Fim de noite
É tarde e o último beijo de boa noite vai ser seu. Durante algum tempo eu acreditei que você tivesse medo de amar, mas era apenas uma desculpa que eu criei para me consolar. Você nunca teve medo do amor. Pelo contrário: sempre o perseguiu e, ao encontrá-lo, mergulhou sem nem fechar os olhos. O que não havia era lugar para mim.
Quisera eu que ao menos o desejo te trouxesse para mim, mas nem mesmo isso. Do contrário, não haveria como evitar o inevitável, porque a razão é sempre derrotada pelo que não se pode conter.
A noite está fria e úmida e eu devia estar na cama há muito tempo. Um bêbado puxa conversa e, entre álcool e cigarros, eu faço comentários esporádicos. Eu gostaria de querer deitar, e se você e o meu sonho estivessem aqui comigo eu poderia dormir sem rezar ou fazer planos para amanhã.
Não deitar pelo sexo, que a essa altura o cansaço já inibe o desejo até mesmo em pensamento. Apenas o abraço, fechar os olhos e sentir e ouvir sua respiração mansa, meu coração levemente apressado sem medo de que você percebesse, e a certeza de que, ao dormir, meu sonho seria bom.