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~ quarta-feira, janeiro 08, 2003
 
Para sempre

– Eu vou te amar para sempre.

A frase ecoou pelo meu pensamento. À nossa volta, pessoas debruçadas para ver os fogos, taças se esbarrando, abraços e beijos sob o céu de Copacabana, bons pensamentos para o próximo ano, momentos que um dia vão se confundir nas lembranças de cada um. Aconteça o que acontecer, ele me disse, olhos nos olhos. Desviei o olhar instintivamente, com a timidez e o pudor de quem acredita na importância de palavras e olhares. Mais do que os seus braços envolvendo com firmeza a minha cintura, mais do que a língua que insistia em invadir a minha boca, sem entanto sofrer muita resistência – e eu nem tentaria culpar o álcool, porque ele nada mais faz do que desnudar desejos que tentamos esconder –, mais do que a respiração arfante que eu percebia no meu ouvido e o corpo inteiro, aquele olhar me incomodava de um jeito que eu não poderia descrever.
Lembrei de alguns anos-novos atrás. Exatamente as mesmas palavras. Olhos nos olhos, o beijo entre afetuoso e lascivo, o abraço de corpo inteiro. Talvez só não estívessemos tão embriagados. E a história, certamente, era muito diferente: era a história de uma vida inteira. Daquela vez, eu não tive pudor em olhar. E pude dizer, contendo as lágrimas, enquanto a chuva insistia em cair: eu também.
Por isso agora relutava em receber aquelas palavras ditas daquele jeito. De lá para cá, algumas histórias, muitas palavras, algumas fortes, outras nem tanto, todas perdidas no tempo. Eu cheguei a acreditar que palavras significassem muito pouco ou nada, por isso duvidei daquele momento, por isso relutei em receber aquele olhar. Mas acho que finalmente compreendi o "para sempre" como deve ser. E agora acredito que, quando ele disse que iria me amar para sempre, olhando fixamente nos meus olhos, estava falando a verdade. Naquele momento, o amor dele era infinito. Como todos os amores um dia foram e serão.

 

Lay-out por Davi Ferreira