Alguns pensamentos entre Copacabana e a Tijuca
Noite muito quente, ônibus lotado, rostos solitários. Sinto saudade de alguém que eu não tive. As luzes de mercúrio me dão melancolia, e a iluminação de natal mais ainda. O ano passou muito rápido, eu penso. Cada vez passa mais rápido. Eu vejo o tempo me escapulindo pelas mãos e me arrependo de tudo o que não fiz – e vou continuar não fazendo. Queria ser diferente.
Os carros passam rápido demais a essa hora no Aterro e eu me distraio por um instante e vejo a lua crescente entre as árvores. Prédios antigos. O que eu nunca tive. A música que te fazia lembrar de mim me vem à cabeça e isso é ruim, porque é tarde eu não posso te ligar. O relógio marca quatro em ponto e eu queria que fosse mais tarde. Eu tenho medo.
O hotel bonito contrasta com a praça decadente que vem logo adiante, onde, a essa hora, ainda não vi os travestis, provavelmente porque hoje é um dia bom – será que algum não é? Por causa do calor, vários homens sem camisa, e um deles vem do futebol: short sujo, meias compridas levantadas, joelho ralado. As curvas com pressa jogam as pessoas de um lado para o outro. A praça XV me dá muita sensação de déjà vu: será que você sente o mesmo?
As ruas semi-desertas ficam mais solitárias com a iluminação alaranjada: muita melancolia. Até a minha casa ainda vai demorar algum tempo, e eu sinto vontade de chorar. Lembro dos seus telefonemas cada vez mais raros, dos emails nunca mais respondidos, o silêncio que me tortura. O mundo inteiro poderia estar ali e ainda assim eu me sentiria sozinha.