Mal percebi quando a brisa entrou em minha vida - eu, coração terra revirada por tantas tempestades de areia. Não lembro bem se numa noite luminosa, ou numa tarde mansa de inverno. No cabelo, um despenteado leve, pouco saía do lugar, encostando em meu rosto,
sensação de alívio. Desejei esse abraço calmo por tantas estações sem saber, porque ela sempre estava por ali.
Num abrir e fechar de olhos, quando me dei conta ela já tinha ido. Sua falta se fez sentir abruptamente. Mal me lembro como foi senti-la pela última vez. Levantei o rosto e fechei os olhos sonhando me encontrar com ela mais uma vez (quem sabe assim voltasse para ficar). Mas já não era aquele sopro ao mesmo tempo leve e intenso que eu sentia como meu. Era um vento fraco, sem vontade, quase um suspiro de alívio.
Quando olhei para trás, vi oquanto aquela brisa tinha mudado: grão por grão de areia, fio por fio de cabelo, sorriso no rosto e alma refeita. Eu já era outra. E então, sem aquele abraço manso, me vi outra vez sozinha diante do horizonte. Eu, coração terra revirada por tantas tempestades de areia.