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~ segunda-feira, janeiro 03, 2005
 
Tempestade

Todo o tempo em que você esteve aqui, era como se fosse uma eterna viagem a passeio. Fica fácil quando o cenário é o Rio de Janeiro, e eu procurei mostrar a você meus pequenos tesouros particulares. Da lista, faltaram dois ou três lugares: não deu tempo. Também, pra que pressa quando se tinha todo o tempo do mundo?

A cidade continua linda. Docemente melancólica e em tons de cinza com a chuva, esplendorosa com o sol do quase-verão. Vejo os chineses no balé num palco montado na praia, de frente para o Pão-de-Açúcar, e penso: quando na vida eles se apresentaram num lugar tão bonito? Outro dia ainda aproveitei um resto de tarde. Ventava muito e eu não entrei no mar, só molhei os pés, pra agradecer as boas-novas. Juntos pisamos a areia uma única vez, no dia de promessas e comemorações. "Nunca mais vou te fazer sofrer", ecoou entre um abraço e os fogos de artifício. (O que se sabe é que o nunca, como o sempre, é sempre por um triz.) Nas outras vezes, só contemplação, ao longe. "Não gosto da areia", repetia.

Você, que ama e não ama a cidade onde o céu é cinza, que gosta de implicar com sotaque e expressões que agora também são sinistramente seus, você muito bem sabe que às vezes o azul e todos os outros tons tão fortes da cidade iluminada invadem a retina de um jeito que parece até que vão cegar. Mas uma cegueira boa, apesar de egoísta: como se nenhum lugar conseguisse ser tão casa quanto este. Ou pelo menos nenhum além de ruas tranqüilas com lojinhas com nome de vila e de irmã, e padarias que enchem olhos e corações de crianças, ainda que elas que sejam crescidas e que um dia tenham cantado bêbadas sobre um disco da banda preferida num antigo apartamento no Flamengo.

O carro estacionado ao lado do prédio onde fica esse antigo apartamento, onde já nem moram as mesmas pessoas e o gato que tem nome italiano, traz à tona outras lembranças, tão antigas quanto o tempo em que o que se conhecia era pouco mas já havia uma estranha certeza que tentávamos negar. Nada é por acaso? O tempo é outro, o apartamento tem novos donos, a cidade já não é a cidade onde morarão dois que um dia foram pessoas que falavam coisas iguais ao mesmo tempo. A foto com um coração também não é a mesma: o coração foi cortado fora, e tudo faz sentido, já não há outra coisa senão cabeças e pele. Disso não sabiam os que um dia quiseram enfrentar o mundo simplesmente porque era bom demais ser dois e não um. Porque já não tinha como ser outro que não aquele abraço. Porque descobriram que o amor podia ser mais do que pensavam.

As duas cidades agora são apenas duas cidades, como antes de serem algo mais. Não misturam sotaques, não defendem-se e atacam-se carinhosamente, como uma mãe que puxa a orelha do filho: distanciam-se, apenas. Existem em universos paralelos, intocáveis. A noite volta a ser barulhenta, cheia de pessoas, umas conhecidas, outras nem tanto, tantas a conhecer. Noutro tempo foi cansativa, desnecessária, a não ser pela estrela que um dia brilhou só pra eles e agora é só mais uma no meio de infinitas – já não poderia apontá-la. O disco de presente é apenas mais um disco embrulhado em plástico: na pilha, difícil seria diferenciar dos outros. As duas pessoas são apenas duas pessoas que vivem a uns tantos quilômetros uma da outra; outros tantos de si mesmas.

 

Lay-out por Davi Ferreira