e da minha amiga e não fizer nada além de me dirigir alguns olhares fugidios. É claro que eu vou cansar, e vou com ela pra pista dançar uma música que eu gosto, e você vai pra perto conversar com os amigos, vai pisar no pé dela, e ainda não assim não vai fazer nada além de rir meio tímido pra gente e pedir desculpas. Eu vou cansar de você tanto só me olhar e vou embora pensando que nós dois podíamos estar indo juntos pro meu apartamento, que por sinal não fica muito longe dali.
~ domingo, outubro 13, 2002
 
faço questão de ter aqui
apesar de não me quereres mais
meu coração de jasmim avulso
tá embrulhado pra você no cais


cenas de um filme inglês, wado
~ quinta-feira, outubro 10, 2002
 
Não convém

Eu tento dispensar todas as emoções que não me convêm, ele me disse, antes de levantar e ir embora. Eu quis falar muito mais, tudo o que estava entalado na minha garganta há algum tempo, mais do que eu já tinha dito a ele poucos minutos antes. Mas ele não deu tempo, simplesmente saiu.
Nos conhecemos uns meses antes daquele dia. Afinidade imediata: gostos, lugares, comidas, livros, discos, filosofia de vida, dúvidas em comum. Costumávamos nos encontrar para andar à toa ou sentar e conversar, e ficávamos horas e horas debatendo os mais diversos assuntos. Era como se pudéssemos falar sobre qualquer coisa, como se entendêssemos um pouco sobre tudo. Só não entrávamos muito em assuntos do coração. Falávamos sobre amigos, família, mas quase nada sobre nossos atuais envolvimentos com o sexo oposto. Uma vez ele chegou a mencionar um telefonema que tinha recebido de uma mulher, mas não nos aprofundamos no assunto e ele nunca mais surgiu. Era uma espécie de pacto silencioso: por mais que nos considerássemos e fôssemos amigos, eu não falava muito sobre homens pra ele nem ele sobre mulheres pra mim. Porque, na verdade, e todo mundo percebia, desde a primeira vez em que nos falamos e vimos pairava no ar uma certa tensão sexual que parecia sempre prestes a se consumar.
E assim um dia o inevitável aconteceu. Não lembro bem como, só sei que quando me dei conta a gente estava se beijando, e como todas as outras afinidades, a química também foi imediata e fluiu como fluíam nossas conversas. Durante alguns meses, nos encontramos e nos falamos como costumávamos fazer. E passamos a nos encontrar mais e mais. Eu adorava o jeito como ele sorria ao me ver, como me olhava com atenção enquanto eu falava, sua reação sempre quase teatral, mas de um jeito bom, às coisas que eu dizia. Aquele sorriso aberto era mais bonito que as músicas que ele botava pra eu ouvir, que os presentes que ele me deu, que qualquer coisa que ele dissesse.
Até que ele falou que precisava conversar. E que não podia continuar com aquilo. Aquilo o quê?, eu quis saber. Os nossos encontros. O que nós dois tínhamos nos tornado. Eu era muito emotiva e ele nunca ia poder me dar o que eu precisava e merecia. Eu não sabia o que queria da vida, e ele muito menos.
Não adiantou tentar dizer que se estava bem assim pra que mudar ou perguntar qual era o problema em se envolver comigo. Ele não quis ouvir, já estava com tudo definido na cabeça. Você não pode negar que está envolvido, eu ainda tive tempo de falar. Eu tento dispensar todas as emoções que não me convêm, foi a frase que ecoou naquela sala e no meu pensamento por algum tempo.
Os dias que se seguiram foram um pouco difíceis, mas descobri que sempre sofro mais por antecipação. Pra mim, o medo de perder é pior do que a perda em si. Enquanto pensava em como ia fazer para me adaptar, sem perceber eu já estava me adaptando. A vida passa muito rápido, se a gente complicar só pensa em aproveitar quando já é tarde. E eu tento viver a minha da melhor maneira possível. O tempo todo. Por isso quando eu e ele nos encontramos de novo, eu nem de longe lembrava a figura triste que ele tinha deixado na sala do meu apartamento sem olhar pra trás. Cumprimentei-o com educação e ele, surpreso e visivelmente transtornado, veio falar comigo. Conversamos sobre amenidades. Depois fui embora, que uns amigos me esperavam.
Alguns dias depois, ele interfonou. Precisava me ver, me disse, e subiu. Vir até aqui não foi fácil, disse. Mas eu até que fiz por prazer. Ele precisava me falar tudo em que tinha pensado nos últimos tempos. Precisava me explicar o que tinha acontecido. Já tinha se passado algum tempo e ele tinha pensado bastante em nós dois. Ele estava com medo, estava muito confuso quando tudo aconteceu. E eu estava certa: ele tinha mesmo se envolvido. Mas não sabia o que fazer com aquilo. Por isso foi embora. Por isso não quis ouvir. Por isso sumiu da minha vida. E agora ele estava certo de que queria pagar pra ver, queria tentar ser feliz comigo do jeito que fosse.
Mas a vida passa rápido, eu disse a ele. Muito rápido. O tempo vai engolindo a gente. E é por isso que eu tento aproveitar o máximo que puder. E não dispenso nenhuma emoção, quando vem. Porque deixar pra depois pode ser tarde demais. Como agora.
 
