Enquanto não escrevo nada aqui, posto coisas lindas alheias:
Catavento e Girassol
(letra: Aldir Blanc/música: Guinga)
Meu catavento tem dentro
o que há do lado de fora
do teu girassol
Entre o escancaro e o contido,
eu te pedi sustenido
e você riu bemol
Você só pensa no espaço,
eu exigi duração...
Eu sou um gato de subúrbio
você é litorânea
Quando eu respeito os sinais,
vejo você de patins
vindo na contramão
mas quando ataco de macho
você se faz de capacho
e não quer confusão
Nenhum dos dois se entrega.
Nós não ouvimos conselho:
eu sou você que se vai
no sumidouro do espelho
Eu sou do Engenho de Dentro
e você vive no vento do Arpoador
Eu tenho um jeito arredio
e você é expansiva
– o inseto e a flor
Um torce pra Mia Farrow,
o outro é Woody Allen...
Quando assovio uma seresta
você dança havaiana
Eu vou de tênis e jeans,
encontro você demais
– scarpin, soirée
Quando o pau quebra na esquina,
você ataca de fina
e me ofende em inglês
é fuck you, bate-bronha...
e ninguém mete o bedelho,
você sou eu que me vou
no sumidouro do espelho
A paz é feita no motel
de alma lavada e passada
pra descobrir logo depois
que não serviu pra nada
Nos dias de Carnaval
aumentam os desenganos:
você vai pra Parati
e eu pro Cacique de Ramos
Meu catavento tem dentro
o vento escancarado do Arpoador
Teu girassol tem de fora o escondido
do Engenho de Dentro da flor
Eu sinto muita saudade,
você é contemporânea,
eu penso em tudo quanto faço,
você é tão espontânea
Sei que um depende do outro,
só pra ser diferente,
pra se completar
Sei que um se afasta do outro,
no sufoco, somente pra se aproximar
Cê tem um jeito verde de ser
e eu sou meio vermelho
mas os dois juntos se vão
no sumidouro no espelho