Distante
Quanto tempo é daqui até lá?, me pergunta a amiga. Eu lembro de quando pegava a barca, e a travessia tão linda era uma eternidade. Não sei se mais alguém ali esperava tão ansiosamente a vista caótica do centro da cidade.
Camelôs, música alta, cheiro de fritura, namorados no shopping à beira da baía, carros e muitas pessoas por todos os lados, e o meu coração ficava um pouco mais tranqüilo enquanto eu andava por entre tudo isso.
Dali até o meu destino final eu não demorava muito. Em outros tempos a demora era maior, e parecia que tinha sido outro dia ainda que eu tinha feito aquele trajeto. Eu sentia saudade do barulho do mar, trilha sonora de
muitas noites no andar de cima da casa. Foi ali que eu pus flores de mentira na escada pra você, e também onde eu ouvi "eu não sei mais o que sinto" pela primeira vez.
O novo bairro eu não conhecia ainda muito bem, e toda vez tinha a impressão de descer do ônibus no lugar errado. Às vezes a impressão estava certa, e eu andava um pouco mais entre as ruas escuras, mas não tinha medo. Gostava do movimento, das facilidades, da praia, que não era mais aquela que se podia ouvir do quarto, mas ainda assim estava perto. Mas o melhor mesmo era saber que eu não ia demorar muito pra chegar.
Eu sempre gostei muito da noite, e lá o dia era especialmente triste, porque quase sempre significava ir embora, e eu lembro de mim, em frente à praia, já pensando em quando ia ver outra vez o seu rosto. Eu estava
deixando minha segunda casa.
É muito longe daqui?, ela insiste. Nesse momento, a distância só não é maior que o buraco no meu peito.