Equívocos
Eu lembro com saudade do tempo em que a gente sentava, e ria e conversava por horas. Eu te falava da confusão que estava a minha vida, e você me aconselhava com esse ar calculado de maturidade. Mas não conseguia esconder o lado menino quando me escutava, atento, falar sobre assuntos que você não conhece bem. Nós estávamos sempre juntos e podíamos ser nós mesmos.
E tudo começou meio que descompromissadamente, você me dizendo que tudo bem, era só não confundir as coisas, e eu acabei concordando. Mas não sei bem como nem por quê as coisas foram se confundindo e eu já não sabia mais o que queria de você nem você o que queria de mim. O que era bom se tornou cansativo. O que era cumplicidade passou a ser um jogo. O que era alívio virou tensão.
E eu, que sempre encontrei em você o ombro que também te oferecia, passei a duvidar de você. A quem pedir conselhos agora? Você era estranho pra mim. Nos dois sentidos do termo. Eu não tinha o que fazer, a não ser ficar parada. Longe de você.
Hoje pouco sabemos um do outro. Seguimos nossas vidas. Nos encontramos e falamos com naturalidade. Conversas curtas e superficiais. Nem de longe lembramos o que éramos no tempo em que ríamos juntos. Não me incomoda mais te ver, mas sinto falta do que a gente foi. Perdi um amigo e isso dói.