Sofro com o coração. E o estômago. Não consegui comer, nem chorar. Talvez fosse bom. Quis repousar, mas o mundo como o fazemos tem infinitas obrigações. Manter a calma e me concentrar. Quase impossível, mas o impossível não pode. As obrigações. A felicidade é uma escolha, eu mesmo disse ontem a um amigo. Repeti isso pra mim mesmo: olha a vida como é boa. E isso é a mais pura verdade. Mas de que adianta saber quando o que há é um embrulho no estômago?
De tão boa, a vida, encontra um jeito de salvar quem merece. Pousei meus olhos no olhar dela, e então ela sorriu como ontem, como há muito tempo, como sempre. Quando ninguém olhava, me sussurou: "Gostou da declaração de amor pública?" Ela sabe que sim, mas precisa ouvir. E eu dou a ela o que ela espera de mim: nem mais, nem menos. Como também sabe que eu às vezes tenho ciúme, às vezes me sinto sozinho, mas basta um sorriso dela pra que eu esqueça e tudo seja como ontem, como há muito tempo, como sempre. Como nós merecemos.
FlashesSete anos de pastor Jacó serviaSete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel serrana bela,
Mas não servia ao pai, servia a ela,
Que a ela só por prêmio pertendia.
Os dias na esperança de um só dia
Passava, contentando-se com vê-la:
Porém o pai usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe deu a Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Assim lhe era negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começou a servir outros sete anos,
Dizendo: Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida.
(Luis de Camões)