Primeiro amor
O que ela não sabe é que aquele sorriso me trouxe de volta a vida. Eu, que há anos vivia uma vida repetitiva, senti o mundo desabando em cima de mim quando conheci aquela mulher, e, soterrado sob a sua presença, não tive escolha a não ser me levantar e seguir um novo caminho com ela, não importando o que fossem pensar. E gostei.
Claro que tive que passar por cima de muitas coisas para finalmente assumi-la. As ex-mulheres e os filhos não me entendem. Acham que ela quer o meu dinheiro. Ora, ela não é besta, claro que gosta do que é bom, e isso não é pecado: é inteligência.
Uma mulher cheia de vida, e é por isso que com ela eu me sinto mais jovem. Claro que as roupas que ela escolheu comigo ajudam, a tinta no cabelo também, os óculos escuros, mas não é só isso: é toda a alegria que eu tinha esquecido e essa mulher trouxe pra mim.
Não importa se eu falo de lugares e coisas que ela não conhece: eu posso ensinar, eu posso mostrar pra ela. E quando ela não quiser, eu também posso ouvi-la falar sobre o que interessa a ela, e eu não canso de ouvir aquela voz meio grave que quando eu ouvi pela primeira vez fiz piada e que hoje é pra mim a mais linda de todas.
E eles, que me julgam, talvez nunca tenham se apaixonado de verdade. Coração é terra onde ninguém pisa, já dizia o meu pai. É como se tudo isso que eu sinto fosse novo. E é. Porque o primeiro amor não é outra coisa senão o último.