Feliz 2002
A boa do feriado foi o show do Zeca Pagodinho na praia de Copacabana, onde fui com três amigos. Chegamos lá e a surpresa: estava absurdamente cheio. Apesar de ter visto ônibus e mais ônibus lotados de gente que ia pro show (o meu, inclusive), não dava pra ter noção de que era tanta gente assim. Parecia réveillon, como disse o
JP. Só que no réveillon você ainda encontra conhecidos, enquanto lá não encontramos um.
Deu pra perceber que o show que estava rolando não era do Zeca Pagodinho. Como estava muito cheio, nós estávamos meio longe do palco e não deu pra reconhecer quem estava lá. Só dava pra ver pelo telão um cara sentado tocando cavaquinho, então ficamos achando que era o Jorge Aragão. Não devia ser, mas era tão chato quanto. Eu não conhecia nenhuma das músicas e achei todas ruins. Só se salvou a que encerrou o show, aquele belíssimo samba-enredo do Silas de Oliveira que eu não me lembro o nome (o que começa assim: "Vejam / esta maravilha...").
Não demorou muito pra começar o show do Zeca, e, apesar do friozinho (lá pro meio do show começou a chover uma chuva fina), aquele era definitivamente um show pra se assistir bebendo cerveja. E como bem notou o JP, era engraçado ver vários bêbados (Zeca e o público) cantando que largaram a bebida.
Aliás, as letras das músicas do Zeca (grande parte, acho que a maioria, não é composta por ele) são todas variações sobre os mesmos temas: mulher que jogou o nome do cara na macumba, um cara que largou a vida boêmia e se regenerou pela amada, exaltações à patroa, coisas do tipo. É por isso que eu costumo chamar ele de Woody Allen do pagode: são sempre os mesmos temas, mas sempre criativos e sempre fica bom.
O público cantou em uníssono sucessos como "Vai vadiar", "Verdade", "Coração em desalinho" e "Samba para as moças", todos da safra mais recente do cantor. Mas os saudosistas de plantão – se é que tinha algum lá – também ficaram satisfeitos. No meio da apresentação Zeca chamou seu "compadre Almir" para uma participação especial. O compadre, como fomos perceber, era o Almir Guineto, um dos nomes de destaque do pagode em seu surgimento, na década de oitenta (ao lado do próprio Zeca, Bezerra da SIlva e Dona Ivone Lara, entre outros). Cantaram, entre outras, o jongo "Dança do Caxambu" e aquela também conhecida que diz "Tem que lutar / não se abater / Só se entregar / a quem te merecer", e o povo acompanhando.
Os minutos que demoramos até termos certeza se era ou não Almir Guineto se deveram ao fato de que, além de estarmos longe do palco e do telão naquela hora, a voz do pagodeiro era uma coisa do outro mundo, de tão bêbado e rouco que ele estava. Na saída, vimos que havia umas mesinhas estilo do palco e concluímos que tudo contribuiu para o estado em que ele se encontrava. Aliás, notamos que também estavam no palco Beth Carvalho, madrinha artística de Zeca Pagodinho, e um figura que até agora eu não sei quem era, com a voz quase tão bizarra quanto a do Almir Guineto.
Saímos de lá e já caía uma chuvinha. Fiquei pensando em como são legais bons shows na praia, e como isso devia rolar mais vezes. Também fiquei pensando nas letras das músicas, receitas simples de felicidade que eu quero adotar na minha vida. Ah, e o comentário dos meus amigos era de que, com todas as semelhanças com a festa de Ano Novo, o show tinha sido até mais animado que o réveillon deste ano em Copa. Eu não sei, porque não presenciei. Mas, pra quem dizia que eu tinha ficado no ano passado porque não presenciei a festa, ontem resolvi tudo. Pronto: feliz 2002!