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~ segunda-feira, setembro 30, 2002
 
Bom até debaixo d’água


A chuva que caía no Rio de Janeiro na terça, dia 24, era de desanimar qualquer um. Quem mora na cidade sabe o caos que isso aqui se torna quando chove. O suficiente para desistir das sessões para imprensa de filmes do Festival de Cinema do Rio, por exemplo. Mas quando uma amiga avisou por telefone que ia ter showcase do Wado no Árabe da Gávea, o jeito foi me munir de casaco e guarda-chuva e me aventurar até o outro lado da cidade.
O trânsito estava tão engarrafado que o próprio cantor chegou atrasado (o show estava marcado para as 20h). E eu, mais ainda. Com um telefonema no meio do caminho, para um amigo que estava lá, fiquei sabendo que já tinha começado: do outro lado da linha, eu ouvia “Fafá”. A vontade era não desligar, já que à minha frente eu só via carros parados. Quando finalmente pus os pés no local, já tinham se passado uns vinte minutos de show.
A essa altura você deve estar se perguntando quem é Wado. Provavelmente nunca ouviu falar dele, ou ouviu falar por alto – o que prova que o mercado fonográfico no Brasil pode ser muito injusto.
Wado, ou Oswaldo Schlickmann, é jornalista, desenhista, produtor, arranjador, e principalmente cantor e compositor. Catarinense de nascimento e alagoano de coração, tem algumas fitas demo e um disco no currículo (O manifesto da arte periférica, lançado pela Dubas em 2001 e com excelente recepção pela crítica) e prepara-se para lançar outro álbum.
Apesar de praticamente desconhecido do grande público, Wado é, sem dúvida, um dos grandes talentos da música brasileira feita atualmente. Sua música tem influências como Jorge Ben, Tropicália, Arnaldo Antunes e o movimento mangue bit, mas nem por isso se torna óbvia e repetitiva ou deixa de ser criativa. Ao lado de nomes como Sonic Júnior e Mopho, ele mostra que o país só tem a perder enquanto não prestar mais atenção no que tem sido feito em Alagoas.
O caso de Wado nos deixa ver como as coisas são (mais) difíceis para quem está fora do eixo Rio-São Paulo. Sua banda é formada por Alvinho (guitarra), Júnior Bocão (do Mopho, no baixo, no lugar de Glauber, que acaba de deixar a banda), Juquinha (flauta transversal e zampônia, aquela flauta andina, do deus Pã), Theo (bateria) e Otávio (percussão e groove box). Porém, quando viaja para São Paulo (onde vai passar agora uma temporada de pelo menos um mês), ele e Alvinho se apresentam somente com o baterista Thiago Nistal e o baixista André Corrad (ambos do extinto Oito, de SP). E os dois shows no Rio de Janeiro foram mais minimalistas ainda: somente Wado e Alvinho nos violões.
E o show só confirma que alguns dos melhores compositores da atualidade estão no Nordeste. Ao chegar, esbaforida, fui logo bem-recebida: mal adentrei o lugar e Wado e Alvinho mandaram “Beijou você” (de autoria deles dois), meu hit pessoal do primeiro disco. Na seqüência, “A gaiola do som” (parceria de Wado, Alvinho, Juquinha e Júnior Bahia), “Poema de Maria Rosa” (Alvinho), "Santa Clara clareou", de Jorge Ben (lembrando a música cantada por crianças para espantar a chuva), “Poço sem fundo” (Júnior Almeida), “Diluidor” (de Wado e Juninho, do primeiro disco) e “Cenas de um filme inglês” (Jaguaribe Carne, banda extinta da Paraíba). À exceção da vinheta e de “Diluidor” (que está no Manifesto), todas fazem parte do trabalho novo.
No intervalo, Wado aproveita para contar que o disco Cinema auditivo, que sai pelo selo paulista Outros Discos (de Maurício Bussab, do grupo Bojo), tem lançado marcado para o dia 12 de outubro na Loud, no Rio e dia 23 no Blen Blen, em São Paulo. O disco foi todo gravado no quarto de Wado e tem requintes com violoncelo e flauta. “O nome é Cinema auditivo porque tenta remeter a imagens através do som”, explica o cantor. “Imagens, texturas, sombras”, diz, lembrando, com modéstia, que outros artistas, como o Cinematic Orchestra e Naná Vasconcelos, já trabalharam com esse conceito.
Depois da pausa, mais pérolas: “Música pra divertir”, “Ontem eu sambei” (Fabio Trummer, do grupo pernambucano Eddie, também compositor de “Quando a maré encher”, gravada pela Nação Zumbi e por Cássia Eller), “A coisa mais linda do mundo” (Alvinho), “A linha que cerca o mar” (Wado/Glauber, saiu na coletânea da revista Frente), de novo “Cenas de um filme inglês” e “Uma raiz, uma flor” (Wado, Alvinhos e Georges Bourdoukan). O público pediu bis com entusiasmo e ganhou de presente “Tarja Preta” (Wado)/“Fafá” (Adriano Siri, do Santo Samba), essa pra quem tinha perdido, e “Poema de Maria Rosa”.
Quem estava ali saiu com a certeza de que encarar a chuva tinha valido a pena. E enquanto não sai o disco novo e os shows do Wado ainda são escassos, o jeito é ouvir as músicas do primeiro disco (elas estão todas disponíveis para baixar no site do cantor) e aguardar. Ansiosamente.

