Na mesa, algumas coisas não mais importantes: lencinhos de papel amassados, um bilhete com palavras borradas, uma xícara quebrada. Você não gostava de coisas quebradas em casa, dizia que atraía coisas ruins. Mas, você sabe, eu tenho muito apego por tudo. Uma roupa que estraga, um objeto que quebra (e é antigo e não vou mais conseguir achar outro igual), um amor que se vai, tudo me faz sofrer.
Metáforas às vezes são tão ridículas; quase sempre. Eu colo os pedaços da xícara com super bonder, mas é claro que fica estranho. O bilhete está manchado pelas minhas lágrimas. Leio e releio num moto-contínuo, como se pudesse congelar o tempo no tempo que o amor era eu e você. Vivo boa parte dos dias num outro plano, um tempo imaginário, você ainda sentado no sofá, me dizendo pra jogar fora a xícara.
Sem você a casa está cada dia mais submersa na minha bagunça. Não que você fosse arrumado, mas ao menos não era conformado como eu. Sempre tentando colocar as coisas em ordem em suas arrumações milagrosas. Nunca chegava ao fim, acabava apelando para a odiosa caixa de papelão de outros tempos e ficava um pouco desapontado. Prometia um dia dar um jeito naquela sujeira.
Os lencinhos de papel me olham pedindo pra você voltar, me pedem pra te ligar e deixar um recado na secretária eletrônica que vai te fazer rir e se apaixonar por mim outra vez. Esperam o dia em que você vai estar na porta e eu vou dizer Fala, e você Opa, e então você vai entrar, e reclamar da xícara quebrada e rir dos papeizinhos amassados...