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~ sábado, novembro 30, 2002
 
Tanto desencontro
todo meu encanto

(acordei pensando em você)
 
O texto do Lucas:

Torço pra que cada dia que começa seja o meu último. E que eu esteja doente e falte ao trabalho. Que falte dinheiro pro táxi. Pro ônibus. Pra gasolina. E que não ouça nada muito sentimental numa fm qualquer. Que eu não passe em frente a uma padaria. A um cinema. E que todos os restaurantes em que eu te levava sumam. A empregada vai levar todas as suas roupas pra filha dela. Com a promessa de eu nunca ver essa garota desfilando por aí com aquele seu vestido vermelho. Eu não agüentaria. Eu não tenho sido muito forte. Mas não há como ser forte quando esse apartamento ainda tem a sua cor. O seu cheiro. Eu lembro de você em cada canto de cada cômodo. Ainda vejo seu reflexo no espelho. Eu queria acreditar que você está num lugar onde é possível eu te encontrar. Mas hoje eu nem vou sair de casa. Não quero encontrar com ninguém que seja um pouco parecida com você. Não quero ouvir as palavras que você usava. É... você tinha razão... eu sou um fraco. E eu rezaria a Deus se houvesse paraíso.
 
Entre os seus silêncios
se esconde toda
uma vida nova.
~ sexta-feira, novembro 29, 2002
 
Eu queria te dizer sobre os pensamentos que me vêm nessas noites quentes em casa ou em bares quase decadentes. O meu esforço pra agir com naturalidade quando vejo você. Como eu escolho com cuidado cada palavra que dedico a você. O que sinto quando você nota a minha existência – eu ganho o dia. Os meus ímpetos de telefonar ou mandar emails bêbados de madrugada. Que eu penso na possibilidade de te encontrar cada vez que saio. Que espero o dia em que finalmente você me diga tudo o que sente. Ou me mostre.
Eu juro que queria.
~ quinta-feira, novembro 28, 2002
 
~ segunda-feira, novembro 25, 2002
 
Chuva

O calor não me deixou dormir direito, e então eu resolvi sair na chuva. É, no Rio às vezes chove mas ainda faz calor. Me dei conta de que fazia muito tempo a última vez que eu tinha tomado um banho de chuva. Naquela época eu tinha medo de extraterrestres, de alguns sonhos e da morte, e ficava olhando pras nuvens e pensando no sentido de tudo, e tentando me reconhecer em mim mesma.
De lá pra cá, o medo da morte permaneceu e continua sendo algo que me angustia, mas pelo menos não tenho mais as nuvens grandes nem o céu tão estrelado pra me fazer pensar nisso. O medo de extraterrestres ficou adormecido em algum canto da mente. O medo dos sonhos ainda existe, mas agora não só quando eles são maus: quando eles são bons e parecem reais são muito mais cruéis. Acordar achando que a vida está melhor causa medos urgentes e angustiantes, principalmente nas noites quentes em que não consigo dormir.
Engraçado é que até a chuva me deu um certo medo. Mesmo pensando tudo bem, depois eu vou tomar um banho, demorei pra ficar à vontade. Pensei em tudo o que eu não consegui. E então me dei conta de que estava muito presa, que o medo da mudança não me deixava aproveitar o que estava por vir, ainda que fossem as gotas caindo sobre mim e a brisa refrescando, enquanto o cheiro de terra e grama molhada tomava conta do ar, me lembrando o tempo em que, ao contrário de agora, eu corria pra chuva.
Um dia eu também tive medo de te perder, e perdi. Achava que não conseguiria, mas tive que. Então vi que o medo de alguma coisa acontecer talvez seja muito pior do que o acontecimento em si. Eu te perdi antes da hora porque tive medo. Nunca mais quero ter medo de amar, nem de o amor acabar (ele sempre acaba), nem de me molhar. Não importa se fizer frio depois, fora ou dentro do meu coração. Eu vou correr de braços abertos.
 
Um leitor do blog escreveu me mandando um texto bonito que ele disse ter escrito baseado nos meus. Fiquei muito feliz e queria publicar aqui. Mandei um email pro moço perguntando se ele se importava. Será que ele recebeu? Lucas, se você está me lendo, responda.
~ domingo, novembro 24, 2002
 
