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~ segunda-feira, agosto 26, 2002
 
Enquanto tô aqui de escrava isaura, não tem sobrado muito tempo pra escrever (life intimidates art, Ciça). Mas durante a pesquisa eu achei um texto que resolvi publicar aqui. Um site perguntou a alguns escritores por que eles escreviam, e umas das respostas foi essa:

Eu escrevo porque tenho raiva. Escrevo porque tenho medo. Porque tenho fome. Eu escrevo porque fazer um filme é caro e demorado demais. Eu escrevo porque pra fazer um filme, via de regra, é preciso beijar a mão de canalhas presidentes, canalhas secretários de Estado, canalhas prefeitos... Escrevo porque a mão dos canalhas que beijei tinha gosto de ovo podre. Eu escrevo para burilar minha burrice infinita. Pra não ser vítima da minha própria crueldade. Eu escrevo porque a vida vai ficando cada vez mais enrolada, ao contrário do que meu pai dizia, e assim é como se eu estivesse num trem rápido, com meio corpo pra fora, tentando agarrar os matos do caminho. Eu escrevo porque me acho melhor que os outros... e sofro de vergonha. Escrevo porque de uns tempos pra cá começaram a me dar algum dinheiro por isso. Eu escrevo para humilhar as pessoas que não gosto. Eu escrevo porque pareço ter acesso a mais profundezas trágicas e úmidas do que se fizesse pontes, móveis ou sapatos. Escrevo porque nunca fui bom em esportes, tenho tique no rosto e meu cabelo cresce torto. Eu escrevo porque não tenho útero e não posso ser mãe de nada. Eu escrevo pra um dia poder parar com essa frescura de escrever e viver comigo. Simplesmente. Feliz como uma vaca feliz. Sem texto, sem droga nenhuma.

Fernando Bonassi - Folha de São Paulo, 6/5/98

Bem, achei isso muito legal. Mas eu escrevo porque não tenho escolha.

 

Lay-out por Davi Ferreira