Qualquer coisa
Me dá um cigarro?, eu quis dizer. Não, eu não fumo. Quer dizer, só às vezes, quando bebo muito ou fico nervosa. Ou os dois, como no caso. Eu só quis um motivo pra me aproximar de você. Tão fácil. Chegar e fazer o gesto típico do fumante e pedir. Mas não consegui.
Eu poderia falar da música que me lembra você, não a mais óbvia, mas uma de quando você talvez nem notasse que eu existia e eu ficava feliz só de ver você passar. Ou então contar da coincidência de quando falei no seu nome e você apareceu. Ou perguntar como vai a vida. Se você gostou do show. Uma conversa banal. Eu poderia falar sobre qualquer coisa se não fosse essa vergonha que me dá quando eu te vejo.
Não, eu não te amo. Nem poderia: te conheço tão pouco. Tanto que não consigo sequer falar oi. Mas não importa o nome do que eu sinto. Porque me deixa ansiosa, tensa. Me faz esperar você chegar. Me faz querer que você me siga com os olhos e o resto, e você segue. Me faz pensar em quando vou te ver de novo. Me faz demorar mais pra escolher a roupa pensando nisso. Me faz querer um cigarro. Um aceno. Qualquer coisa. Vinda de você.