_______
* A editora não quis publicar, então botei aqui. Hmpf.
 
quais são as cores
e as coisas pra te prender
eu tive um sonho ruim
e acordei chorando
por isso eu te liguei

será que você ainda pensa em mim
será que você ainda pensa

("Quase um segundo" – Herbert Vianna)
~ sábado, setembro 28, 2002
 
O que se passa na sua cabeça durante os silêncios? Quantos segredos se escondem nas palavras que você não me diz? Será que você gostaria de me dizer outras coisas enquanto fala quase que ininterruptamente, como eu?
~ sexta-feira, setembro 27, 2002
 
Aquele dia você escreveu umas bobagens num guardanapo. Não consigo jogar fora.
 
Tu ressembles parfois à ces beaux horizons
Qu' allument les soleils des brumeuses saisons...


"Ciel brouillé" – Baudelaire
(prefiro não me arriscar a traduzir)
 
Não é a insônia. É você que não me deixa dormir. Aliás: a sua ausência. Se você estivesse aqui, eu poderia dormir tranqüila. Ou pelo menos teria um bom motivo pra ficar acordada.
 
Todos devem acreditar em alguma coisa. Eu acredito que vou tomar outro drink.

W.C. Fields
~ quinta-feira, setembro 26, 2002
 
my funny ballantine's.
~ quarta-feira, setembro 25, 2002
 
Não consigo parar de ouvir essa música.
 
Tudo o que espero é ser feliz então
é pegar na tua mão
é dormir com perfeição
acordar e os pés no chão
bem longe da solidão


("Poema de Maria Rosa", do disco novo do Wado, Cinema auditivo)
~ terça-feira, setembro 24, 2002
 
Apenas um telefonema numa tarde chuvosa

Você foi embora aos poucos. Saiu levando meus sonhos, deixando pra trás as minhas lágrimas, as palavras presas na garganta cansada de tanto falar e alguns objetos de aparente pouca importância. Durante um tempo, encontrar cada um deles era como morrer um pouco. Parece exagerado, mas eu ainda lembro da dor de perder um grande amor, ela é física e dói como se nunca mais fosse parar, e não existe remédio que alivie, nenhum além do tempo.
Você me pergunta sobre aquela foto que me deu há muito tempo e eu tenho medo de você me dizer que vai querer de volta. Não, eu não devolveria, mas me dói um pouco pensar que você possa querer levar também minhas lembranças. Como se tudo o que a gente foi não fizesse falta pra você. Como se pudesse não ter existido.
Já faz algum tempo que a gente não se fala e um dia eu chego em casa e tem esse seu recado na secretária. Eu ouço e penso em ouvir de novo, mas desisto achando que seria meio obsessivo. Eu gostaria de perceber o que se esconde por trás da sua entonação, das palavras – foram escolhidas com cuidado ou ditas distraidamente?
De repente parei pra pensar que talvez eu não signifique na sua vida o que você significa na minha e que eu achava que significava na sua também. E agora tenho medo de ser cada vez mais dispensável na sua história, uma lembrança vaga, como se fosse um filme a que você assistiu há muito tempo.
Porque eu queria que você sentisse como eu sinto. Que pequenas coisas minhas te fizessem sorrir como eu sorrio quando lembro de você. Que você quisesse que eu estivesse contigo quando você ficasse doente. Que você tivesse saudade de como eu era pra você e não posso ser mais. Que te doessem às vezes os nossos planos que nunca se realizaram. Que você chorasse quando pensasse que os filhos que eu vou ter não vão ser seus. Mesmo que só no escuro. Mesmo que só um pouquinho.
~ sexta-feira, setembro 20, 2002
 