O amor é um não-sei-quê, que surge não sei de onde, e acaba não sei como.

Madeleine de Scudéry, escritora francesa (1607-1701)
(peguei daqui)
~ quarta-feira, outubro 09, 2002
 
E aí? Gostaram do lay-out novo? Eu achei lindo! E não é falsa modéstia, porque não fui eu que fiz: foi o Davi. Eu sou uma completa negação pra essas coisas. Tanto que o antigo também não era meu: era do Fred. Muito obrigada aos dois!
 
Frações de segundo

Eu poderia me perder nas suas costas e é o que acontece por alguns instantes enquanto a blusa marca as dobras do seu dorso, que não é forte, mas na medida exata do meu desejo. Me perderia por horas e horas, quantas fosse possível, se você por um segundo notasse um pouco que fosse do que se esconde sob a minha simpatia. Enquanto você diz que é bom me ver mais uma vez, eu penso que, embora seja mesmo bom a gente se encontrar, eu poderia te dar uma lembrança bem melhor de mim, se ao menos uma vez você me olhasse como eu te olho. Você sorri na despedida e eu penso que, ah, eu poderia te fazer sorrir muito melhor.
~ segunda-feira, outubro 07, 2002
 
cause I love just as much
as I hate you guts


(alibi)
 
If i said you shouldn't have gone
tell you i'm feeling all alone
and i'm crying myself to sleep
would you love me then?


Winnie Cooper, "Cook like Jeff Smith"
~ sábado, outubro 05, 2002
~ sexta-feira, outubro 04, 2002
~ quinta-feira, outubro 03, 2002
 
Sobre a dor feminina de existir – O No Mínimo publicou essa matéria aqui, que eu achei interessante, e curiosamente só vi depois de ter escrito sobre a cena do Fale com ela.

Isso porque as questões femininas muito me interessam, eu inclusive tenho um blog coletivo com outras mulheres – que não divulgo aqui porque elas não querem (têm lá seus motivos) –, onde, em geral, reclamamos dos homens, haha. Mas na verdade o que eu acho, e que estava falando dia desses com um amigo, é que existe um grande desencontro entre mulheres e homens. Diferentes expectativas, diferentes atitudes. Será que tem como conciliar? E não digo só um suportar o outro, com pequenas e grandes mágoas bem ou mal-guardadas, mas conciliar de verdade, ser feliz convivendo. Será?
Porque eu só tenho visto um bando de mulheres infelizes com relacionamentos ou pseudo-relacionamentos, e, se os homens não reclamam tanto, em parte é porque ainda não gostam muito de se mostrar frágeis, em parte é porque os relacionamentos não ocupam a maior parte de suas preocupações e interesses – ao contrário das mulheres: junte mais de uma mulher, e qual será o assunto dominante? homem(ns). aliás: não precisa de mais de uma mulher, porque basta uma e ela já vai estar pensando em homem(ns).
Ah, tem muita gente que me chama de machista porque eu digo esse tipo de coisa. Não acho. Acho que estou sendo realista. E não num sentido pessimista, "oh, como nós mulheres supervalorizamos os relacionamentos". Mas pra tentar tornar a convivência entre homens e mulheres algo melhor (pros dois lados), é bom não ter medo de enxergar os problemas. E esse, pra mim, é um dos principais.
 