Your Wedding, Smog

I remember
Entering you
Entering you

I'm gonna be drunk, so drunk at your wedding (x4)
~ sábado, novembro 23, 2002
 
A vida não é isso, ela me disse. Então o que é?, eu perguntaria, se quisesse estender o assunto. Eu mesma não sei exatamente. Mas acho que é tentar fazer o que me agrada, na medida do possível. E deveria ser mais. Deveria ser não precisar escrever quando não se quer por causa do dinheiro. Já é tudo tão complicado. As coisas que eu gostaria de dizer pra ele, mas simplesmente não dá. Ela, que me olha enviesado pelo que eu ainda não fiz mas vou fazer. Ela sabe que eu vou, e desgosta de mim desde já. Paciência, o ar condicionado é bom e eu gosto dessa música. Dançar me faz bem. Às vezes eu fecho os olhos enquanto danço e canto um pedaço da letra segurando uma lata de cerveja. Que é um pouco cara, mas enquanto o dinheiro dá, tudo bem. Gosto do cheiro de cerveja nos homens que me interessam. E de não suar muito e continuar com o cheiro do perfume. E acordar no dia seguinte, um dia ensolarado, e comer bem, e falar bobagens muito sérias com os amigos. Então pegar um ônibus e me distrair com as diversas paisagens que vão enfeitar o meu caminho. Pensando que a vida devia ser sempre do jeito que eu quero. E então escrever porque sim, e não porque preciso do dinheiro. Escrever porque tenho que.
~ sexta-feira, novembro 22, 2002
 
É pra se apaixonar por mim e ficar amigo do meu amigo, não o contrário, eu quis dizer a ele.
~ quarta-feira, novembro 20, 2002
 
hand holding - you like to be in constant physical contact with your special someone but you don't want to take things too quickly.

holding%20hands><br> <font size=What Sign of Affection Are You?
brought to you by Quizilla
~ segunda-feira, novembro 18, 2002
 
Sem ar

Tem dias em que é quase insuportável sem você. E eu, masoquista, ouço infinitas vezes a última música que me lembra você. O calor já não é nada. Será que você já sentiu angústia parecida? Angústia de paixão eu tive algumas, mas de ausência de amor é tão mais raro, e também mais dolorido. É quase como o medo da morte e do nada depois dela, só que o nada já chegou, e às vezes parece que ele não vai embora nunca e eu vou sufocar de tanta angústia. Eu vou sufocar. Me dá vontade de gritar ou fazer algum gesto desesperado que traga algum aceno seu na minha direção, mas eu sei que vai ser inútil, eu sei, e por alguns instantes é como se eu beirasse a loucura, como se eu fosse capaz de qualquer coisa simplesmente por não conter mais dentro de mim aquilo que não me deixa dormir e que parece que vai tomar contar dos meus dias até o fim, e eu vou ficar vagando sem destino nem motivação enquanto sinto que vou implodir e não sei o que fazer pra evitar.
~ domingo, novembro 17, 2002
 
Eu te amo

E porque eu sou sentimental e todas as coisas me afetam é que não adianta me dizer adeus. Você pode ir embora, que ainda vai estar aqui dentro – cheiros, tato, sentimentos. Tudo o que eu odeio e amo em você. Tudo o que vivemos ou que talvez não tenhamos vivido e eu esteja confundindo porque um dia vi num sonho, e era tão real quanto o que se pode lembrar, o que essas fotos espalhadas na gaveta podem comprovar.
Não adianta, também, querer se livrar de tudo o que é meu. Ex é uma coisa que não existe, nunca te falaram? Quem foi não deixa de ser. E é por isso que você devia entender o meu amor. Ele não acabou nem vai acabar. Você está aqui, pra sempre, ao lado de outros que foram diferentes mas também são importantes ainda. Sempre vão ser. Como você, eles existem em lembranças e sonhos – já não faz mais diferença pra mim – e no jeito e o rosto de outros que amo ou que ainda vou amar.
Sim, amar. Nem que seja por algumas semanas. Um dia. Um instante. Sem passado, presente ou futuro, porque existe um único tempo no coração. Pelo menos no meu.
~ sábado, novembro 16, 2002
 
Fale com ele

Agora quando vejo um amanhecer lembro de você. Sempre. Eu olho a Lagoa e os carros indo rápido, e penso em você. Eu vejo um amor que acabou mas alguém insiste em não ver, e me dói um pouco saber que todas as coisas um dia acabam, e que já estão fatalmente sentenciadas aquelas que ainda nem começaram.
Dói como telefonemas que existiram só na minha vontade por muito medo, cartas escritas e jamais enviadas e emails não respondidos. Porque você não quer mais ouvir a minha voz, assim como não quer me ver nem saber nada sobre mim. Eu conheci um sorriso que me lembra o teu e me apaixonei, e queria poder te falar isso. Mas eu não posso. Você tem uma vida nova, e eu também, mas na sua não tem espaço pra mim. Nem de longe. Nem em forma de palavras. Nada.

Talvez pelo menos o céu ao amanhecer possa se tornar o meu recado pra você.
~ quinta-feira, novembro 14, 2002
 
Ele virou, me olhou e riu, e eu não sei se era pra mim ou de mim.
 