Distraído

Frio, noite. Você me viu, não posso mais fugir. Você sorri. Eu não quero mais fugir. Eu quero ficar e te dizer tudo o que eu guardei e tinha esquecido, mas agora que estou aqui com você eu lembrei, e é tão bonito, e bonito é você, você que não sabe ou não quer saber o que eu sinto. Eu não quero mais ir embora, eu quero ficar, aqui ou em qualquer lugar com você.
Com você eu não tenho vontade de jogar. Não que eu saiba, mas com você eu sequer penso nisso. Sou toda risos, olhares atentos e tentativas de ser engraçada. Sempre. É bom porque você também ri, e isso já é alguma coisa. E também é o meu jeito de esconder o que se passa aqui dentro, o pensamento mais rápido do que posso agir ou mesmo entender, como sempre, a confusão entre razão e sentimentos que eu não consigo negar nem esconder que sou. Mas tento.
Eu gostaria de, num arroubo de coragem ou otimismo, arriscar te dizer de um jeito ou de outro o que eu penso todas as vezes que te encontro ou ouço falar em você. Te dizer que hoje eu vi aquela bebida que você gosta e lembrei de você. Que inúmeras outras vezes eu me lembro de você. Que, na verdade, raro mesmo é te esquecer.
E você, homem de sorriso encantador, você que para ser meu não precisaria nem deveria mudar nada desse jeito que é o jeito mais legal do mundo, que é magro e alto e gosta de falar, que tem a voz bonita e gosta de olhar livros, que presta atenção no que eu digo e quase sempre concorda, onde anda com a cabeça que não percebe que por trás de cada gesto ou palavra pra você existem muitas outras intenções?
~ quinta-feira, setembro 19, 2002
 
Reproduzo aqui o texto da musa do jornaleiro do Lido e do garçom do substituto do pub:

promoção

em parceria com o #palhacos do mirc e com o ballroom, lançamos aqui a promoção uma noite no picadeiro, em que você, leitor, poderá concorrer a uma agradabilíssima festinha entre os elementos-chave do novo movimento circense-literário que é a última moda em paracambi.

os intelectuais do circo orlando orfei, como vêm sendo chamados pela mídia (media), são descendentes diretos da linhagem que ocupava as mesas do hotel algonquin na década de 20. diferentes apenas em que leram pouco, escreveram menos ainda e, no extremo oposto do ritmo frenético de seus originais da era do jazz, não comem ninguém. e você vai poder curtir tudo isso de perto, bastando escrever pra kamille ou pra mim. responda quem foi dorothy parker e você ganha um ingresso pro ballruim na sexta. as melhores respostas ganham. a gente te entrega o ingresso na porta da birosca. se você não curtir o show, pelo menos foi de graça e você saiu de casa. melhor que ficar no mirc.


Às moçoilas, cabe lembrar que estarão presentes a melhor palhetada e o feijãozinho mais gostoso do underground carioca.
 
Timming

Você beija a minha boca depois de tanto tempo e sente o meu hálito doce e não entende como agora ele é tão doce se antes não era. Antes ele era frio, você pensa, confuso. Antes ele não te fazia tremer. E agora de repente o seu pensamento parou, e o tempo também parou, e o que está em volta não importa, o telefone que volta a tocar não importa, a hora que avança não importa, o passado não importa, as pessoas que falam e falam não importam. O que importa é o que te faz não pensar e te deixa confuso e mais forte e ao mesmo tempo inseguro, e é por tudo isso que finalmente você se deu conta de que está irremediavelmente apaixonado por mim.
 