Entraram aqui procurando "wado cinema auditivo" no Google. Que lindo. Prestando serviço à população.
 
Palhaços

Eu, Ciça, Fred, JP, Ju, Rafa e Fernando reunidos aqui.
~ quarta-feira, outubro 02, 2002
 
Primeiro amor

O que ela não sabe é que aquele sorriso me trouxe de volta a vida. Eu, que há anos vivia uma vida repetitiva, senti o mundo desabando em cima de mim quando conheci aquela mulher, e, soterrado sob a sua presença, não tive escolha a não ser me levantar e seguir um novo caminho com ela, não importando o que fossem pensar. E gostei.
Claro que tive que passar por cima de muitas coisas para finalmente assumi-la. As ex-mulheres e os filhos não me entendem. Acham que ela quer o meu dinheiro. Ora, ela não é besta, claro que gosta do que é bom, e isso não é pecado: é inteligência.
Uma mulher cheia de vida, e é por isso que com ela eu me sinto mais jovem. Claro que as roupas que ela escolheu comigo ajudam, a tinta no cabelo também, os óculos escuros, mas não é só isso: é toda a alegria que eu tinha esquecido e essa mulher trouxe pra mim.
Não importa se eu falo de lugares e coisas que ela não conhece: eu posso ensinar, eu posso mostrar pra ela. E quando ela não quiser, eu também posso ouvi-la falar sobre o que interessa a ela, e eu não canso de ouvir aquela voz meio grave que quando eu ouvi pela primeira vez fiz piada e que hoje é pra mim a mais linda de todas.
E eles, que me julgam, talvez nunca tenham se apaixonado de verdade. Coração é terra onde ninguém pisa, já dizia o meu pai. É como se tudo isso que eu sinto fosse novo. E é. Porque o primeiro amor não é outra coisa senão o último.
 
Por toda a minha vida
(Tom Jobim e Vinícius de Moraes)

Oh, meu bem-amado
Quero fazer-te um juramento uma canção
Eu prometo, por toda a minha vida
Ser somente tua e amar-te como nunca
Ninguém jamais amou, ninguém

Oh, meu bem-amado
Estrela pura aparecida
Eu te amo e te proclamo
O meu amor
O meu amor
Maior que tudo quanto existe
Oh, meu amor
~ terça-feira, outubro 01, 2002
 
Me dá a mão. Fecha os olhos. Deixa que eu te levo comigo. Eu nunca vou te fazer sofrer, prometo.
Mas se fizer, terá sido sem querer. Juro.
 
Não precisa ter medo de mim ou do que eu sinto.
 
You can't always get what you want.
 
Fale com ela



Gostei muito do novo filme do Almodóvar, pra variar, mas achei irregular. A história é muito bonita e dramática, mas tem momentos desnecessários (como o comentário de Marco sobre o Caetano, por exemplo; deve ser piada interna, sei lá, mas pra mim quebrou um pouco o clima do filme).
Em compensação, tem cenas belíssimas, realmente comoventes. Uma das principais, talvez a mais bonita, é a da primeira tourada que aparece no filme. Lydia, uma toureira, durante muito tempo sofreu com o machismo dos colegas de profissão, que se recusavam a dividir a arena com ela. Até que um deles, "Niño de Valencia", resolveu fazer uma temporada com ela. E os dois se apaixonaram.
Acontece que eles passaram a aparecer na mídia mais pelo caso que mantinham do que pelas apresentações em si, e enquanto El Niño gostava da exposição Lydia se incomodava muito. Acabaram rompendo.
Com a falta de oportunidades para tourear e também com um certo ímpeto suicida, Lydia decide enfrentar sozinha seis touros. E aí vem a tal cena que achei linda: ela, enfrentando os touros por ele, querendo que ele ao menos sentisse culpa se ela saísse derrotada na arena. Ao fundo, "Por toda a minha vida" (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes), na voz da Elis Regina. E de vez em quando ela olha na direção em que El Niño está sentado. Sem hesitar por um instante. Sem sentir medo. Sem se alterar.
Difícil ser mais dramático. Impossível ser mais mulher...

 

Lay-out por Davi Ferreira