Desculpa ter ido sem avisar. É que eu não agüentava mais você não me amar. Pela primeira vez, eu fui embora na hora certa, quando vi nos seus olhos agora sempre distantes que não dava mais.
Cabelos no ralo, roupas espalhadas pela casa, louça suja na pia, papéis pela mesa, manchas no lençol: foi tudo o que eu deixei ao ir embora.

Mas nada se compara à bagunça que você fez no meu coração.
~ quarta-feira, novembro 13, 2002
 
a gente quase não se vê
eu só queria me lembrar
me dê notícia de você
me deu vontade de voltar


("cadê você" – chico buarque)
~ domingo, novembro 10, 2002
 
Acho que vejo você, e o coração aos sobressaltos. Alívio: não é.

Mas acho que no fundo eu gostaria que fosse.
~ quinta-feira, novembro 07, 2002
 
Muito pouco

Eu seguro a respiração enquanto você deita sobre o meu peito porque não quero que você sinta o meu coração batendo rápido. Preciso me acalmar e isso não me deixa dormir. Você descansa com toda a calma do mundo.
Eu te amo e isso me faz mal. Estou nas suas mãos: não queria. Às vezes você me magoa com as palavras, e eu finjo que tudo bem. Às vezes magoa com os atos, e eu me esforço pra parecer que não me importo tanto. Mas a maior parte do tempo você me mata aos pouquinhos com a sua ausência, e acho que até gosta disso.
Você me tira a paz, estando ou não comigo. A sua simples existência me perturba. Eu te recebo sempre de braços abertos, e tenho raiva de mim mesma por isso. As coisas são do jeito que você quer, e o que você quer é muito pouco pra mim. Por isso eu sofro.
Às vezes acho que gostaria de saber como te esquecer, ou como não me importar. Mas na verdade eu queria mesmo é que você visse o quanto eu sou especial e viesse correndo pros meus braços. Você, que, afinal, nem é tudo isso. Que diz que volta logo e demora muito. Sempre.
~ quarta-feira, novembro 06, 2002
 
Qualquer coisa

Me dá um cigarro?, eu quis dizer. Não, eu não fumo. Quer dizer, só às vezes, quando bebo muito ou fico nervosa. Ou os dois, como no caso. Eu só quis um motivo pra me aproximar de você. Tão fácil. Chegar e fazer o gesto típico do fumante e pedir. Mas não consegui.
Eu poderia falar da música que me lembra você, não a mais óbvia, mas uma de quando você talvez nem notasse que eu existia e eu ficava feliz só de ver você passar. Ou então contar da coincidência de quando falei no seu nome e você apareceu. Ou perguntar como vai a vida. Se você gostou do show. Uma conversa banal. Eu poderia falar sobre qualquer coisa se não fosse essa vergonha que me dá quando eu te vejo.
Não, eu não te amo. Nem poderia: te conheço tão pouco. Tanto que não consigo sequer falar oi. Mas não importa o nome do que eu sinto. Porque me deixa ansiosa, tensa. Me faz esperar você chegar. Me faz querer que você me siga com os olhos e o resto, e você segue. Me faz pensar em quando vou te ver de novo. Me faz demorar mais pra escolher a roupa pensando nisso. Me faz querer um cigarro. Um aceno. Qualquer coisa. Vinda de você.
~ sábado, novembro 02, 2002
 
amo você
amo você
talvez não seja o certo
amo você demais


(Otto, "Dias de janeiro")
~ sexta-feira, novembro 01, 2002
 
Você

As coisas que você me levou não foram poucas. As tardes vendo tv (quase não tenho visto mais). Andar pela cidade que não é minha mas se tornou minha segunda casa. Os planos para o futuro mais próximo e também para o mais distante. Algumas bobagens que se tornavam especiais: pizza em casa, filmes no cinema ou no vídeo, McDonald's e os infinitos pequenos hábitos de nós dois. Me levou também o chão, e as músicas que não posso mais ouvir sem um aperto no coração. Tudo o que eu não posso fazer sem ter você.
O que você me deixou não fica atrás. Sentir o coração bater com força, de alegria ou medo. Saber que alguém que não tem o meu sangue se preocupa comigo desde quando acorda até a hora de dormir – e por vezes durante o sono. Que é capaz de amar em mim o que eu acho sem-graça ou feio. Que existe no mundo pelo menos uma pessoa a quem eu pude confiar os segredos que se pudesse esconderia até de mim mesma. E, principalmente, saber que é possível, sim, existir alguém que alivie de um jeito inexplicável a solidão que é viver nesse mundo.
É por essas e tantas outras coisas que um lugar no meu coração vai ser sempre seu.

 

Lay-out por Davi Ferreira