Prioridade
Não se apaixona por mim, foi o que ela disse. Mas não era tão simples assim. Eu sou daquele tipo de homem que as mulheres chamam de bonzinho, que dizem estar procurando — mas por quem nunca se apaixonam. E é claro que eu me apaixonei.
Ela estava sozinha há algum tempo depois de um relacionamento de anos, e dizia que não queria se envolver de novo. E, mesmo que fosse, certamente não seria comigo.
E eu, me achando forte, acreditei que me contentaria com o que ela me dava em sua presença ocasional. Mas de repente isso era pouco. E cada vez foi se tornando menos. Em vez de me sentir bem por estar com uma mulher que não me cobrasse, eu me sentia traído. Eu, que ficava esperando quando ela não aparecia — sem nem ao menos avisar que não ia, pedir desculpas nem pensar, limitando-se a dizer não deu pra aparecer.
O pior é que, quanto menor sua presença física na minha vida, mais aquela mulher ocupava o meu pensamento. Não passava um dia em que eu não sonhasse com nós dois juntos. Ao mesmo tempo, eu tinha medo de assumir uma relação com alguém que me deixava tão inseguro. Eu queria ela, mas o certo é que não devia querer daquele jeito.
O engraçado é que, quando nós nos conhecemos, eu nem vi muita graça nela. Eu estava comprometido na época, ela também, e pra mim ela era apenas uma amiga interessada em mim — inteligente, simpática e atenta ao que eu pensava, mas apenas amiga. Não sei se foi o fim traumático do meu relacionamento, a baixa auto-estima ou a carência afetiva ou tudo isso junto que me fez baixar a guarda e quando eu vi já estava tão envolvido com ela que era tarde demais.
Eu até saía com outras mulheres, nos enormes intervalos entre um encontro e outro. Mas perto dela as outras, todas elas, eram medíocres — nem boas, nem más, apenas insuportavelmente medianas. Pra mim, durante algum tempo, ela foi a única diferente na minha vida.
E eu? Bem, eu era uma prioridade, ela dizia. Uma das mil na vida dela.