Distraído, deixava escapar entre os olhos e os dentes o amor que escondia dentro do peito. "Nos apaixonamos por certos olhares e sorrisos", me disseram uma vez. Sempre me lembrava disso em horas como aquela. Buscava curar minha saudade em cabelos despenteados, olhos embriagados de sono, abraços sôfregos. Nunca conheci o medo de amar, mas a melancolia que vinha em certas tardes de domingo pelo medo de perder. Não poderia haver perfeição, alguma coisa havia de acontecer para me despertar daquele sonho. Tudo um ante-clímax, um prenúncio do momento trágico que deixaria marcas no peito de alguém, quem sabe de todos. Deu um certo alívio e até consegui dormir quando ele me disse que se sentia assim também. Disse antes que eu mesma dissesse, então era verdade e não um "eu também" só para me consolar. Parecidos até no medo: alguma esperança, então, poderia se tirar daquilo.