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~ quinta-feira, outubro 10, 2002
 
Não convém

Eu tento dispensar todas as emoções que não me convêm, ele me disse, antes de levantar e ir embora. Eu quis falar muito mais, tudo o que estava entalado na minha garganta há algum tempo, mais do que eu já tinha dito a ele poucos minutos antes. Mas ele não deu tempo, simplesmente saiu.
Nos conhecemos uns meses antes daquele dia. Afinidade imediata: gostos, lugares, comidas, livros, discos, filosofia de vida, dúvidas em comum. Costumávamos nos encontrar para andar à toa ou sentar e conversar, e ficávamos horas e horas debatendo os mais diversos assuntos. Era como se pudéssemos falar sobre qualquer coisa, como se entendêssemos um pouco sobre tudo. Só não entrávamos muito em assuntos do coração. Falávamos sobre amigos, família, mas quase nada sobre nossos atuais envolvimentos com o sexo oposto. Uma vez ele chegou a mencionar um telefonema que tinha recebido de uma mulher, mas não nos aprofundamos no assunto e ele nunca mais surgiu. Era uma espécie de pacto silencioso: por mais que nos considerássemos e fôssemos amigos, eu não falava muito sobre homens pra ele nem ele sobre mulheres pra mim. Porque, na verdade, e todo mundo percebia, desde a primeira vez em que nos falamos e vimos pairava no ar uma certa tensão sexual que parecia sempre prestes a se consumar.
E assim um dia o inevitável aconteceu. Não lembro bem como, só sei que quando me dei conta a gente estava se beijando, e como todas as outras afinidades, a química também foi imediata e fluiu como fluíam nossas conversas. Durante alguns meses, nos encontramos e nos falamos como costumávamos fazer. E passamos a nos encontrar mais e mais. Eu adorava o jeito como ele sorria ao me ver, como me olhava com atenção enquanto eu falava, sua reação sempre quase teatral, mas de um jeito bom, às coisas que eu dizia. Aquele sorriso aberto era mais bonito que as músicas que ele botava pra eu ouvir, que os presentes que ele me deu, que qualquer coisa que ele dissesse.
Até que ele falou que precisava conversar. E que não podia continuar com aquilo. Aquilo o quê?, eu quis saber. Os nossos encontros. O que nós dois tínhamos nos tornado. Eu era muito emotiva e ele nunca ia poder me dar o que eu precisava e merecia. Eu não sabia o que queria da vida, e ele muito menos.
Não adiantou tentar dizer que se estava bem assim pra que mudar ou perguntar qual era o problema em se envolver comigo. Ele não quis ouvir, já estava com tudo definido na cabeça. Você não pode negar que está envolvido, eu ainda tive tempo de falar. Eu tento dispensar todas as emoções que não me convêm, foi a frase que ecoou naquela sala e no meu pensamento por algum tempo.
Os dias que se seguiram foram um pouco difíceis, mas descobri que sempre sofro mais por antecipação. Pra mim, o medo de perder é pior do que a perda em si. Enquanto pensava em como ia fazer para me adaptar, sem perceber eu já estava me adaptando. A vida passa muito rápido, se a gente complicar só pensa em aproveitar quando já é tarde. E eu tento viver a minha da melhor maneira possível. O tempo todo. Por isso quando eu e ele nos encontramos de novo, eu nem de longe lembrava a figura triste que ele tinha deixado na sala do meu apartamento sem olhar pra trás. Cumprimentei-o com educação e ele, surpreso e visivelmente transtornado, veio falar comigo. Conversamos sobre amenidades. Depois fui embora, que uns amigos me esperavam.
Alguns dias depois, ele interfonou. Precisava me ver, me disse, e subiu. Vir até aqui não foi fácil, disse. Mas eu até que fiz por prazer. Ele precisava me falar tudo em que tinha pensado nos últimos tempos. Precisava me explicar o que tinha acontecido. Já tinha se passado algum tempo e ele tinha pensado bastante em nós dois. Ele estava com medo, estava muito confuso quando tudo aconteceu. E eu estava certa: ele tinha mesmo se envolvido. Mas não sabia o que fazer com aquilo. Por isso foi embora. Por isso não quis ouvir. Por isso sumiu da minha vida. E agora ele estava certo de que queria pagar pra ver, queria tentar ser feliz comigo do jeito que fosse.
Mas a vida passa rápido, eu disse a ele. Muito rápido. O tempo vai engolindo a gente. E é por isso que eu tento aproveitar o máximo que puder. E não dispenso nenhuma emoção, quando vem. Porque deixar pra depois pode ser tarde demais. Como agora.

 

Lay-out por Davi Ferreira