~ quarta-feira, setembro 29, 2004
Na mesa, algumas coisas não mais importantes: lencinhos de papel amassados, um bilhete com palavras borradas, uma xícara quebrada. Você não gostava de coisas quebradas em casa, dizia que atraía coisas ruins. Mas, você sabe, eu tenho muito apego por tudo. Uma roupa que estraga, um objeto que quebra (e é antigo e não vou mais conseguir achar outro igual), um amor que se vai, tudo me faz sofrer. Metáforas às vezes são tão ridículas; quase sempre. Eu colo os pedaços da xícara com super bonder, mas é claro que fica estranho. O bilhete está manchado pelas minhas lágrimas. Leio e releio num moto-contínuo, como se pudesse congelar o tempo no tempo que o amor era eu e você. Vivo boa parte dos dias num outro plano, um tempo imaginário, você ainda sentado no sofá, me dizendo pra jogar fora a xícara. Sem você a casa está cada dia mais submersa na minha bagunça. Não que você fosse arrumado, mas ao menos não era conformado como eu. Sempre tentando colocar as coisas em ordem em suas arrumações milagrosas. Nunca chegava ao fim, acabava apelando para a odiosa caixa de papelão de outros tempos e ficava um pouco desapontado. Prometia um dia dar um jeito naquela sujeira. Os lencinhos de papel me olham pedindo pra você voltar, me pedem pra te ligar e deixar um recado na secretária eletrônica que vai te fazer rir e se apaixonar por mim outra vez. Esperam o dia em que você vai estar na porta e eu vou dizer Fala, e você Opa, e então você vai entrar, e reclamar da xícara quebrada e rir dos papeizinhos amassados...
~ sábado, setembro 25, 2004
Assim começou...
Do sétimo andar
(Los Hermanos)
Fiz aquele anúncio, ninguém viu
pus em quase todo lugar
a foto mais bonita que eu fiz
você olhando pra mim
Alto aqui do sétimo andar
longe eu via você
e a luz desperdiçada de manhã
num copo de café
Deus sabe, o que quis foi te proteger
do perigo maior que é você
e eu sei que parece o que não se diz
no seu caso é o tempo passar
quem fala é o doutor
Parece que foi ontem eu fiz
aquele chá de habu
pra te curar da tosse e do chulé
pra te botar de pé
E foi difícil ter de te levar àquele lugar
como é que hoje se diz?
você não quis ficar
Os poucos que viram você aqui
me disseram que mal você não faz
e se eu numa esquina qualquer te vir
será que você vai fugir?
Se você for, eu vou correr
se for, eu vou...
~ quarta-feira, setembro 22, 2004
Amor incondicional pensei que só encontraria nas mães e nos cachorros. Estava errada. Ele talvez seja a maior expressão disso, mais do que os cachorros ou até do que as mães, porque não ama desse jeito somente seus filhos ou quem o alimenta. Ele é capaz de amar o mundo, no mesmo jeito que ama irrestritamente a música, a quem persegue como nunca vi.
Sempre que pode, lá está: exercícios vocais de um velho CD perdido em casa, repetidos exaustivamente (pra quem ouve, porque ele parace jamais se cansar); receitas para "melhorar a voz", lidas num lugar qualquer ou simplesmente sugeridas por qualquer um. Acredita nos outros, assim como acredita em si mesmo e em seu casamento com a música. Ama-a de um jeito que nem mesmo eu (que, como alguns apaixonados espalhados pelo mundo) tenho trilha sonora para tudo na minha vida, sou capaz de amar, que pra ele a música não é coadjuvante, mas protagonista de seus dias.
E assim passo meus dias, ao mesmo tempo acostumada e espantada com sua capacidade de amar. Não guarda mágoas, é fácil fazê-lo sorrir. Basta muito pouco, algum gesto qualquer, e você tem tudo dele. E quando ele conta que sonhou com você, e que foi um sonho lindo, e que ele ajudava a te fazer mais feliz, você pensa que mágica é a vida, que sorte eu tenho de ter alguém assim. Porque – e disso eu tenho certeza – ele é único. O melhor de todos os seres humanos que já conheci.
~ sexta-feira, setembro 10, 2004
Inexplicável? Me falou da nova paixão, e eu morri de ciúme. Eu ri, enquanto minha amiga falava sobre o ex-namorado. É que ele nunca tinha contado, me explicou. Sempre faço associações muito rápido. Uma coisa leva a outra, que leva a outra e, quando vejo, estou falando sobre alguma coisa que não faz o menor sentido pra quem ouve. Tenho que descrever todo o caminho que meu pensamento percorreu, ou então sequer falar pra pessoa – o que, muitas vezes, é a minha opção. Amores antigos muitas vezes são uma espécie de muleta pra quem tem medo de novas experiências. Sempre presa à figura intocável e idealizada (com o tempo tendemos a lembrar só do lado bom da relação), a pessoa tem a desculpa perfeita pra cada decepção afetiva: tudo bem, não era dele que eu gostava de verdade. Então como explicar o que eu senti quando ele me falou nunca fui tão feliz na minha vida? Não, nunca tive medo de tentar. Me apaixonei. Me dei mal. Tentei de novo. Errei. Insisti. Até chegar perto da paz que tanto procurei. E agora o mundo me acharia louca, com certeza. Quer dizer: a minha amiga não. Mas preferi não falar nada. Guardei pra mim o casamento dele, o filho que sua mulher agora esperava, sua voz ao telefone contando tudo, aquele aperto no meu peito.
~ sábado, setembro 04, 2004
Comunidade do Eu te amo blog no Orkut.
~ sexta-feira, setembro 03, 2004
Matéria minha no Rio Fanzine, do Globo.
~ quinta-feira, setembro 02, 2004
Senti uma dorzinha no peito, uma espécie de pontada contínua, se é que isso existe. Tive vergonha de mim mesma: afinal, depois de tanto tempo. Tentei minimizar: racionalmente não fazia o menor sentido. É escapismo, eu me disse. Também senti culpa e um pouco de vergonha. Aqui estou eu, sempre me sabotando. Não era nada, não era nada. Mas eu senti.
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