Talvez
Ele está morrendo, ela me disse. Você quer ir lá amanhã?
Estranho esse estado em que as pessoas estão quase morrendo. É quase como se no fundo se esperasse a morte logo, como se a sua chegada fosse um alívio, sei lá. O sofrimento antes dela talvez seja maior do que quando ela de fato acontece.
Não sei lidar com a morte, não sei lidar com finais. Por isso quase nunca sou eu que resolvo quando acaba. Vai ser assim com a minha vida, tem sido assim com quase todo o resto.
Para aqueles que, como eu, não têm certezas religiosas, a morte física é um ponto final definitivo. E me deparar com ela sempre faz questionar meus aborrecimentos, meus pequenos sofrimentos. Enquanto choro por perdas amorosas e incertezas profissionais, pessoas queridas à minha volta choram por algo muito mais definitivo. Então me sinto fútil, pequena, mimada, perto dessas pessoas com seus sofrimentos que podem ser vistos a olho nu.
Talvez eu devesse ir com ela encarar a morte de perto mais uma vez (coisa que deixei de fazer quando criança ainda) pra simplificar um pouco a vida. Tentar aprender a deixar de sofrer por antecipação, não ter medo dos pontos finais. Até porque, em todos os outros casos, eles não precisam ser definitivos. Serão sempre um talvez.