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~ domingo, abril 14, 2002
 
Juntos

Os livros e os discos e outros gostos em comum impressionam, mas você sabe que isso pra mim não importa. A gente passa horas e horas conversando sobre todas essas coisas que gosta de ver e ouvir junto, e está sempre ensinando coisas novas um para o outro, mas o melhor não é isso. Gostos em comum eu posso ter com os meus amigos, e eu tenho, e você é também um deles. Mas é mais. A gente combina, e não tem nada a ver com isso tudo que eu falei.
O que nos faz combinar são coisas muito mais importantes, intensas e bonitas do que gosto musical, ou literário, ou o que seja. É algo muito mais fundamental. É achar, por alguns momentos, que existe alguém que te entende mesmo quando você não está falando. Quando você simplesmente olha pra pessoa e sorri, ou não sorri, ou nem mesmo olha, e ela te entende, ela está verdadeiramente com você. Intensamente. Assim somos nós dois, simplesmente nós dois, e o silêncio, o momento em que mais compreendemos um ao outro. É quando eu não me sinto sozinha.
São muitas as pressões em cima de um casal. É difícil abstrair da carga que o mundo joga em cima. Quando você escolhe ficar com alguém, tem que abrir mão de muitas coisas. E, quando não abre, fica com medo de magoar o outro (e muitas vezes magoa), sente culpa... E não adianta tentar racionalizar, "eu não fiz nada de errado". É algo que tá muito entranhado na gente. De uma forma que eu não sei se é possível se livrar.
Por isso que, por mais que a gente se ame, a convivência é complicada. E a gente sempre conseguiu. Por muito tempo, a gente conseguiu. Sempre teve quem dissesse que nós dois não tínhamos nada a ver. Mas algumas pessoas percebiam como era rara a ligação que existia entre a gente. Percebiam como a gente combinava.
E o que faz combinar é exatamente o que dói quando você perde.

 

Lay-out por Davi Ferreira