Intimidade
Claro que é autobiográfico. Eu sou auto-referente, o tempo todo. Isso te assusta? Você se sente invadido, intimidado, exposto? Mas não é só você, são vários juntos num só. Na verdade, sou eu, é o meu olhar que está ali, o meu sentimento. Não posso evitar, desculpa. Não, não é desabafo: eu só preciso de verdade no que eu escrevo, se eu tentar me distanciar pra escrever vai ser uma coisa vazia, falsa. Eu não preciso ser boa, só preciso ser verdadeira. É, PRECISO. Não tem querer aqui. Eu já te disse, disse pra tantas pessoas: essa porra te escolhe. A literatura. Não tem jeito. E aí saem coisas assim, como o que está te perturbando agora. Como assim agora não restam dúvidas? Dúvidas do quê? Mas eu só falei coisas que você está cansado de saber, conversas que a gente teve. Claro, não foi literal, não vou ficar contando minha vida em detalhes por aí. Era só o que eu tava sentindo, uma idéia que me veio naquele dia em que você dormiu aqui depois de muito tempo e nós ficamos conversando sobre outros tempos, sobre as nossas vidas agora (tanta coisa aconteceu enquanto nós não nos vimos nem falamos direito) e sobre como nós continuamos os mesmos de sempre. Tudo muito lindo. Achei bonito, só, e quis escrever sobre a gente. Tantos textos que eternizaram homens efêmeros, por que não fazer um sobre o que, como diz você, vai permanecer na minha vida? Não fica assim, ninguém vai saber sobre quem é. Só você.