Uma das melhores coisas de publicar na internet é o contato com quem lê, a troca. É muito bom receber elogios pelo que eu escrevo, ainda mais quando é de alguém que eu admiro.
Dia desses eu recebi um email inesperado: era do Beto Cupertino, vocalista do
Violins and Oldbooks, uma banda que eu assisti ano passado no Goiânia Noise e que fez um dos melhores shows do festival. Ele disse que tinha lido o blog e gostado. E me mandou uns textos.
Eu já sabia que ele escrevia bem — as letras da banda são dele, e eu tenho o EP deles —, mas dessa vez os textos eram em português, e igualmente lindos. Tipo esse aí embaixo.
Resolvi publicar porque ele não publica em lugar nenhum, e esse é tipo de texto que merece ser dividido. Espero que ele não se importe. Qualquer coisa, eu deleto esse post...
A lágrima é minha voz e diz aquilo que eu não sou mais capaz de dizer. E eu sei que há o sol e o céu azul, que há o amor, em algum lugar, mas já não os procuro de teimosia e cansaço. E eu andei arrastando meu corpo por onde eu pudesse sentir algo, algum cheiro, alguma lembrança que me fizesse sentir ainda seu menino. E o rastro de sangue que deixei não tem cor, é inconcebível, tem a força triste de um grito ignorado, tem a alegria contida de um menino pobre frente ao parque de diversões. Tem a habilidade do cego. Tem a saudade de ser o que não fui capaz de ser quando era a felicidade que pedia.
Mas já não reclamo, acordo sorrindo, pois o que tive e o que ainda quero ter me visita em meus sonhos. E quando me deito, já não rezo, temendo sonhar com deus e não com ela. Em verdade, minha vida diurna é como se fosse um sono, uma espera tediosa. Quando é hora de me deitar, eu tomo banho, penteio o cabelo do jeito que ela gosta, faço a barba, e então me deito feliz, e espero que o sono me beije a consciência e me traga minha menina, do jeito que eu a imagino, flutuando no espaço perfumado que é meu coração, lugar onde agora eu também estou e vivo, e respiro, e a encontro. E a gente dança, às vezes. E a gente ri, às vezes. A gente é como a gente sempre foi e deveria ter sido.