Sobre a saudade
É sempre pior pra quem fica, e você me entenderia, talvez, se tivesse que conviver com as lembranças em bares, janelas, paisagens. É como se faltasse alguma coisa, como se você tivesse sempre estado ali, naquele bar sujo, na lanchonete da esquina, no restaurante descolado, tomando água de coco na praia.
Ainda ouço o barulho da persiana no parapeito da janela - aberta, para o vento entrar - e a sua voz, o sotaque e as expressões engraçadas, você maravilhado com as pequenas bobagens de Copacabana e arredores, deslumbrado com o Rio de Janeiro inteiro.
Triste é lembrar do sorriso sobre a mesa ou o sofá, da ida à praia de Ipanema que nunca aconteceu porque você sempre queria dormir um pouco mais. Dá saudade também dos sebos da Rio Branco que a gente não visitou, do samba na Lapa em que a gente não foi, e quando eu passo por todos esses lugares às vezes imagino como teria sido se tivéssemos ido.
É certo que os romances acabam, mas, como você mesmo um dia disse, o Rio é infinito, e nesse infinito parece que a saudade que eu tenho é grande demais, então o que me resta é suportar a falta que você faz a cada canto dessa cidade, até o dia em que eu possa acordar e ouvir a sua voz adiar mais uma vez a ida à praia de Ipanema.