Platônico
Quando eu chego você não contém a cara de espanto e dessa vez o amigo que você pensou ser algo mais mas não era não está do meu lado. Eu passo por você e pego alguma coisa pra beber.
Na pista as luzes apagam e acendem enquanto você faz o caminho mais longo e passa quase esbarrando em mim, mas passa. O outro ambiente é ainda mais escuro e dessa vez sou eu que invento uma desculpa qualquer pra passar por você, que conversa, ri e fuma com os amigos fingindo que é por acaso que o seu olhar vem para na minha direção.
É claro que eu acredito em coincidências e é por uma delas que eu e você resolvemos sair dali ao mesmo tempo, e por isso vamos na mesma direção. Mas parece que sempre tem que acontecer alguma coisa e eu acabo me desviando do caminho pra um outro ambiente e mais uma vez nós nos perdemos de vista. O lugar não é tão grande e inevitavelmente nós ainda vamos nos encontrar de novo essa noite.
Não demora muito e eu pego outro drinque, algumas noites são impossíveis sem beber, e quando eu sento logo você se senta também um pouco perto, e eu penso que finalmente você vai se aproximar e dizer alguma coisa, mas difícil saber o que se passa na cabeça de alguns homens, e você fica parado, estático, até algum amigo sentar do seu lado e eu decidir que cansei de esperar.
A noite toda essa troca de olhares vai continuar e eu vou me sentir uma donzela vitoriana mais uma vez quando você sentar ao meu lado e da minha amiga e não fizer nada além de me dirigir alguns olhares fugidios. É claro que eu vou cansar, e vou com ela pra pista dançar uma música que eu gosto, e você vai pra perto conversar com os amigos, vai pisar no pé dela, e ainda não assim não vai fazer nada além de rir meio tímido pra gente e pedir desculpas. Eu vou cansar de você tanto só me olhar e vou embora pensando que nós dois podíamos estar indo juntos pro meu apartamento, que por sinal não fica muito longe dali.