A flor
Há dias quase não saio do quarto. Você me disse adeus, e nem pessoalmente foi: o telefone é mais fácil nessas horas. Pelo menos pra quem escolhe ir embora. Pra mim, que não quis acreditar no que escutava, doeu não saber quando vou poder te falar ou olhar de novo.
Você não voltou e algumas lembranças suas ficaram pela casa: a escova de dentes no banheiro, umas poucas roupas pelo quarto, o
Nove estórias do Salinger na página em que você parou na cabeceira, alguns CDs na estante e a flor que você me deu num vaso na janela.
Tenho acordado tarde. Estou desempregada mesmo, e falta ânimo pra procurar trabalho. Vou até a cozinha uma ou duas vezes por dia, e já perdi a conta do tempo em que estou com a mesma roupa. Não tenho tomado banho, mal escovo os dentes. O telefone está na secretária, e na verdade recebi poucos telefonemas nos últimos dias.
Eu olho pra flor na janela e vejo que é o único sinal de vida nesse quarto.