Vi no blog da Bea e achei muito útil:

~ quarta-feira, setembro 18, 2002
 
Soninha não estava feliz com o casamento. Quase todo dia o marido saía do trabalho e ia beber com os amigos, chegando sempre tarde em casa. Eles quase não conversavam mais. Transar, muito menos - e quando ele fazia algum gesto demonstrando interesse, ficava irritado se ela estava cansada ou se sentindo mal. Claro que ela estava cansada: era ela quem fazia tudo em casa, eles não tinham empregada. Além de tudo, trabalhava fora, porque uma coisa que ela não tinha era medo de trabalho.
Fazia pouco tempo tinha descoberto que o marido estava tendo um caso. Com a Vanessa, uma vagabunda do trabalho, uma dessas mulheres vulgarzinhas de cabelo pintado de louro com a raiz aparecendo que sempre vão pro trabalho com uma roupa menor do que podem usar (ela não era magra) e que já saíram com mais de metade do escritório. Como é que o Carvalhal tinha caído no papo de um tipinho daqueles? Homem é tudo sem noção mesmo, pensava, triste. E o marido, cada vez mais distante.
Uma tarde, Soninha e Carvalhal foram andar de moto. A moto era uma aquisição recente, mais um dos estranhos hábitos adquiridos por ele com a chegada da "idade do lobo" - as outras eram as roupas de jovem, os tênis, os óculos escuros (ele não percebia que, na verdade, não ficava jovem, e sim ridículo). Ela até que achava legal andar na garupa da moto, embora soubesse que já não estava mais na idade. De repente, a moto derrapou, e os dois caíram no chão. Soninha, que era muito bem-humorada, caiu de bunda e levantou-se rindo da situação. Fez um comentário engraçadinho e viu que Carvalhal não respondia. Quando olhou pro lado, o susto: ele estava desmaiado.
Pegou um táxi e foi para um hospital próximo. Esperou algum tempo, angustiada, e logo o médico veio conversar. Carvalhal estava em coma e ia ser removido para a UTI. Com a queda, tinha batido com a cabeça do chão. Ela não estava acreditando naquilo, há poucos minutos ele estava bem, na moto...
Os meses seguintes foram angustiantes. Só quem já teve alguém querido em coma pode entender. Porque você tenta se preparar para a morte da pessoa, você repete a si mesma que ela vai ficar bem, mas no fundo você acredita que vai ser como nos filmes de Hollywood, que algum milagre vai acontecer e um dia ela vai abrir os olhos e fazer uma piadinha que vai te fazer rir e chorar ao mesmo tempo.
Ainda bem que a filha estava ali do lado dela, sempre. Existem coisas que só se pode compartilhar com uma filha mulher. E é por isso que ele sempre achou que ter uma filha mulher era ao mesmo tempo um pesar e uma alegria. Um pesar porque era triste saber que, por mais que os tempos tivessem mudado, ela iria assistir a alguém que amava incondicionalmente sofrer nas mãos dos homens como ela própria tinha sofrido. E uma alegria porque sabia que tinha uma amiga para a vida toda, alguém com quem dividir o sentimento de solidão que toda mulher tem.
Um dia o telefone tocou, Sônia atendeu e achou que ainda estava dormindo. Só podia estar sonhando. A voz do outro lado disse que era uma enfermeira do hospital onde o senhor Paulo Carvalhal estava internado. Disse que o paciente tinha saído do coma e falado com outra enfermeira, e que depois disso o médico tinha examinado ele e constatado que ele estava bem. Ela pegou o carro. Estava sonhando, pensou. Só podia ser. Chegou no hospital não sabe como, e correu pro quarto onde o Paulo estava, e quando entrou ele estava de olhos abertos, a enfermeira que foi com ela rindo e fazendo comentários, e ele não fez nenhuma piada mas mesmo assim ela riu e chorou ao mesmo tempo, e só depois muito depois foi lembrar de ligar para a filha, a sogra, o cunhado e alguns amigos.
Em pouco tempo, parecia que nada tinha acontecido ao Carvalhal. Fora o lapso de memória (ele não se lembrava do acidente), ele não tinha ficado com seqüelas e já estava de volta à rotina. Mas as coisas não eram mais as mesmas. E isso era bom. Como que por um milagre, Carvalhal era o mesmo, mas era outra pessoa. O Paulo da adolescência de Sônia, aquele por quem ela havia se apaixonado há mais de 20 anos. Um homem dedicado, atencioso, amoroso. Trazia presentes pra ela sem motivo. No fim do mês, o salário ia todo pra mão da mulher. Vamos trocar os móveis, querida, dizia ele. Não chegava mais tarde em casa, bebia só de vez em
quando em reuniões de família, até a tal da Vanessa ele tinha largado.
Soninha trabalhava como secretária num consultório de psicologia. Durante o período do coma de Carvalhal, todos tinham sido muito compreensivos com ela, que às vezes passava tardes no hospital. Aliás, todas: no consultório só trabalhavam mulheres. Umas separadas, outras casadas, as mais novas solteiras, todas sabiam o que significava ser mulher. Por isso todas entenderam muito bem o sofrimento dela desde o acidente, e ficaram muito felizes com a recuperação do marido, e mais felizes ainda com a supreendente mudança que aconteceu na vida do casal. Não cansavam de brincar com a história:

– Em que lugar da cabeça tem que bater pra endireitar o homem, Soninha?

