Parte do pensamento se perdeu pra sempre entre novos caminhos familiares e ruas lotadas no carnaval. Isso é fácil quando a mãe é um pouco como todas; os amigos parecem os de todo dia, companheiros de bebedeiras, risos e confissões, e a cidade parece a que sempre foi minha casa. E quando se fica na porta do boteco, que é como tantos outros onde já se esteve, entre garrafas de cerveja bebida do mesmo copo e frases para se esquecer no dia seguinte.
A surpresa é o que não se esquece: nem no dia seguinte, nem no outro, nem no outro, nem em muitos outros. Frustrante é pensar o dia inteiro e na hora gaguejar, mas não deixa de ser bom, também. É o coração dando sinais de vida, mais forte que os resquícios de cicatrizes. Tudo fica mais forte quando se está numa cidade-irmã, e a sensação é de que eu já estive aqui, eu sempre conheci essas pessoas, eu poderia viver outra vida aqui, se fosse duas, num tempo paralelo. A vontade é trazer pra perto as pessoas, o lugar, um certo sorriso. E perto é onde eles estão: do lado de dentro.