Distraído
Frio, noite. Você me viu, não posso mais fugir. Você sorri. Eu não quero mais fugir. Eu quero ficar e te dizer tudo o que eu guardei e tinha esquecido, mas agora que estou aqui com você eu lembrei, e é tão bonito, e bonito é você, você que não sabe ou não quer saber o que eu sinto. Eu não quero mais ir embora, eu quero ficar, aqui ou em qualquer lugar com você.
Com você eu não tenho vontade de jogar. Não que eu saiba, mas com você eu sequer penso nisso. Sou toda risos, olhares atentos e tentativas de ser engraçada. Sempre. É bom porque você também ri, e isso já é alguma coisa. E também é o meu jeito de esconder o que se passa aqui dentro, o pensamento mais rápido do que posso agir ou mesmo entender, como sempre, a confusão entre razão e sentimentos que eu não consigo negar nem esconder que sou. Mas tento.
Eu gostaria de, num arroubo de coragem ou otimismo, arriscar te dizer de um jeito ou de outro o que eu penso todas as vezes que te encontro ou ouço falar em você. Te dizer que hoje eu vi aquela bebida que você gosta e lembrei de você. Que inúmeras outras vezes eu me lembro de você. Que, na verdade, raro mesmo é te esquecer.
E você, homem de sorriso encantador, você que para ser meu não precisaria nem deveria mudar nada desse jeito que é o jeito mais legal do mundo, que é magro e alto e gosta de falar, que tem a voz bonita e gosta de olhar livros, que presta atenção no que eu digo e quase sempre concorda, onde anda com a cabeça que não percebe que por trás de cada gesto ou palavra pra você existem muitas outras intenções?