E depois todas riam. Mas no fundo queriam mesmo era que existisse uma solução como essa.
~ terça-feira, setembro 17, 2002
 
Elvis Costello Flashes Cruel Smile To Fans in October

The companion LP to When I Was Cruel features B-sides, rarities and live performances.

By Joe D'Angelo


Elvis Costello
Photo: Jill Furmanovsky



In the late 1970s, Elvis Costello wore a punk snarl to go along with his sharp suits and horn-rimmed glasses. Twenty-five years later, the prolific troubadour has replaced it with something more subtly sinister.

Cruel Smile, a companion LP to Costello's latest studio album, When I Was Cruel, features B-sides, rare cuts and live versions from that album, as well as a handful of fan favorites. Due October 1, the 14-track enhanced CD also includes the video for When I Was Cruel's "45," according to an Island Records spokesperson. Costello selected the tracks himself, most of which were previously unavailable domestically or not at all.

Album highlights include "When I Was Cruel (No. 1)" (No. 2 is found on the studio album), live versions of "15 Petals," "Dust," "Almost Blue" (which originally appeared on 1982's Imperial Bedroom), "Uncomplicated" (the leadoff track from 1986's Blood & Chocolate, captured from the first stop of Costello's world tour in support of When I Was Cruel), and a medley pairing the Costello classic "Watching the Detectives" with his adopted crooner standard "My Funny Valentine," recorded at a Tokyo concert in July.

Nearly six months after he released it, Costello is still touring to support When I Was Cruel, his first studio album since the 1998 collaboration with Burt Bacharach Painted From Memory, and he isn’t planning on slowing until early November. Upon his return from a European jaunt, he'll visit 12 U.S. cities with openers Phantom Planet in tow, perform with the Rolling Stones October 14 in Cleveland, and he'll host a handful of shows with perpetual and exceptional bar band NRBQ toward at the end of the October.

Costello, along with Black Sabbath, the Police and ABBA, is also among the nominees for induction into the Rock and Roll Hall of Fame for his work with his band the Attractions, with whom recorded 10 albums from 1978 to 1994. Voting takes place October 18 (see "ABBA, Clash, Costello, Police Join Sabbath On Rock Hall Ballot").

Cruel Smile track list, according to Island Records:
"Smile" (A-side — New York studio version)
"When I Was Cruel" (No.1 — studio version)
"Almost Blue" (from Sydney, 3rd show, 12/07)
"15 Petals" (from Sydney, 3rd show, 12/07)
"Spooky Girlfriend" (Live at KFOG — w/beatbox)
"Honeyhouse (Cruel No.2)" (Imposter remix)
"Revolution Doll" (Imposter remix)
"Peroxide Side (Blunt Cut)" (Imposter remix)
"Oh Well" (studio version)
"The Imposter vs. the Floodtide (Dust and Petals)" (remix)
"Watching the Detectives/My Funny Valentine" (Tokyo, 05/07)
"Dust" (from Melbourne, 2nd show, 17/07)
"Uncomplicated" (from Tokyo, 1st show 28/06)
"Smile" (B-side — Paris studio version)


Do VH1.COM
~ segunda-feira, setembro 16, 2002
 
Am I vain? Have I shame?
Are my thoughts of a man
Who can call himself sane?
Do I blame, all my pain
On the wickedness
I have arranged?
If I do, bring it down


("Night By Candlelight", a preferida do Afghan Whigs do místico)
~ quinta-feira, setembro 12, 2002
 
Bem legal esse site aqui. Pra quem curte o roque ou não.
 
