~ quinta-feira, maio 22, 2003
uma mensagem em um sonho bom
a lua entrando pela fresta na janela
o desenho numa folha de caderno
lembranças engraçadas sobre nós dois
essas coisas tão singelas
saudade eu tenho, quase sempre
~ quarta-feira, maio 21, 2003
– Oi!
Eu finjo que está tudo bem.
– Oiii! Tá sumida! Tudo bem?
E você finge que não percebe.
– Tudo. O que me conta?
E assim vamos nos afastando.
– Ah, nada demais... Na mesma...
Até que um dia não seja mais que uma lembrança remota.
– Bem, tô indo. Até mais.
Dois estranhos se cumprimentando.
– Tchau, legal te ver.
Nem sombra do que um dia viveram juntos.
~ terça-feira, maio 20, 2003
Eu já falei aqui antes da minha filhinha, a BALA. Maior orgulho. E agora a gente vai fazer um informativo da revista. Ou seja: uma vez por semana, quem se cadastrar vai receber um email com os links pro que rolou durante aquela semana. Quem estiver a fim, é só me mandar um email com o subject BALA.
~ domingo, maio 18, 2003
Pedido
O blogger deu sumiço em vários arquivos meus. Quem lê o blog há um tempo sabe que eu não postei tão pouco assim ano passado. Quem, por acaso, tenha guardado ou publicado alguma coisa minha de 2002, pode me enviar? É que eu não tenho quase nada daqui guardado, quase sempre postei direto.
Obrigada!
:)
Tava ouvindo o disco novo do Los Hermanos, Ventura, na Rádio Uol (graças à Nat, brigada). Eu já tinha ouvido a versão demo que vazou, com 13 músicas, mas pra falar a verdade nem ouvi muitas vezes. Então ainda não tenho uma opinião embasada o suficiente pra escrever uma resenha (em breve vai rolar lá na BALA, feita por mim ou não), mas uma coisa eu já pude notar: como nos dois discos anteriores, minhas músicas preferidas são do Amarante. Não que eu não goste das do Marcelo, gosto também, mas é sempre uma do Amarante que me chama a atenção primeiro. A que bateu de cara (desde a demo) foi essa aqui:
Do sétimo andar
(los hermanos)
fiz aquele anúncio, ninguém viu
pus em quase todo lugar
a foto mais bonita que eu fiz
você olhando pra mim
alto aqui do sétimo andar
longe eu via você
e a luz desperdiçada de manhã
num copo de café
deus sabe, o que quis foi te proteger
do perigo maior que é você
eu sei que parece o que não se diz
o seu caso é o tempo passar
quem fala é o doutor
parece que foi ontem eu fiz
aquele chá de abu
pra te curar da tosse e do chulé
e pra te botar de pé
e foi difícil ter de te levar àquele lugar
como é que hoje se diz?
você não quis ficar
os poucos que viram você aqui
me disseram que mal você não faz
e se eu numa esquina qualquer te ver
será que você vai fugir?
se você for, eu vou correr
se for, eu vou...
Talvez tenha a ver com o que o próprio Amarante disse ao Pedro Alexandre Sanches, da Folha (numa matéria muito boa linkada no site da banda):
"Assumo que tento ser ficcional por inspiração do Camelo, que é minha maior influência. Mas quando tento acabo sendo autobiográfico".
É claro que não basta ser autobiográfico pra ser bom. E também é infinita a lista de autores não-autobiográficos maravilhosos. Mas talvez seja mais fácil "se entregar", "se dar" na hora de se expressar se você for autobiográfico. E como os dois compositores dos Hermanos são novos, e provavelmente ainda têm uma carreira longa pela frente...
Enfim, foi só um pensamento que me ocorreu quando li a matéria. E quando eu falo em ser autobiográfico, não quero dizer ser literal. Se isso fosse a mesma coisa, este blog aqui não faria o menor sentido – ou eu seria a mulher mais volúvel do mundo, hehehe. Por autobiográfico eu chamo o que um autor enxerga, não necessariamente o que ele vive. A forma dele apreender o mundo, o que está em volta.
Faz um tempo eu li uma crônica do João Ubaldo Ribeiro em que ele contava que tinha a mania de imaginar histórias pras pessoas que observava por aí (o ponto de partida era um casal conversando no bar: a menina, triste, João Ubaldo achando que o namorado estava terminando com ela; na verdade, era um cliente – ela era puta – que se recusava a pagar). Também tenho essa mania, acho que muita gente deve ter. E isso é um exemplo do que eu tô tentando dizer aqui.
O que eu faço o tempo todo é inventar histórias, claro. Mas vai ter sempre alguma coisa minha ali, sempre algum elemento que faça ou tenha feito parte da minha história. Uma frase, um comentário, sei lá. Um detalhe bobo que eu tenha observado em alguém ou algum lugar. Coisas do tipo. E as músicas do Amarante me passam isso. Mas, como na crônica do João Ubaldo, pode ser que essa minha história não tenha nada a ver com a realidade.
~ quinta-feira, maio 15, 2003
Os jornais noticiam tudo, menos uma coisa tão banal que ninguém se lembra: a vida.
Rubem Braga
~ sábado, maio 10, 2003
Promete?
Às vezes eu pensava se quando tudo acabasse seríamos amigos como antes. Talvez fosse ingênuo da minha parte, mas eu não queria perder aquilo que era tão especial pra mim: as conversas infinitas, segredos compartilhados, a confiança.
O tempo todo o mais importante parecia ser a amizade. Não que o resto não fosse; mas paixões acabam, assim como surgem, quando menos se espera. E o que fica depois? Perguntas meramente retóricas? Cumprimentos trocados em encontros casuais? Eu não queria que fosse assim.
Por isso eu quis lutar pra ficar alguma coisa depois que o furacão passasse. Eu quis ser capaz de juntar os cacos e recuperar o que eu achava muito especial. Mesmo sem abrir mão do que, naquela época, parecia inevitável – e era mesmo. Mas acho que era tarde demais.
~ quarta-feira, maio 07, 2003
– Às vezes é como se eu fosse amar cada um deles pra sempre... Você acha isso besteira?
– Claro que não, eu penso exatamente igual. Se não tivessem terminado comigo, eu ainda estaria com a minha primeira namorada.
– Ah, eu também sou péssima pra terminar, não consigo.
– Não é que eu não consiga. Eu não quero.
~ terça-feira, maio 06, 2003
Saiu um texto meu no Portal Literal, um site literário muito legal.
Despedida
A visão da Lagoa é a minha segunda paisagem preferida na cidade. Eu penso nisso quando passo por ela de carro mais uma vez. E mais uma vez estamos aqui nós dois, e ela já faz mesmo parte da nossa história.
Lembro da última vez que passamos por aqui, não faz tanto tempo assim. Nós conversávamos e sorríamos. Agora, mal trocamos algumas palavras. Eu seguro o choro, e, se você soubesse, e talvez saiba mas não queira demonstrar, que o meu silêncio é pela nossa paixão que eu vejo morrer... Sem me dar conta eu quis tentar, eu quis me deixar levar pelos seus sonhos, eu quis acreditar que você também queria.
Mas os seus sonhos nunca pretenderam ser nada mais que sonhos e é por isso que eu não tenho mais força para as palavras enquanto o carro segue pelas ruas quase desertas. O silêncio é quase cortante, porque eu sei que essa é a última vez.
Poucas vezes me senti tão sozinha como nessa noite.
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