Anti-galã
Quando abri os olhos, percebi que ele chamava meu nome baixinho. Era cedo, ainda mais levando-se em conta o uísque e tudo o mais da véspera. Tenho que ir pra casa, ele disse. Enquanto ele ia ao banheiro, fiquei esperando sentada na cama. Quando voltou, sorriu surpreso ao ver que eu o esperava acordada. Não me custava muito; aliás, quase nada. Tínhamos passado a noite e parte do dia juntos, ficar acordada até ele ir, pra mim, era o mínimo. Que mundo estranho é esse em que vivemos que as pessoas se espantam com tão pouco, eu pensei.
Ele me abraçou mais uma vez, como tinha sido durante todo o nosso sono, e foi. Enquanto esperava no corredor, me olhou com carinho, voltou até a porta e me deu um beijo apaixonado. O elevador chegou, ele me olhou mais uma vez lascivamente, e seria essa uma cena clichê de Hollywood se ele não tivesse tropeçado antes de entrar. Eu ainda pude ver seu rosto, meio sem graça, enquanto a porta se fechava, e naquele exato momento eu sorri, com a certeza de quem tinha escolhido o cara certo.