E a angústia

Não devia ser permitido. Todas essas lembranças. Músicas que me lembrassem você, outras tantas que contassem histórias parecidas com a nossa. Saudade do que não se pode ter mais não devia existir. Porque de repente alguma coisa bate e você se sente como se tivesse um vácuo no peito, e tem, e é uma sensação horrível porque não tem cura, não tem jeito, se você lembra dos bons momentos isso só piora, porque é como se fosse um filme visto há muito tempo, perdido num passado distante, mas ao mesmo tempo você pode sentir como se fosse ontem, como se na sua casa ainda tivesse aquele cheiro que por tanto tempo foi seu, seu riso, suas tantas histórias juntos. O que eu faço pra acabar com essa angústia que surge quando me dou conta de tudo o que significou? Você sabe como eu sou, você me diz. Sei, e, porra, como dói saber. Como te dói conhecer muito bem, como dói ver que em algumas coisas você está parecido comigo, como dói lembrar de como a gente era. Se o amor acaba a saudade devia acabar também. Mas tem dias que parece que não vai acabar nunca.
~ quarta-feira, setembro 11, 2002
 
Quer saber de uma coisa?
Você vem sempre com essa conversa de que eu não devo beber... Que a minha pressão dispara com o álcool, que os escândalos estão se repetindo e que, assim, estou "perdendo oportunidades na vida". E esses cigarros? São eles que vão acabar comigo de vez, não é mesmo? Os brônquios encardidos como pano de chão, certo? E toda essa gordura? Vai entupir minhas veias e meu coração ficar como uma uva passa... confere?
Puxa, você parece conhecer muito bem o que me faz mal.
O que você conhece do que me faz bem?


(Fernando Bonassi)

=
Ou ié.
~ segunda-feira, setembro 09, 2002
 
Engraçado é que eu escrevi esse trechinho no post anterior há alguns dias (esperava escrever mais a partir dele), e ontem resolvi reler um livro do Cacaso, Beijo na boca, que é cheio de poemas curtinhos que misturam amor e humor. Como esse aqui:

HAPPY END

o meu amor e eu
nascemos um para o outro

agora só falta quem nos apresente
 
Se você soubesse
a turbulência que me causa um sorriso seu
seu olhar enquanto fala comigo
você se espantaria
ou correria pros meus braços
agora.
~ sábado, setembro 07, 2002
 
~ sexta-feira, setembro 06, 2002
 
Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

– mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

– palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

– que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

– e um dia me acabarei.


(Cecília Meireles)

=
(obrigada, Mari, por ter me mandado esse poema)
~ quarta-feira, setembro 04, 2002
 
you were a perfect stranger
now you are mine
~ segunda-feira, setembro 02, 2002
 
Vazios

Os porta-retratos estão vazios até hoje. Talvez tenha sido minha maneira inconsciente de marcar a sua ausência aqui fora como ela significava aqui dentro. O painel de fotos também está sem fotos – suas, minhas, ou de quem quer que seja. Eu tirei porque estava cansada delas. Porque ficaram buracos quando tirei as nossas fotos. E também porque a minha vida não seria mais a mesma sem você.
O estranho é que até hoje eu não sei o que é a minha vida sem você. Ela continuou, e eu não estou triste já faz um bom tempo, mas ainda não encontrei as fotos para os porta-retratos e os painéis. E olha que tenho muitas fotos novas, além das antigas, você sabe que eu adoro fotos. Eu não sou mais a mesma, é verdade, mas ainda não sei o que me tornei.
Eu não vi mais o seu painel de fotos ou os seus porta-retratos. Eles se foram com você. Mas posso arriscar dizer que não estão vazios como os meus. Você arrumou eles de novo, assim como arrumou a sua vida. Você cresceu. Foi o que eu senti da última vez que ouvi sua voz e você me contou como estava tudo. Você estava tranqüilo, como fica quando está bem. Cansado, mas feliz. O mesmo, mas outra pessoa.
Às vezes eu fico pensando sobre o que de mim ficou em você. Eu imagino que não sejam buracos em painéis de fotos nem porta-retratos. E também sei que não provoquei raiva a ponto de você jogar fora as cartas e as outras lembranças. Então o que eu me tornei pra você? Um equívoco? Uma lembrança simpática com a qual você não se identifica mais? Ou será que consegui me inscrever de maneira definitiva na sua história, de forma que você não quer nem conseguiria apagar, como você na minha?
A minha casa continua de pernas pro ar, como a minha vida. Como se eu tivesse começado alguma coisa e parado no meio de caminho, e eu realmente parei. Sem saber por onde seguir, eu fui andando a esmo e evitando todos os espelhos que encontrei. E agora eu tenho muito medo de olhar. E de seguir em frente.
Mas você me diz que as coisas vão ficar bem, e eu acredito. Agora só falta acreditar em mim.

 

Lay-out por Davi Ferreira