Escrevo cartas que você nunca vai ler. Comecei meio que por acaso: certa vez nós brigamos e contei a um amigo, que me sugeriu escrever. Assim eu me acalmaria e ainda riria de tudo depois que as coisas voltassem ao normal. O fato é que nunca voltaram. Ou talvez estarmos separados é que fosse o normal. Mas as cartas nunca pararam – ou melhor, eu não parei com elas. Escrevo-as e deixo perdidas entre os papéis espalhados pela bagunça que é a minha casa. Normalmente são feias, feitas num papel qualquer, com letra preguiçosa, cheias de rasuras: são rascunhos, afinal.
É engraçado que não se esgotem. Talvez sejam repetitivas, não sei. Falam de sentimentos que tentei demonstrar tantas vezes, de mágoas, de pequenas e grandes lembranças, da falta que faz nós dois juntos. Não me fazem rir e não tenho mais do que me acalmar. Por que ainda as escrevo? Acreditaria eu, secretamente, que chegaria o dia de entregá-las, todas, a você? Sonharia com o dia do reencontro, o dia em que eu finalmente descobriria que o normal não era estarmos separados? Será possível que eu ainda espere que minhas noites de insônia não sejam mais solitárias, mas povoadas pela visão do seu sono tranqüilo?
Você pode não acreditar, mas não tenho essas respostas. Pelo menos não ainda. Sigo tentando não pensar muito, ou pelo menos equilibrar o que penso e o que sinto (mas não sei se consigo). Enquanto isso, escrevo. Apesar disso, escrevo. É minha única certeza. Sempre.