Um segredo
Quantas cartas eu poderia, ainda, te escrever. Tanto o que eu gostaria de contar - não acabaria nunca. Se pudesse, eu te diria tudo o que aconteceu na minha vida até aqui. Eu mudei, e você até imagina, mas não sabe o quanto nem em quê.
Queria te falar sobre todas essas coisas e tantas outras que eu lembraria sem parar pra pensar, distraída, andando por aí. Cada momento não dividido é um momento abortado, existente só num mundo imaginário, o mundo das coisas como eu gostaria que elas pudessem ser. Nesse mundo, nada precisa ter sentido nem coerência, e não existe passado nem futuro: é tudo uma coisa só, presente.
Então eu cantaria pra você a última música que me fez lembrar de nós dois, e choraria um pouquinho, apesar de não ser mais de chorar, porque você foi quem eu escolhi um dia pra contar os segredos que me deixavam com vergonha até de pensar, então me ver chorar mais uma vez por alguma coisa assim à-toa não iria assustar logo você.
Talvez você sentisse ciúme do que se passou nesse tempo; eu também sentiria de você. Mas tentaria entender, porque afinal todas as histórias que aconteceram a cada um serviram como algum aprendizado, e nos trouxeram de maneira tortuosa ao caminho que não sabíamos ainda seguir. E daí se nesse tempo eu conheci algumas pessoas, e se me apaixonei por elas, e você por outras? É bom se apaixonar, você um dia também se apaixonou por mim, lembra? O frio na barriga, o coração apressado, às vezes apertado, é como se fosse uma doença boa - mesmo quando dá errado, mesmo quando dói. Pelo menos nos faz nos sentirmos vivos.
Se eu pudesse, te olharia nos olhos e desejaria que fosse você muito feliz, e você saberia que é verdade. Então eu te abraçaria, e te confessaria que me apaixonei por algumas pessoas, mas amar mesmo, até hoje eu só amei você.