Pesadelo
Essa noite eu sonhei que você morria. Você tinha ido a uma casa abandonada com uns amigos e ficava desaparecido por uns dias. A sua mãe ficava preocupada e ia te procurar. Eu não tinha coragem.
Mas aí tinha uma espécie de TV transimitindo o que tava dentro da casa (sinal dos tempos?). E eu começava a ouvir o choro e o lamento baixinho da sua mãe. E, você sabe, a TV tem uma coisa irresístivel que atrai a nossa atenção pra ela quando tá ligada, qualquer que seja o ambiente. E também o ser humano tem algo de mórbido, eu acho. E foi por isso tudo que eu olhei, e te vi morto. Imóvel, como se estivesse dormindo, mas não com aquela calma de criança que você tem quando dorme.
Então eu comecei a chorar. E doía, você não faz idéia de como doía. Não sei se eu te falei, acho que não, mas os meus sonhos em geral são muito reais. Quando sofro, é de verdade. É como se eu vivesse duas vidas, essa aqui e a do sonhos, e muitas vezes é difícil separar uma da outra. Fica difícil saber o que eu fiz exatamente.
Estavam fazendo a sua máscara mortuária (eu li uma matéria sobre isso esses dias) e a sua mãe dizia meu filho, tão lindo, morreu tão lindo, parece que está dormindo. Um espetáculo horrível. Por isso, quando eu acordei, me deparei mais uma vez com a sensação de alívio por ter sido tudo um sonho. E pensei sobre quantas coisas não ditas nem feitas eu iria ter de carregar se você morresse agora.