Eu tenho medo de acordar. Porque nos sonhos as coisas acontecem e aqui eu só espero. Fico paralisada. De tanto pensar, eu não faço nada. A minha vida é o lugar do não-dito e do não-feito. Pouca ação e muita reflexão, o tempo todo. Talvez por isso os sonhos sejam tão fortes. Neles eu sinto dor e alegria. E aqui eu fico no limbo dos covardes, dos que pensam mil vezes antes de cada passo e quase não andam.
Eu acho que é tudo culpa do medo, no fim. Ele determina a minha não-ação. Eu tenho medo de errar. De magoar. E de ser magoada. Os mais corajosos não são os que nada temem, mas os que vão em frente, mesmo com medo. E eu não vou em frente. Nem recuo. Eu fico na corda-bamba. Espero o vento decidir se me empurra ou se me deixa ficar ali.
Você me diz que faria tudo diferente, que no meu lugar iria até o fim, recolheria as migalhas. Você entende que eu não quero as migalhas. Mas o que eu quero? Também não sei. Eu quase nunca sei. Acho que tenho medo de saber. Tenho medo de querer e não conseguir. Eu tenho medo.