Já publiquei este poema aqui, mas, enquanto não volto com meus próprios textos, publico ele de novo, de tanto que gosto.
Agradecimentos
Estou em dívida com aqueles
por quem não estou apaixonada.
Devo a eles o alívio de saber
que de outros eles estão mais próximos.
A alegria de não ser
o lobo de seus cordeiros.
A paz vem junto deles, e a liberdade
também, coisas que o amor não sabe dar
ou sustentar por muito tempo.
Eu não os aguardo
correndo da porta para a janela.
Sou paciente como um quadrante solar,
pronta a compreender
aquilo que o amor não compreende,
pronta a perdoar
aquilo que o amor não perdoaria jamais.
De uma carta a um encontro
não se instala uma eternidade,
mas apenas alguns dias comuns, semanas comuns.
Com eles as viagens são bem sucedidas,
os concertos bem escutados,
as catedrais bem visitadas,
as paisagens bem observadas.
E quando terras e oceanos nos separam,
trata-se de oceanos e de terras
bem conhecidos pela geografia.
A estas pessoas devo o fato de viver
num mundo sólido,
num espaço não-lírico e não retórico
dotado de um horizonte real, móvel, como tem que ser.
Ah! eles ignoram com certeza
quantas coisas me trazem em suas mãos vazias.
("Eu não devo nada a essas pessoas"
diria o amor
a esse respeito.)
- Wislawa Szymborska