Sem ponto final
Acreditava ser a nossa história um conto de amor sem ponto final, como na música. Apenas um travessão, uma pausa – breve ou não – para que um dia, no momento certo, nossos caminhos voltassem a se cruzar. Tinha tanta certeza que não me importava com o tempo. Enquanto isso, vivia as paixões, breves e intensas interjeições. O amor, não: o amor era pra sempre. Paixão rasga, destroça, faz a gente se sentir transbordando, explodindo, mas assim como um dia chegou num susto, passa. Mas o amor seria como uma doença crônica, que nunca te abandona. Nada tão dramático, nada tão espetaculoso: uma dorzinha aguda, sentida todos os dias. Uma ferida em que todo dia se mexesse. Não te deixando esquecer, nunca, que existe alguma coisa ali.
Pois assim me conformava, desde então. Desde conheci o que pra mim, sim, era o amor. Diferente de tudo o que eu sentira até então. Mesmo depois de perder. A dor da distância era sentida todos os dias, em doses homeopáticas, pequenas lembranças de pedaços da minha vida que já não eram só meus: músicas, paisagens, piadas. Ainda que distante, a sua presença adentrava meus piores e melhores momentos, queria que você estivesse ali, pra dividir ou me confortar. Trazia em mim a certeza do reencontro, e não tinha pressa.
Mas agora era difícil explicar aquela paixão que não passava. Um novo caminho, que me afastava mais e mais daquele que eu pensava ser o único possível. Me afastava do pensamento com o qual me acostumara nos últimos anos: de que em algum tempo, em algum lugar, o amor que um dia havíamos vivido voltaria a nos encontrar, como que intocado. Pois agora o que eu via era um outro caminho, cheio de dor, angústia, medo e insegurança, mas também risadas, força e uma vontade incomensurável de lutar junto. Um caminho possível. Com menos certezas, mais tentativas.
Finalmente eu aprendi: não existe um momento certo para um conto de amor.